A ORAÇÃO DE JÓ

No Capítulo 42 do livro de Jô, vemos o fechamento de uma história tremenda. Um homem sendo provado, atacado, testado em todas as áreas de sua vida: familiar, econômica, saúde, profissional, etc. Jô perde tudo, até o apoio de sua companheira (capítulo 2), mas não perde a fé que é seu sustentáculo. Ao final do livro, no capítulo supracitado, Jó ora a Deus. Esta oração piedosa, quebrantada de Jó nos ensina:

1. Deus trabalha em nossos corações para molda-los conforme a sua vontade: “Bem sei que tudo podes e que nenhum dos teus planos pode ser frustrado” (v.2). A oração nos revela o peso do coração de Deus. Antes do Senhor mudar as circunstâncias da nossa vida, Ele muda primeiramente nosso vida conforme seus planos. Não são os planos de Deus que são mudados pela oração, são nossas percepções da vontade de Deus. Antes de Jesus acalmar a tempestade que assolava o barco onde estavam os discípulos, Ele primeiramente acalma o coração deles!

2. É pela oração que a intimidade com Deus se aprofunda: “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem” (v.5). Jô já era considerado desde o primeiro capítulo um homem integro e reto e temente a Deus. Todavia, estas qualidades morais não o tornavam íntimo do Senhor. Em meio as adversidades, pela oração, Jô aprofunda sua intimidade com o Deus eterno.

3. Quando buscamos abençoar nossos amigos, Deus nos abençoa igualmente: “Mudou o Senhor a sorte de Jô, quando este orava pelos seus amigos; e o Senhor deu-lhe o dobro de tudo que antes possuía” (v.10). Jô não estava murmurando sua má sorte diante de Deus. Jó não estava amaldiçoando seus amigos que tanto lhe atacaram, acusando até mesmo sua moral. Jó intercedia a Deus para abençoar os que o perseguiam. Deus abençoou e mudou a sorte de Jó fazendo infinitamente mais do que ele poderia imaginar. Assim é que Paulo encerra o capítulo 3 de efésios: “Deus é poderoso para fazer infinitamente mais”.

Rev. Carlos Orlandi

TUDO TEM UM PREÇO

O preguiçoso mete a mão no prato e não quer ter o trabalho de a levar à boca. Proverbios 19:24.

Pedro Lima, amigo de velhos tempos, contou-me que encontrou um camponês – dono de um bom pedaço de terra – sentado, fumando um cigarro de palha e queixando-se de sua terrível situação financeira.

– Aqui dá milho? – perguntou Pedro.

– Dá não, sinhô. – respondeu o camponês, com o seu sotaque típico do interior.

– Dá mandioca?

– Dá não, sinhô.

– Dá soja, feijão, alguma outra coisa?

– Dá não, sinhô.

– Mas você já plantou?

– Plantei não, sinhô.

Pode-se colher algo que não foi plantado? É possível passar a vida lamentando a triste “sorte” e esperando de braços cruzados que o “destino” seja misericordioso com a gente. “O preguiçoso mete a mão no prato”, afirma Salomão. Ele deseja, anseia, quer, sonha e espera, como todo ser humano. Vê o prato das oportunidades ao seu alcance. Contempla como os outros fartam-se com os manjares deliciosos da prosperidade, felicidade e do êxito. Ele até coloca a mão no prato, mas não se dá ao trabalho de levar a comida à boca. Quer que tudo aconteça por acaso.

A sabedoria leva a pessoa a entender que todo sonho tem um preço e que o preço do sonho é o trabalho. Construir um casamento feliz, por exemplo, requer esforço. O caminho mais fácil é o divórcio. Ser aprovado num exame, requer horas de estudo. A desculpa mais simples é dizer que a prova estava muito difícil. Educar filhos moral e emocionalmente sadios requer horas de paciência e dedicação. A saída mais atrativa é achar que providenciando recursos materiais para os filhos, a paternidade foi cumprida. Fazer dinheiro é fruto do trabalho e do domínio próprio. A solução mais cômoda é jogar na loteria.

A figura que Salomão usa para descrever o preguiçoso é engraçada. Mas, usando a ironia, mostra a realidade de muita gente que não está disposta a pagar o preço dos sonhos. Dá trabalho? Sem dúvida! É difícil? Certamente! Mas lembre-se do provérbio: “O preguiçoso mete a mão no prato e não quer ter o trabalho de levar à boca.” 

(extraído)

SEGREDO DE ESTADO

Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão o Pai. Mateus 24:36

A data do Dia D – 6 de junho de 1944 – quando os aliados invadiriam a Normandia, na Segunda Guerra Mundial, era um segredo de Estado conhecido apenas por um pequeno grupo de estrategistas empenhados na derrota de Hitler.

De Gaulle, comandante francês, figurava entre aqueles que souberam antecipadamente em que momento se daria o desembarque. Um de seus mais íntimos auxiliares não conteve a curiosidade e perguntou-lhe quando seria o “Dia D”.

– Você é capaz de guardar segredo? – indagou o comandante?
– Sem dúvida – jurou o subalterno.
– Eu também – encerrou De Gaulle.

Cristo adotou uma atitude semelhante, quando os Seus discípulos Lhe perguntaram: “Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a Israel? Respondeu-lhes: Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou pela Sua exclusiva autoridade” (At 1:6, 7).

