Lição 07: Poder sobre as Doenças e Morte

A Secularização da Fé

“E impossível usar a luz elétrica e o telégrafo sem fio, e beneficiar-se das modernas descobertas médicas e cirúrgicas, e ao mesmo tempo acreditar no mundo de (...) milagres do Novo Testamento”.1 Estas palavras não foram ditas por um ateu, mas por um dos mais conceituados teólogos liberais da Alemanha, Rudolf Bultmann (1884-1976).

Bultmann não está sozinho na sua posição. Dezenas de outros teólogos também compartilham de seu pensamento. Recentemente o teólogo liberal Jonh Shely Spong escreveu:

“Partindo do princípio de que não considero Deus um “ser”, não posso também interpretar Jesus como a encarnação desse Deus sobrenatural, nem posso assumir com credibilidade que ele possua poder divino suficiente para fazer coisas tão miraculosas quanto acalmar as águas do mar, expulsar demônios, andar sobre a água ou multiplicar cinco pães para alimentar cinco mil pessoas. Se tivermos que reivindicar a natureza divina desse Jesus, terá que ser sobre outras bases. Milagres da natureza, estou convencido, dizem muito sobre o poder que as pessoas atribuíram a Jesus, mas não dizem nada sobre o que ocorreu literalmente.”

“Não creio que Jesus”, continua Spong, “pudesse ressuscitar os mortos, curar pessoas cuja paralisia já fora diagnosticada pela medicina, restaurar a visão dos cegos de nascença ou daqueles que perderam a visão por outra causa, nem acredito que ele tenha feito literalmente tudo isso. Também não creio que ele fez ouvir alguém surdo e mudo de nascença. Histórias de cura podem ser vistas de diversas formas. Considerá-las sobrenaturais ou milagrosas, em minha opinião, é a possibilidade de menor credibilidade”.2

As obras de Bultmann e Spong procuram provar que milagres não existem. Para entendermos o pensamento desses teólogos liberais será preciso recuarmos no tempo, mais precisamente aos séculos XVII e XVIII. Foi durante esse período da história que a cultura ocidental experimentou o que os filósofos denominam de mudança de paradigma. A visão de mundo aceita até então, era aquela dada pelo catolicismo medieval. As explicações para os fenômenos cosmológicos não eram dadas por físicos e matemáticos, mas pelos teólogos da Escolástica.3

As novas descobertas nos campos da física e da matemática passaram a se contrastar com a cosmovisão católica. Em 1637, o matemático Rene Descartes (1596-1650) lançou a sua famosa obra intitulada: Discurso do Método. Nesse livro, Descartes propunha um novo método de investigação dos fenômenos naturais que fosse muito além do que ele considerava como meras especulações teológicas. Descartes elegeu a dúvida como seu método de investigação. Ele passou a duvidar de tudo e somente aquilo que não admitisse mais dúvida, depois de acurada investigação, deveria ser aceito como verdade absoluta.

Essa nova visão de mundo idealizada por Descartes, também denominada de cartesianismo ou cientificismo, marcou o fim da cosmovisão medieval e o início da Modernidade. Com as descobertas das leis físicas que regem o Universo feitas por Isaac Newton (1642-1727), o paradigma moderno se consolidou. No século XVIII, um movimento cultural europeu denominado de Iluminismo tomou para si como dogma essa nova concepção de mundo. A partir dessa nova visão de mundo, somente o que poderia ser explicado racionalmente, isto é, o que pudesse ser objeto de pesquisa e mensurado empiricamente deveria ser aceito como verdade absoluta. Nada que não passasse pelo crivo da razão podia ser aceito como verdade. Dentro desse contexto as narrativas religiosas ou bíblicas, por não se enquadrarem nesse novo modelo, não deveriam ser tidas como verdades absolutas. Estava aberta a porta para o criticismo bíblico!