Até lá a palavra-chave é: Vigiai



Postado por Carlos Orlandi 

CONTO KONKOMBA

O CONTO: O LEÃO, O LEOPARDO, A PÍTON E O KINTANO

“Vivia em uma mata junto ao rio Molan um Leão idoso e sábio que, como líder dos animais que habitavam a terra, era grandemente respeitado entre todos. Devido aos longos anos de experiência em liderança, desenvolveu uma personalidade paciente, meticulosa, vagarosa, quase beirando a contemplação. Entretanto, era por demais ouvido entre todos quando se levantava pensativamente de sua moita favorita usualmente dizendo: ‘Creio que sei o que deve ser feito!’ Até seus rivais que o criticavam pelo seu jeito pacificador de ser, enxergavam nele uma fonte de sensatez.

Havia apenas um pequeno e quase imperceptível defeito em sua personalidade o qual, por tão pequeno, não era por ninguém visto como erro, mas sim como uma excentricidade, ou ‘até uma virtude’ - diziam muitos: o Leão odiava sujeira! Lama, restos de comida ou uma simples poeira o deixava irritado e descontente. Não chegava a ser, entretanto, suficiente para nenhuma discórdia ou discussão. No máximo um desabono como um balançar de cabeça ou um ligeiro suspiro de indignação.

Descendo o rio, no topo de uma árvore pouco frondosa, morava o Leopardo. Ele era esguio e vivaz. Alegre, contador de piadas e particularmente gostava de narrar engraçadas histórias sobre os habitantes do rio. Sendo o único animal de grande porte naquela parte da floresta era chamado em qualquer emergência e, mesmo sem a ponderação e experiência do leão, promovia soluções fazendo piadas dos problemas e tornando-os menos sérios. Quase nunca usava sua autoridade de mais forte e gostava de andar ao redor toda tarde prometendo aos macacos que eles seriam a sua refeição do dia seguinte se nada melhor aparecesse, o que gerava uma algazarra nas árvores enquanto ele dava boas risadas.

Apesar de amigo e companheiro havia algo que o impedia de ter mais proximidade com outros animais. Ele ficava enraivecido sempre que alguém o fitava. Poderia conversar longamente com todos, desde que ninguém olhasse diretamente em seus olhos, pois ficaria por demais irado e, com um rugido, saía mal-humorado. Mas todos, conhecendo esta particularidade, sabiam como tratá-lo e até brincavam entre si dizendo que ele ficara assim desde que vira sua própria face no espelho de água do rio Molan, e admirou-se de como era feio. Era apenas uma versão entre os macacos que se divertiam com esta história durante as noites. Ninguém, nem mesmo ele, na verdade, sabia o porquê desta irritação ao ser fitado. Conhecendo de antemão o seu temperamento, todos sabiam como tratá-lo e tudo corria bem naquela parte da mata.

Mais distante próximo ao pântano da árvore alta vivia Píton, a cobra. Dentre tantas outras cobras que habitavam aquela área, Píton era a maior, mais forte e mais inteligente dentre elas. Apesar de temida entre todos os animais, Píton não era de tão difícil relacionamento como imaginavam. Era séria, compenetrada e muito desconfiada, sem dúvida. Mas também sempre se mostrava bem disposta a ajudar em momentos de crise. ‘Quando houve a última enchente’- reconhecem todos – ‘Píton foi a primeira a voluntariar-se para ajudar os animais que não conseguiam nadar’. ‘Mas também fala disto até hoje!’- completam os mais críticos. Apesar de não ter a sensatez do Leão e a descontração do Leopardo, Píton era reconhecida como líder. ‘Um líder não deve ser temido, ranzinza e Desconfiado’- lembravam os macacos, mostrando que lhe retirariam o cargo se pudessem. Era sabido que Píton, a cobra, possuía um grande complexo de inferioridade pelo fato de se postar sempre mais baixa que os outros animais, por ter que rastejar.Muitos, assim, ignoravam a sua presença. Certa vez um elefante quase a pisou por não vê-la, o que causou grande indignação. Desde então ela detesta ser tocada e sempre lembra a todos o seu lema: ‘Nunca pise em mim!’

Certo dia surgiu um assunto de urgência que envolvia toda a floresta. Algumas hienas, temidas por todos os animais de bem, decidiram mudar-se para aquela região. Todos estavam preocupados e criavam muitos boatos e rumores sobre isto. O Leão, prevendo um estado de pânico, decidiu convocar uma reunião entre a liderança da floresta: ele, o Leopardo e a Píton iriam se reunir junto à sua moita no dia seguinte.

No dia esperado, logo cedo, chegou o Leopardo e como de costume fazia piadas do Leão chamando-o de “Jubinha” referindo-se a um fato constrangedor e nunca mencionado pelos outros animais: o Leão nascera com menos pelo em sua juba que outros da sua espécie. Fingindo ignorar as piadinhas o Leão chamou-o para baixo da árvore e ofereceu-lhe água do riacho que por ali passava. Logo em seguida, sutil e esguia, chegou Píton causando surpresa no Leão. ‘Não pensei que viria tão cedo’ - comentou ele referindo-se aos constantes atrasos de Píton nas últimas reuniões de liderança. Como sempre Píton permanecia calada e procurou calmamente o lugar mais úmido para se enrolar.

Durante o dia o Leão, o Leopardo e Píton conversaram sobre todas as implicações da vinda das hienas para a floresta e, após ouvir longamente as inúmeras sugestões dos outros animais, estavam prestes a tomar uma decisão quando foram interrompidos pela comida que chegava. ‘Pensei que era plano do Leão trazer-nos aqui para matar-nos de fome’ - comentou o Leopardo entre risos. Comeram regaladamente e após tudo ser devidamente limpo decidiram descansar por um curto período antes de retomarem as discussões.

Neste momento, enquanto Leão, Leopardo e Píton dormiam, surgiu sorrateiramente um pequeno inseto típico daquela parte da floresta chamado Kintano. É uma espécie de grilo com apenas 2 centímetros de tamanho e que costuma fazer um buraquinho na areia onde esconde-se nos momentos mais quentes do dia. Sem ser por ninguém percebido, Kintano pulou até o lugar onde o Leão deitava sobre sua limpa e macia moita e começou a cavar o seu buraquinho com suas patinhas traseiras, lançando a areia para trás à medida que desaparecia dentro do seu abrigo. Entretanto, com a força de suas patinhas, Kintano conseguiu arremessar aquela fina areia até o focinho do Leão o qual, cheirando a poeira, levantou-se de um salto julgando ser uma brincadeira do Leopardo. Fitou-o bem nos olhos e num rugido gritou: ‘por que me sujou? Você sabe como detesto sujeira!!’

O Leopardo rosnou indignado: ‘Não sei do que está falando, mas você sabe que odeio quando alguém me fita!’ Os dois começaram uma estrondosa luta quando, não percebendo a Píton, o Leopardo a pisou com sua pata traseira fazendo-a acordar irada e gritando: ‘Não admito ser pisada por ninguém!’

O Leopardo, mais jovem e forte, matou o Leão em uma tremenda batalha! A Píton, sagaz, enlaçou o Leopardo e o apertou até que morresse; entretanto, com tamanho esforço, não resistiu e também morreu. Houve silêncio em toda a floresta. Como líderes tão bondosos, gentis e responsáveis chegaram ao ponto de se matar? - Perguntavam todos. Os animais da floresta, atônitos, baixaram suas cabeças e dispersaram-se. E o Kintano...

O Kintano, após tudo acabar, saiu do buraquinho na areia, olhou ao seu redor e começou a pular em direção a outro vale, a procura de outros líderes em outras florestas.

‘U Mallenyaan nyen Kintan so. U nyen kenin, sedimaten, tob anun ni kagbaan pu na’.

‘O Diabo é como o Kintano. Ele veio apenas matar, roubar e destruir’ - dizem os Konkombas.”

by Ronaldo Lidório

NÃO HÁ MORTE SEM DOR!

UMA VISÃO ANTROPOLÓGICA SOBRE A PRÁTICA DO INFANTICÍDIO INDÍGENA NO BRASIL - by Ronaldo Lidório

NÃO HÁ MORTE SEM DOR!

Neste artigo pretendo abordar o infanticídio indígena como fato social e expor as teorias antropológicas que fundamentam as idéias de apoio e oposição a tal prática no meio acadêmico. Farei uma tentativa de olhar também para o fato em si, do ponto de vista humano, daquele que o pratica ou experimenta, suas razões e cenário. Por fim darei sugestões sociais para sua interpretação e possíveis reações, através de um diálogo construtivo.

Infanticídio vem do latim infanticidium e significa objetivamente “morte de criança” nos primeiros anos de vida. Ao longo da história, foi aplicado a ambientes de morte induzida, permitida ou praticada, pelos mais variados motivos, normalmente sociais e culturais.

Fortes expõe a prática do infanticídio entre os Gauleses, nos primeiros séculos, como forma de regular o equilíbrio numérico entre os clãs[i] e, após quase 2 milênios compara tal prática com os Tallensi de Gana, África, em nossos dias. Na China, é elevado o índice de aborto de meninas, fato também encontrado no norte da Índia e tribos minoritárias da Indonésia. Entre os Konkombas de Gana a prática do infanticídio está ligada à sobrevivência[ii]. Em anos de seca, em que o acesso à alimentação é limitado, as crianças mais fracas e especialmente as enfermas (sobretudo as deficientes) podem não ser alimentadas devidamente, gerando desnutrição e morte. No Brasil indígena Cardoso de Oliveira nos fala sobre o antigo costume Tapirapé de matar a quarta criança, regulando assim o número máximo de três filhos por casal[iii]. Bamberger nos relata sobre o uso de uma planta da família das simarubáceas (Simaroubaceae) como anticoncepcional ou abortivo pelas mulheres Caiapó[iv] e Crocker relata sobre o infanticídio praticado pelos Bororo a partir de sonhos ou impressões de mau augúrio antes do parto[v]. Com base no Censo Demográfico de 2000, pesquisadores do IBGE constataram que para cada mil crianças indígenas nascidas vivas, 51,4 morreram antes de completar um ano de vida, enquanto no mesmo período, a população não-indígena apresentou taxa de mortalidade de 22,9 crianças por cada mil. Há poucas pesquisas objetivas sobre o assunto.

O infanticídio, portanto, não é um fato isolado nem mesmo reside em um passado distante. É uma experiência atual e demanda, em si, uma avaliação antropológica isenta de partidarismo ou remorsos, que venha a observar este fato e suas implicações sociais para aqueles que o experimentam bem como os que o observam.