Como vimos, essa visão de mundo teve um impacto enorme sobre as igrejas europeias, especialmente as protestantes. Através das academias e seminários teológicos, uma onda de incredulidade varreu as igrejas europeias e posteriormente as americanas. O cristianismo secu- larizado passou a usar a razão para explicar as narrativas bíblicas e não a fé como mostram os Evangelhos. Voltarei a tratar com mais detalhes sobre esse modelo cultural no capítulo 13.

Milagres Existem?

Em seu livro L/m Judeu Marginal, o teólogo John Meier faz uma excelente apologia em favor da ocorrência de milagres nos dias atuais.4 Para Meier há três formas de se conceituar um milagre: 1) um evento incomum, surpreendente ou extraordinário que, em princípio, é perceptível a qualquer observador interessado e imparcial; 2) um evento que não encontra explicação razoável nas habilidades humanas ou em outras forças conhecidas que agem em nosso mundo de tempo e espaço, e 3) um evento resultante de um ato especial de Deus, fazendo o que nenhum poder humano consegue fazer.5

Meier evita o conceito de milagre como sendo um evento que ultrapassa, transgride, viola ou contradiz “as leis da natureza” ou a “lei natural”. Isso ele faz acertadamente para evitar cair no mesmo erro no qual incorreram os teólogos liberais. Como filha legítima do Iluminismo alemão, a teologia liberal também abraçou a ideia de que o Universo era regido por leis naturais fixas e invioláveis. De acordo com essa visão de mundo, um milagre é algo impossível de acontecer porque Deus não iria quebrar leis que Ele próprio criou. Milagres, portanto, não existiriam.

Meier escreve:

“A noção filosófica de que o curso suave da ‘natureza’ é regulado por leis imanentes não encontra paralelo direto na vasta maioria dos livros do AT escritos em hebraico. A partir do primeiro capítulo do Gênesis, o mundo criado emerge do caos e o tempo todo para lá tende a retornar. Somente o poder criativo de Deus, e não as leis ‘naturais’ inerentes às realidades de tempo e espaço, impede que o mundo volte a cair na desordem. Deus dá ou impõe leis às suas criaturas; tais leis não surgem ‘naturalmente’ das criaturas, por causa de sua própria essência.”6

Meier observa ainda que essa concepção de uma “natureza” (phisis) autônoma que governa o universo é uma ideia herdada do platonismo e incorporada posteriormente à teologia cristã. No entanto, observa ele, “mesmo em Filon de Alexandria, que refletia o platonismo grego, a ‘natureza’ é entendida à luz da tradição do AT, ou seja, como ‘criação’, que é feita e governada pela palavra e sabedoria de Deus. A natureza não é uma realidade autossuficiente que funciona de acordo com suas próprias leis inerentes e invioláveis, não uma realidade identificável, em última análise, com o próprio Deus”.7

Foi fundamentado na concepção de mundo mecanicista e não na Bíblia que Rudolf Bultmann e mais recentemente John Sheley Spong construíram suas teologias acerca dos milagres. Com o advento da física quântica e seu princípio da incerteza de Wemer Heisenberg essa concepção de mundo, que vê o universo apenas como uma máquina, vem sendo abandonada pela comunidade científica. As descobertas da física quântica mostram que as leis fixas do universo são válidas para o macrocosmo mas não para o microcosmo do mundo subatômico. Em palavras mais simples, o universo não pode mais ser explicado somente a partir de leis fixas e imutáveis como apregoavam os filósofos do Iluminismo.8 A mesma ciência que armou os teólogos liberais com a física mecanicista agora os desarma com a física quântica. Trocando isso em miúdos — a ciência contemporânea não pode afirmar nem tampouco negar a existência de um milagre. Isso é competência da teologia!

Uma Resposta ao Secularismo

O movimento pentecostal surge em um contexto onde os crentes mais devotos, insatisfeitos com a secularização do cristianismo institucional, buscam novamente o fervor dos primitivos cristãos. Muitos movimentos periféricos passaram a apregoar a necessidade de uma vida mais profunda. Dentre eles se destaca o Movimento Holiness (Santidade) que atingiu as igrejas norte-americanas em torno de 1880.