A Antropologia possui diversas formas de abordar práticas e costumes em um povo específico. Conseqüentemente, isso permite diferentes formas de interpretar uma cultura. A respeito do infanticídio (aceito, induzido ou estimulado em um grupo) há principalmente duas correntes teóricas que avaliam o fato, por ângulos distintos.

O relativismo ético-cultural

No Brasil, é basicamente o relativismo cultural, em confronto com os fundamentos da universalidade ética, que tem gerado os argumentos para as discussões em torno do infanticídio indígena.

O relativismo cultural, inicialmente desenvolvido por Franz Boas e com base no historicismo de Herder, defende que bem e mal são elementos definidos em cada cultura. E que não há verdades universais visto que não há padrões para se pesar o comportamento humano e compará-lo a outro. Cada cultura pesa a si mesma e julga a si mesma. A mutilação feminina, portanto, não poderia ser avaliada como certa ou errada, mas sim aceita ou rejeitada socialmente, de acordo com o olhar da cultura local sobre este fato social. Para o relativismo radical não há valores universais que orientem a humanidade, mas valores particulares que devem ser observados e tolerados. E assim, em sua compreensão de ética, o bem e o mal são relativos aos valores de quem os observa e experimenta.

A grande contribuição do relativismo foi abrandar a arrogância das nações conquistadoras e gerar uma visão de tolerância cultural, especialmente nos encontros interculturais. Boas se contrapunha ao evolucionismo de Tylor, Frazer e Morgan que viam na civilização ocidental o estágio evoluído da humanidade, enquanto as nações e povos não ocidentais, “sub-evoluídos”, buscariam no ocidente um modelo humano de moral e organização. Conseqüência desta positiva contribuição do relativismo foi a fomentação da idéia de igualar o valor humano, indistinto de sua língua, cultura e história. Herder defendia que toda moral define seus valores no Volksgeist (literalmente espírito do povo), e entende que cada povo define seu próprio Geist, fazendo com que cada grupo possua valores sociais únicos e incomparáveis. Era uma reação ao Iluminismo que defendia os princípios universais de justiça, sobretudo na França.

O relativismo radical, porém, torna as culturas estáticas e estanques e as pretere de transformações autônomas, mesmo as desejadas e necessárias. Paradoxalmente, ele produz um forte etnocentrismo que se contrapõe à todo e qualquer processo de mudança ou transformação. Para estes a moral se enraíza na cultura e não na humanidade, rompendo assim com qualquer possibilidade de avaliação ou emissão de juízo sobre práticas ou costumes do outro. O bem é o bem permitido na cultura, cultivado por ela. O mal é seu oposto. Enquanto o infanticídio é parte do mal entre os espanhóis pode ser parte do bem entre os Yanomami, desde que esta seja a ótica de cada um sobre este fato social. Este relativismo, praticado de forma radical, incapacita o indivíduo, qualquer indivíduo, de propor mudanças em sua própria cultura por entender a cultura como um sistema estático e imutável, um universo a parte, pressupondo que as presentes normas culturais são perfeitas em si. Nasce daí o purismo antropológico, que enxerga todo elemento cultural como relevante e absoluto, todo costume como funcional e toda prática como algo justificável, sem necessidade de avaliação ou contraste, mesmo pelo próprio povo.

A fundamentação da universalidade ética

A defesa da fundamentação da universalidade ética, por outro lado, pressupõe que os homens, povos e culturas fazem parte de uma sociedade maior que é a sociedade humana. E esta possui, em si, valores universais de moralidade como a dignidade, sobrevivência do grupo e busca pela continuidade da vida individual. Sérgio Rouanet nos diz que mudanças podem ser necessárias no caso de grupos materialmente carentes ou regidos por normas e instituições de caráter repressivo. E que também tais mudanças devem ser conduzidas levando em conta a autonomia e interesse das populações[vi]. Ele nos diz que “a antropologia comunicativa... opondo-se ao relativismo puro acredita que a mudança através do contato intercultural é possível e desejável”[vii].

Para Roberto Cardoso a mudança é possível se percebida sua necessidade e deve ser processada no interior de uma comunidade intercultural de argumentação[viii]. Ele se baseia no etno-desenvolvimento que, na declaração de San José (1981) é “o fortalecimento da capacidade autônoma de decisão de uma sociedade culturalmente diferenciada para orientar seu próprio desenvolvimento e o exercício da autodeterminação”.

O valor desta fundamentação da universalidade ética é reconhecer que o homem, mesmo distinto e disperso compartilha valores inerentes. Pressupõe que fazemos parte de uma aldeia global e que, portanto, temos a ganhar no intercâmbio das idéias e valores. Que este intercâmbio, ao contrário de ser nocivo e etnocida, é construtivo. Que todo diálogo pode transmitir conhecimento aplicável em um contexto paralelo. É preciso compreender que o diálogo, praticado com base no respeito mútuo, é construtivo. Irá gerar um ambiente de avaliação da vida, necessário a todo o homem, visto que a cultura não é estática e muito menos a história.

Rouanet expõe que “o homem não pode viver fora da cultura, mas ela não é seu destino, e sim um meio para sua liberdade. Levar a sério a cultura não significa sacralizá-la e sim permitir que a exigência de problematização inerente à comunicação que se dá na cultura se desenvolva até o telos do descentramento”. Este argumento nos leva a compreender que os conflitos são universais, tais como a morte, o sofrimento, a discriminação ou a repressão. E perante estes conflitos podemos compartilhar a mútua experimentação na busca de soluções internas. Ao conversar com um índio Tariano no Alto Rio Negro, após prolongada sessão de perguntas sobre o processo tradicional Tária de sepultamento, ele concluiu dizendo que “como vocês brancos devem também saber, não há morte sem dor”. A dor, universal, resultado de conflitos e mazelas também universais, pede soluções internas que devem ser compartilhadas em um diálogo construtivo.

A unicidade humana e sua capacidade de transformação

Se por um lado o ambiente colabora para identificarmos os conflitos partilhados, o desenvolvimento de idéias únicas, e iniciativas incomparáveis e pioneiras, define o homem em sua essência. Konkombas e Bassaris, no nordeste de Gana, África, possuem 1.200 anos de história de convivência e partilha ambiental, mas observamos as fórmulas de parentesco divergirem rigorosamente. Os primeiros são endogâmicos (casam-se somente entre si) enquanto o segundo grupo pratica a exogamia (casam-se exclusivamente com pessoas de fora de seu circuito de parentesco) como valor chave para sua interação sociocultural.

Recorremos, portanto, às palavras de Laraia quando diz que “a grande qualidade da espécie humana foi a de romper com suas próprias limitações: um animal frágil, provido de insignificante força física, dominou toda a natureza e se transformou no mais temível dos predadores. Sem asas, dominou os ares; sem guelras ou membranas próprias, conquistou os mares. Tudo isto porque difere dos outros animais por ser o único que possui cultura”[ix]. A unicidade humana, sua capacidade de iniciar novas coisas, desenvolver idéias e reconstruir o comportamento social o destaca do restante dos seres. Apesar da cultura abrigar o homem e encaminhá-lo em sua vida, é o homem quem a define. Uma simples idéia, um grito ou uma iniciativa pode mudar o rumo do grupo, alterar suas crenças fundamentais e gerar distinções sociais. Dentre diversas capacidades inerentes ao homem, uma delas é a de transformação social.

Brzezinski nos alerta que “a cultura vai se tornar a linha divisória do debate sobre a liberdade e os direitos humanos. (...) Rejeita a noção de direitos humanos inalienáveis com base no fato de que essa noção reflete uma perspectiva ocidental bastante provinciana”[x]. Como conseqüência do relativismo radical, parte da Antropologia brasileira possui nítida dificuldade em emitir qualquer julgamento ao que se apresenta como culturalmente definido, rotulando assim todo questionamento endereçado a uma prática ou costume, em um determinado ambiente cultural, como falta de aceitação ou intolerância. A ausência de diálogo e escambo intercultural privará diversos povos de soluções internas que precisarão encontrar daqui a 30 ou 40 anos, levando-os a olhar para trás e nos julgar, pela nossa omissão.

O machismo, na América Latina, embora seja cultural, é atacado e limitado por políticas públicas que vêem neste elemento cultural um dano ao próprio homem e sociedade. O jeitinho brasileiro, que patrocina a corrupção e tolerância de pequenos delitos, apesar de ser resultante de elementos também culturais não deixa de ser compreendido como nocivo ao homem. Como tal não é aceito pela sociedade como desculpa para a continuidade de práticas danosas à vida. O mesmo poderíamos falar a respeito do racismo. Nestes três casos a universalidade ética é evocada e aceita de forma geral pela sociedade e os direitos humanos são reconhecidos. Porque que não no caso de elementos culturais nocivos à vida, em contexto indígena? Isto me leva a aceitar a especulação de Maquiavel de que a guerra do vizinho nos incomoda menos do que nosso pequeno conflito familiar.

Como parte de um grupo de trabalho que estudou o infanticídio em Gana, no noroeste africano, entre 1995 e 1999, percebi que apesar das motivações para tal prática serem extremamente distintas de grupo a grupo, a morte, qualquer morte, causava sofrimento. Entre os Kassena, o infanticídio era motivado pelo desejo de se fortalecer o clã central, de chefia. Entre os Bassari, pelo desejo de aplacar a fúria dos espíritos causadores do nascimento de crianças deficientes. Entre o povo Konkomba por motivações de subsistência, privilegiando as crianças mais fortes na alimentação diária. Porém, nenhum destes grupos, ou qualquer outro sobre o qual tenhamos estudado, vê o infanticídio como uma prática construtiva, mas sim uma solução interna a partir de uma realidade social danificada. Esta cosmovisão local poderia ser comprovada a partir do conseqüente sofrimento experimentado.

Em Santa Isabel do Rio Negro, no ano de 2006, observei uma moça Yanomami à procura de ajuda no hospital local. Esmurrava seu ventre aparentemente tentando interromper sua gravidez no sétimo mês de gestação. Um enfermeiro local, comentando o fato, anunciou que nada se podia fazer, pois era uma atitude cultural, uma escolha compreendida apenas dentro do universo Yanomami. Mais adiante, interessado em observar o caso de perto, consultei seu irmão que a acompanhava ao hospital. Este claramente me confirmou que aquela gravidez era indesejada pelo grupo e, portanto, poderia ser interrompida. A escolha, apesar de ser de sua irmã, não aconteceria sem a pressão do grupo. Enquanto grávida, ou mesmo após ter a criança, ela não poderia transitar livremente pela aldeia e nem no seio da família, sofrendo privações. Ao explicar as motivações culturais para tal ato, tanto os temores como as limitações sociais definidas, ficou claro que todas as partes envolvidas compartilhavam certo grau de sofrimento. A moça, que esmurrava seu ventre, não o fazia sem indignação. O grupo, que a pressionava, o fazia nutrido pelo medo e tradição. O irmão, que a acompanhava, se sentia impotente e confuso. Apesar das diferentes cores que pintam nossos valores culturais, tão plurais, compartilhamos dos mesmos sofrimentos humanos e sociais.