Foi oriundo desse Movimento de restauração que veio Charles Fox Parham e William J. Saymour. Posteriormente Daniel Berg e Gunnar Vingren, que haviam aderido ao movimento em 1906. Eles trouxeram a mensagem pentecostal para o Brasil. Os milagres vieram juntos.

Milagre no Seringal

Atualmente o pastor José Veras Fontinele pastoreia a igreja Assembleia de Deus na cidade de Piripiri (PI). Ele é um dos poucos herdeiros ainda vivo desse pentecostalismo clássico. Seus cabelos brancos, voz rouca e pele enrugada são sinais físicos de longos anos de dedicação ao ministério pastoral. Na casa dos oitenta anos, o pastor Fontinele, como é conhecido entre os amigos, é um homem que demonstra muita lucidez.

Conheci o pastor Fontinele há mais de vinte anos e desde então aprendi a admirá-lo e respeitá-lo como um dos líderes mais honrados de nosso estado. Homem de caráter e reputação ilibada que sempre procurou viver sem mascaramentos o evangelho de Jesus. Suas poucas palavras, porém carregadas de sabedoria, fizeram com que os seus pares sempre parassem para ouvi-lo.

Pois bem, a história desse pioneiro do pentecostalismo piauiense é marcada por uma série de fatos miraculosos, mas um deles me chamou a atenção — a cura de uma doença incurável que ele havia contraído ainda na sua mocidade. A história me foi passada por um amigo e desde então eu aguardava uma ocasião própria para ouvi-la da sua própria boca.

Certa vez nos encontrávamos em um conclave de pastores em uma das cidades piauienses do sul do estado. Ao vê-lo e cumprimentá-lo expus o meu desejo de ouvir a história que terceiros me haviam repassado. Sem demonstrar enfado ou cansaço, nem tampouco se sentir incomodado, ele narrou o que se segue.

Contou-me que ainda muito jovem e ainda não convertido ao evangelho, adoeceu e quando um médico foi consultado, o diagnóstico não poderia ser mais devastador — ele havia contraído tuberculose. Nessa época, próximo dos anos cinqüenta, observou ele, era constrangedor possuir um “tuberculoso” na família. Mesmo sendo bem jovem, mas não querendo ser um embaraço para a família, ele resolveu então secretamente sair de casa e migrar para a região Norte do país. O estado escolhido foi o Acre, onde iria tentar trabalhar no seringal.

Chegando ao seringal foi morar em uma vila onde a principal cultura era o extrativismo da borracha. Ali chegando, a doença começou a dar sinais mais fortes de sua presença, sendo que alguns sintomas, dentre eles a tosse passou a se manifestar de forma mais aguda. A comunidade ficou ciente da sua doença. Foi então que certa vez, quando ele se encontrava em um comércio local que uma senhora o interpelou: “Fontinele, porque você não faz um voto com Jesus para que ele o cure dessa doença?” E completando, disse: “Quando Ele te curar, então você o recebe como Salvador de sua vida.”

O pastor me informou na seqüência que aquela mulher fazia parte de uma igreja evangélica pentecostal do povoado e que os pentecostais tinham por hábito fazerem três cultos domésticos em suas residências. Foi para participar de uma dessas reuniões que ele fora convidado por aquela simpática senhora. Quando recebeu o convite, o pastor se limitou a pensar com incredulidade como poderia uns pecadores daqueles curarem alguém. Mas não tendo nada a perder, aceitou o convite.

Chegando à residência para onde fora convidado e adentrando no recinto, encontrou algumas pessoas de joelhos e orando em alta voz. A sua presença logo foi percebida pela dona da casa, a mesma que o havia convidado. Interrompendo a reunião, ela informou a razão da presença daquele jovem ã reunião deles. Disse também que Fontinele havia se comprometido que tão logo ficasse bom, serviria ao Senhor Jesus. Demonstrando muita ousadia, confiança e fé, aquela senhora perguntou quantos dos presentes acreditavam que Jesus iria curar o jovem! Todos responderam em uníssono que criam na sua cura.

“Quando aquela mulher orou por mim”, contou-me o veterano pastor, “vi línguas de fogo saindo de sua boca”. Foi então que ele passou a perceber a presença de um ser angélico vestido de branco aproximar-se dele. Aquele varão trazia na mão um vasilhame cheio de azeite quente. Ao tocar-lhe, o ser de branco fez com que ele ficasse reclinado a fim de que o azeite pudesse ser despejado em sua boca. Ao abrir a boca, Fontinele sentiu

o azeite descendo pela sua garganta e à medida que o óleo quente entrava em seu interior ele começou a transpirar por todos os poros!

Quando aquela senhora terminou a oração, ele se sentiu totalmente curado! Com os olhos marejando em lágrimas, o pastor Fontinele contou-me que no dia seguinte todos os sintomas da doença haviam desaparecido. Meio século já se passou desde aquela cura milagrosa e ele continua ainda curado!

Jesus e o Poder sobre as Doenças e a Morte

No Evangelho de Lucas encontramos vários relatos de curas milagrosas e de pessoas sendo ressuscitadas. Não há por parte do evangelista a preocupação de provar que milagres existem. As fontes as quais ele pesquisou e as pessoas as quais consultou detalharam o que ouviram e viram Jesus fazer. Jesus não curava e ressuscitava as pessoas de entre os mortos para provar alguma coisa. Antes ele as curava por ser o filho de Deus.

Missão Messiânica

Lucas parte do princípio de que Jesus é o Messias prometido nas Sagradas Escrituras e que Ele havia sido capacitado pelo Espírito Santo para realizar as obras de Deus (Lc 4.16-18; Is 61.1,2). Mais uma vez a teologia carismática de Lucas fica em destaque. Na cura do paralítico de Cafarnaum, Lucas destaca que “o poder do Senhor estava com ele para curar” (Lc 5.17). O poder do Senhor é um sinônimo para a unção do Espírito Santo (At 10.38). Por outro lado, na ressurreição do filho da viúva de Naim, Lucas observa que o povo exclamou: “Grande profeta se levantou entre nós; e: Deus visitou o seu povo” (Lc 7.16). Não há dúvida de que esse grande profeta é uma referência messiânica encontrada em Deuteronômio: “Suscitar-lhe-ei um profeta do meio de seus irmãos, semelhante a ti, em cuja boca porei as minhas palavras, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar” (Dt 18.15-19).

As curas e milagres de ressurreição de mortos efetuados por Jesus, portanto, faziam parte da sua revelação messiânica e a demonstração da compaixão e do amor de Deus. “E aconteceu, pouco depois, ir ele à cidade chamada Naim, e com ele iam muitos dos seus discípulos e uma grande multidão. E, quando chegou perto da porta da cidade, eis que levavam um defunto, filho único de sua mãe, que era viúva; e com ela ia uma grande multidão da cidade. E, vendo-a, o Senhor moveu-se de íntima compaixão por ela e disse-lhe: Não chores. E, chegando-se, tocou o es- quife (e os que o levavam pararam) e disse: Jovem, eu te digo: Levanta-te. E o defunto assentou-se e começou a falar. E entregou-o à sua mãe. E de todos se apoderou o temor, e glorificavam a Deus, dizendo: Um grande profeta se levantou entre nós, e Deus visitou o seu povo” (Lc 7.11-16).