Nossa história, nosso peso

Não podemos negar que a postura antropológica brasileira, não intervencionista, é influenciada também pela culpa coletiva pelo passado, pela forma desastrosa como os indígenas foram julgados e condenados. Postura semelhante se viu na Alemanha pós-nazista que, de uma xenofobia causticante, se extremou por algum tempo nos caminhos de uma tolerância radical ao diferente, qualquer diferente, mesmo o nocivo socialmente.

Calcula-se que havia 1,5 milhão[xi] de indígenas no Brasil do século 16, os quais, irreparavelmente, somam hoje não mais de 350 mil. Infelizmente, essa realidade etnofágica vai muito além das estatísticas e das palavras, pois é composta por faces, vidas, histórias e culturas milenares, as quais têm sofrido ao longo dos séculos a devassa dos conquistadores, a forte imposição econômica e perdas sociais tremendas. Permita-me redefinir os termos desta afirmação em uma impressão coletiva. Os conquistadores não são os outros. Somos nós.

A sociedade indígena ainda vive hoje sob o perigo de extinção. Não necessariamente extinção populacional, mas igualmente severa, quando se perde língua, história, cultura e direito de ser diferente e pensar diferente convivendo em um território igual.

Segundo Lévi-Strauss, a perda lingüística é um dos sinais de declínio de identidade étnica e decadência de uma nação. Ao observarmos tal sinal, percebemos quão desolador é o cenário. Michael Kraus afirma que 27% das línguas sul-americanas não são mais aprendidas pelas crianças[xii]. Isso significa que um número cada vez maior de crianças indígenas perde seu poder de comunicação a cada dia.

Aryon Rodrigues estima que, na época da conquista, eram faladas 1.273 línguas,[xiii] ou seja, perdemos 85% de nossa diversidade lingüística em 500 anos. Luciana Storto chama a atenção para o Estado de Rondônia, onde 65% das línguas estão seriamente em perigo por não serem mais aprendidas pelas crianças e por terem um ínfimo número de falantes. Precisamos perceber que a perda lingüística está associada a perdas culturais complexas, como a transmissão do conhecimento, formas artísticas, tradições orais, perspectivas ontológicas e cosmológicas.

Perante tal realidade somos levados a observar o passado e defender uma postura radicalmente não intervencionista, não dialógica, no presente. No subconsciente talvez estejamos tentando minimizar o risco de outros erros. Porém não percebemos que esta omissão apenas há de contribuir para a ausência de soluções de subsistência, seja numérica, lingüística ou cultural, dos povos indígenas do Brasil. Não devemos evitar o diálogo, mas sim a subversão. Não devemos nos omitir da busca coletiva pela solução de conflitos, mas sim evitar a imposição em reações que não sejam autônomas. Ao participar da construção do ambiente que gera o dano devemos também participar da busca pelas soluções.

Os direitos humanos universais e o infanticídio

A Declaração Universal dos Direitos Humanos aprovada pela ONU em 1948 promulga que “todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos”[xiv]. Afirma também que “toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e segurança pessoal”[xv]. Continua declarando que “todos são iguais perante a lei e têm o direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei (...) contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação”[xvi]

A conferência Mundial sobre Direitos Humanos (1993), fórum preparatório para as declarações de Túnis (1992), Bangladesh (1993) e a Conferência de Viena, discutiram e alertaram para o perigo do relativismo radical como teoria embasadora para a avaliação de práticas e costumes culturalmente definidos. O ministro das relações exteriores da Indonésia, em 14 de junho de 1993, afirmou, na Declaração de Bangkok, que “não viemos a Viena (...) para defender um conceito alternativo de direitos humanos, baseado em alguma noção nebulosa de relativismo cultural como falsamente acreditam alguns”. O vice-ministro das relações exteriores do Irã, em 18 de junho de 1993, declarou que “os direitos humanos, sem sombra de dúvida, são universais (...) e não podem estar sujeitos ao relativismo cultural”. O vice-ministro das relações exteriores da República Socialista do Vietnã, em 14 de junho de 1993, observou que “os direitos humanos são, ao mesmo tempo, um padrão absoluto de natureza universal e uma síntese resultante de um longo processo histórico (...) universalidade e especificidade são dois aspectos orgânicos dos direitos humanos inter-relacionados, que não se excluem, mas coexistem e interagem”.[xvii]

A Declaração de Viena, aprovada pela Conferência Mundial dos Direitos Humanos, rejeitou o relativismo cultural radical e defendeu a universalidade ética, mesmo sujeito ao pluralismo de culturas e cosmovisões. No parágrafo 5º da Declaração de Viena lemos que “todos os direitos humanos são universais, indivisíveis, interdependentes e inter-relacionados (...). Embora particularidades nacionais e regionais devam ser levadas em consideração, assim como os diversos contextos históricos, culturais e religiosos, é dever dos Estados promover e proteger todos os direitos humanos e liberdades fundamentais, sejam quais forem seus sistemas políticos e culturais”[xviii].