A Manifestação do Reino de Deus

Os milagres de Jesus na perspectiva lucana devem ser também entendidos como a manifestação da vinda do reino de Deus. Em Lucas, a expressão “Reino de Deus” deve ser entendida como sendo o domínio de Deus (Lc 17.20,21). Ao curar os enfermos e ressuscitar os mortos, Jesus demonstrava que o Reino de Deus havia chegado: “Também os enviou a pregar o reino de Deus e curar os enfermos” (Lc 9.2); “Falava-lhes a respeito do reino de Deus e socorria os que tinham necessidade de cura” (Lc 9.11). No Evangelho de Mateus essa mensagem acerca do reino de Deus, além da cura dos enfermos envolve também a ressurreição dos mortos (Mt 10.8).

E uma verdade bíblica que as doenças e a morte existem por causa da entrada do pecado no mundo. Isso não significa dizer que toda e qualquer doença fosse resultante de um pecado pessoal. Os evangelhos mostram que haviam doenças que poderiam advir como conseqüência de um pecado pessoal, como no caso da cura do paralítico no tanque de Betesda (Jo 5.14, veja também 1 Co 11.27-31). Mas nem todas as enfermidades e doenças estavam necessariamente associadas a algum tipo de pecado ou punição pessoal (Jo 9.1-3). No caso do cego do capítulo nove do Evangelho de João, Jesus afirmou que nem o doente nem seus pais haviam pecado para que ele nascesse cego! Em outras palavras, a lei de causa e efeito do pecado e suas conseqüências não pode ser aplicada aqui para explicar a razão da cegueira daquele homem. O certo é que a sua cegueira existia, não como conseqüência de um pecado pessoal, mas em razão da queda! O relato da cura do paralítico de Cafarnaum é emblemático no evangelho de Lucas (Lc 5.17-26).

“E aconteceu que, em um daqueles dias, estava ensinando, e estavam ali assentados fariseus e doutores da lei que tinham vindo de todas as aldeias da Galileia, e da Judeia, e de Jerusalém. E a virtude do Senhor estava com ele para curar. E eis que uns homens transportaram numa cama um homem que estava paralítico e procuravam fazê-lo entrar e pô-lo diante dele. E, não achando por onde o pudessem levar, por causa da multidão, subiram ao telhado e, por entre as telhas, o baixaram com a cama até ao meio, diante de Jesus. E, vendo-lhes a fé, Jesus disse ao paralítico: Homem, os teus pecados te são perdoados. E os escribas e os fariseus começaram a arrazoar, dizendo: Quem é este que diz blasfêmias? Quem pode perdoar pecados, senão Deus? Jesus, porém, conhecendo os seus pensamentos, respondeu e disse-lhes: Que arrazoais em vosso coração? Qual é mais fácil? Dizer: Os teus pecados te são perdoados, ou dizer: Levanta-te e anda? Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem sobre a terra poder de perdoar pecados (disse ao paralítico), eu te digo: Levanta-te, toma a tua cama e vai para tua casa. E, levantando-se logo diante deles e tomando a cama em que estava deitado, foi para sua casa glorificando a Deus. E todos ficaram maravilhados, e glorificaram a Deus, e ficaram cheios de temor, dizendo: Hoje, vimos prodígios” (Lc 5.17-26).

Antes de tratar do problema físico do paralítico, Jesus primeiramente tratou da sua alma. O texto não nos permite deduzir que esse homem encontrava-se assim em razão de algum pecado pessoal. Mas por outro lado, o contexto não deixa dúvidas de que aquele pobre moribundo, além da doença física também carregava consigo a culpa. De outra forma não teria sentido as palavras que Jesus dirigiu a ele: “Os teus pecados te são perdoados” (Lc 5.23). O seu estado demonstrava que a sua necessidade imediata era de cura e não de perdão, mas o Senhor não o viu assim. Antes resolveu o problema da culpa, dando-lhe uma palavra de perdão e somente depois cuidou também de curar o seu corpo: “Levanta-te, toma a tua cama e vai para tua casa” (Lc 5.23).

A Cura e a Expiação

Esses milagres efetuados por Jesus durante o seu ministério público estavam, sem dúvida alguma, associados à sua missão vicária. Dizendo isso de uma outra forma, o testemunho dos Evangelhos é que Jesus levou sobre si as nossas doenças e enfermidades. Isso significa dizer que a cura faz parte da expiação (Mt 8.16-17). “E, chegada à tarde, trouxe- ram-lhe muitos endemoninhados, e ele, com a sua palavra, expulsou deles os espíritos e curou todos os que estavam enfermos, para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta Isaías, que diz: Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e levou as nossas doenças” (Mt 8.16,17).9

Ao afirmar que a cura faz parte da expiação, não significa dizer que todos serão curados. Da mesma forma, nem todos vão ser salvos embora a salvação também faça parte da expiação. A santidade do crente também foi conquistada na cruz. Ela, portanto, faz parte da expiação, embora nem todos vivam santamente. E paradoxal, mas é bíblico. A doutrina da expiação de Cristo nos dá uma base segura para crermos na salvação da nossa alma e na cura de nosso corpo. Todas as bênçãos de Deus para nós, providas por Cristo, foram possíveis através de seu sacrifício vicário. Não há bênção fora da expiação!

NOTAS
1 BULTMANN, Rudolf. New Testament and Mythology.
1 SPONG, John Sheley. Um Novo Cristianismo Para Um Novo Mundo - a fé além dos dogmas. Verus Editora.
3 Escolástica ou escolasticismo (do latim scholasticus, e este por sua vez do grego oyoXaaTixóç [que pertence à escola, instruído]) foi o método de pensamento crítico dominante no ensino nas universidades medievais europeias de cerca de 1100 a 1500. Não tanto uma filosofia ou uma teologia, como um método de aprendizagem, a escolástica nasceu nas escolas monásticas cristãs, de modo a conciliar a fé cristã com um sistema de pensamento racional, especialmente o da filosofia grega. Colocava uma forte ênfase na dialética para ampliar o conhecimento por inferência e resolver contradições. A obra-prima de Tomás de Aquino, Summa Theologica, é frequentemente vista como exemplo maior da escolástica (Wikipedia).
4 Como já disse em outro capítulo, os livros de Meier são uma excelente fonte de pesquisa histórica sobre como era a vida das primeiras comunidades do mediterrâneo do século I. Todavia Meier demonstra não ter conseguido superar de todo o criticismo bíblico do Iluminismo alemão quando põe em xeque narrativas bíblicas. Meier, por exemplo, acredita que algumas narrativas dos Evangelhos sejam interpolações feitas posteriormente e que algumas palavras atribuídas a Jesus pelos evangelistas não foram de fato ditas por ele. Ele também segue o mito que faz separação entre o “Jesus Histórico” e o “Jesus da Fé”. Além disso, Meier atribui atualmente a Maria, mãe de Jesus, a realização de vários milagres dentro do catolicismo. A Bíblia, ao contrário, só conhece um Jesus, aquele registrado nos Evangelhos, que é o Filho do Deus bendito e que é o único mediador entre Deus e os homens.
5 MEIER, John P. Um Judeu Marginal - Repensando o Jesus Histórico, volume dois, livro três - milagres. Imago Editora.
6 MEIER, John P. Um Judeu Marginal - repensando o Jesus histórico. Op. Cit. Ppl7,18.
1 Idem.
8 Voltaire, por exemplo, via Deus como o supremo artífice, que havia construído o universo físico como uma máquina. Ele cria que Deus após dotar o universo de leis imutáveis para assegurar a sua harmonia, ele o deixou funcionando de acordo com essas leis. A ocorrência de um milagre seria um contrassenso porque faria com que Deus quebrasse essa harmonia.
9 Para um comentário mais aprofundado sobre a cura na expiação, veja o livro de minha autoria Defendendo o Verdadeiro Evangelho (CPAD, 2009).

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