Conclusão

A antropóloga Keila Pienezi expõe que “O Estado tem um papel muito importante e não pode se omitir sobre ele, que é o de garantir o direito à vida e às condições para as crianças crescerem e terem acesso à cidadania. Isso pode ser feito por meio de diálogo com as diferentes etnias que nós temos no País”[xix].

Alguns fatos dialógicos positivos em contexto inter-cultural podem ser ressaltados. O primeiro advém da ação da FUNASA no tratamento de enfermidades básicas entre as populações indígenas no Brasil, entre elas a malária. Apesar dos grupos indígenas não abandonarem, em grande parte, sua forma natural de tratamento, um número expressivo de grupos indígenas reconhece e utiliza hoje o tratamento anti-malarial proposto pela FUNASA para os casos de malária reconhecidos por eles e pelos seus agentes de saúde. Tal atitude dialógica presta um serviço necessário e vital. Salva vidas e não agride os povos. Se em algum momento tal agressão for observada, deve-se mais à abordagem do que à proposta. No Alto Rio Negro e ao longo do Rio Solimões tenho observado todas as etnias procurando e valorizando o acesso ao tratamento deste mal reconhecidamente causador de sofrimento humano, a despeito de sua diversidade lingüística e cultural, e mesmo das diferentes soluções internas que cada grupo historicamente propõe para o tratamento da malária em seu universo.

O segundo fato dialógico nos é fornecido por Cardoso de Oliveira e trata-se da prática do infanticídio entre os Tapirapé. O processo se dava na eliminação do quarto filho, limitando assim cada família a, no máximo, três filhos. A ação de freiras católicas para assegurar a sobrevivência do indivíduo que nasce bem como do grupo, que corria risco de extinção (chegou apenas a 54 indivíduos) se deu através do diálogo e não da imposição. A argumentação das freiras, aceita finalmente pelo grupo, se baseava na valorização do próprio grupo, e seu gradual enfraquecimento, com o infanticídio. Cardoso de Oliveira nos expõe que a decisão de extinção do infanticídio se deu em um círculo culturalmente definido, autônomo, não induzido. Neste caso os Tapirapé aceitaram o argumento da razão humana, social e cultural. Observo, portanto, que nas mudanças necessárias que envolvem risco de sobrevivência, subsistência e dignidade, os povos tendem a repensar seus valores com base nos efeitos objetivos sobre o próprio grupo, aceitando o argumento mais forte que privilegie sua sobrevivência.

O terceiro fato dialógico nos é exposto por Edson e Márcia Suzuki[xx], co-fundadores da ONG ATINI (Voz pela Vida), que, atendendo ao apelo dos pais colaboraram com a retirada de dois bebês da tribo Suruwahá em 2005 para tratamento apropriado em São Paulo. A retirada dos bebês os liberava do sacrifício por iniciativa da comunidade Suruwahá. Iganani, uma das crianças, chegou a ser deixada na mata para morrer mas foi resgatada pela mãe, por convencimento da avó. Tititu, a outra criança, quase foi flechada pelo pai que decidiu levá-la aos “brancos” a procura de ajuda. A mãe de Iganani chama-se Muwaji e explicitou seu desejo por ajuda. Desejava, a despeito da prática comunitária de seu grupo, preservar a vida da sua filha. Os Suzukis, durante cerca de 20 anos vivendo entre os Suruwahá, contabilizam cerca de 28 casos de infanticídio no grupo. Este fato social (a preservação da vida por iniciativa indígena, de crianças que seriam sacrificadas na comunidade por iniciativa dos próprios indígenas) abriu um precedente ético e comportamental entre os Suruwahá. É possível que percebam o que Pritchard chama de possibilidade de solução. Quando um povo, pela iniciativa de uma idéia ou ato, repensa suas soluções para o sofrimento e as adequa a práticas mais humanizadoras na cosmovisão do próprio grupo. A ATINI também tem sido promotora da conscientização sobre o direito à vida em cerca de 50 etnias em nosso país através das cartilhas sobre os direitos humanos aplicados ao universo indígena[xxi].

Devemos reconhecer o direito de todo povo de dialogar com outros povos a respeito do sofrimento e suas soluções. De compreendê-las, compará-las e decidir sobre qual solução tomar.

Devemos reconhecer o direito de todo indivíduo de levantar-se contra os valores culturais experimentados e propor novas alternativas, sobretudo nos casos em que há dano à vida, à dignidade e à subsistência.

Devemos reconhecer que nenhuma cultura é estática ou isolada da sociedade humana. E que, pertencente a esta, partilha também os mesmos sonhos e conflitos. Que a ação dialógica, sob o manto da autonomia de cada povo, trás benefícios humanos que não estancam a vivência cultural pois práticas aceitas na atualidade remontam a decisões passadas por critérios próprios ou adquiridos.

Que o Estado brasileiro deve tratar o infanticídio indígena de forma ativa, informando e dialogando com as sociedades indígenas em nosso país a respeito das alternativas para solução deste conflito interno, que isente a morte das crianças. Que garanta o direito de vida, criação e dignidade dos indivíduos, independente de seu segmento étnico.



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SER PASTOR HOJE

Reflexões sobre o pensamento de Eugene H. Peterson acerca da vocação pastoral

Nos últimos quatro anos, tenho sido tremendamente impactado pelos escritos de um pastor presbiteriano chamado Eugene H. Peterson. Ele tem sido, para mim, uma espécie de mentor em minha jornada de descoberta da vocação pastoral, em meio a tantas outras vozes com suas idéias e propostas altamente sedutoras. Este texto é fruto de minhas anotações sobre algumas de suas idéias. Assim, achei que seria interessante compartilha-lo, tanto para reflexão de outros, como para provocar a discussão sobre o que realmente significa “ser pastor”. Em minha opinião, a discussão deste assunto é hoje uma questão de vida ou morte, não somente para aqueles que desempenham o ministério pastoral, como para as igrejas que são por eles pastoreadas.

Entre Domingos:

Aos domingos, a vida pastoral até que não parece ser tão difícil. Afinal, tudo está relativamente em ordem, da liturgia ao sermão, do boletim ao coral e todas as pessoas, bem arrumadas e assentadas, estão prontas para participar do momento de adoração e, aparentemente, dispostas para ouvir a pregação da Palavra de Deus.

O problema é que, de segunda a sábado, as coisas não acontecem de forma tão organizada, ou mesmo, previsível. As pessoas não parecem tão arrumadas e prontas para a adoração a Deus, muito menos para ouvir Sua Palavra. Então, a ordem da adoração dominical dá lugar a realidade do caos cotidiano.

Apesar do domingo ser um dia essencial no trabalho pastoral, a maior parte deste ministério se dá nos dias que separam um domingo do outro. Por isso, pastoralmente, precisamos dar a mesma atenção ao cotidiano, procurando desenvolver a arte de pastorear em meio ao caos, ou como Peterson coloca: “praticar a arte de orar em meio ao tráfico” [1]

Curar Almas: A Arte Esquecida

Hoje, existe certa distinção entre o que pastores fazem aos domingos e o que fazem entre os domingos. O que fazem aos domingos não mudou ao longo dos últimos séculos: pregar a Palavra, administrar os sacramentos e zelar pela disciplina. No entanto, a tarefa entre domingos foi drasticamente alterada no último século.

Antigamente, o trabalho pastoral entre domingos era parte do que era feito aos domingos. Entre domingos, pastores estavam com indivíduos ou pequenos grupos para estudar a Bíblia e orar com e por eles. O cenário mudava mas o objetivo era o mesmo: descobrir o significado das Escrituras, desenvolver uma vida de oração, guiando pessoas à maturidade. [2]

Este trabalho pastoral era nomeado historicamente como o serviço de cura das almas. O sentido original da palavra latina “cura” é cuidado. Assim, como Peterson aponta, “a cura de almas, pois, é dirigido pelas Escrituras, moldado pelo cuidado na oração, dedicado a pessoas individualmente ou em grupos, em lugares sagrados e profanos. É uma determinação em trabalhar com o centro, em concentrar-se no essencial.” [3]

Atualmente, o trabalho pastoral entre domingos é definido pelo trabalho de “tocar uma igreja” assim como um comerciante toca sua loja ou um empresário a sua empresa. O trabalho pastoral foi quase que inteiramente secularizado, exceção feita ao trabalho dominical. Os mentores dos pastores atuais não são os sábios mestres da antiguidade, mas os espertos consultores de liderança empresarial. A vocação pastoral não é orientada pela oração e sensibilidade, mas pela ação e esperteza para fazer uma igreja crescer e destacar-se.

Com isso, não estamos querendo dizer que no trabalho pastoral não existem atividades administrativas necessárias para a vida da igreja com as quais o pastor acabe por se envolver. No entanto, como Peterson sabiamente compara, como homens casados precisamos “tocar a casa” com nossas esposas. Contas necessitam ser pagas, pequenas reformas feitas e decisões tomadas. No entanto, no casamento e em família, “tocar a casa” não é o que fazemos essencialmente. A avenida principal de nossa vida em família é caracterizada pela construção de um lar, pelo desenvolvimento de um relacionamento conjugal sólido, pela criação de filhos, pela alegria em receber amigos, etc.

Áreas de tensão:

Mas não quero ser tido por idealista e irreal nas expectativas. Tenho plena consciência de que o problema maior de pastores que desejam se tornar guias de almas hoje será o fato de que este ministério se dará no meio de pessoas que esperam que eles “toquem uma igreja”. A tensão entre a vocação de um pastor e a expectativa de uma congregação se dará, segundo Peterson, especialmente em três áreas: na iniciativa, na linguagem e nos problemas.

A tarefa de “tocar uma igreja” exige muita iniciativa. Desde a concepção da idéia, da motivação do grupo, até o recrutamento, o treinamento e a supervisão do trabalho. Iniciativa é essencial e o combate a indolência imprescindível. Diferentemente, no trabalho da cura de almas, o pressuposto básico é de que Deus já tomou a iniciativa em todo lugar e a todo momento. Ele já está no controle da situação. Deus já está atuando diligente, redentiva e estrategicamente antes de eu aparecer em cena. Assim, enquanto as perguntas de alguém que “toca uma igreja” são: O que devemos nós fazer? Quais as providências que devemos nós tomar para melhorar esta comunidade? As perguntas de quem “cura almas” são: O que tem Deus feito na vida deste grupo de forma que possa eu participar? Como a graça de Deus tem se manifestado entre eles de forma que eu possa explicitar? O que Deus quer fazer deles de forma que eu possa contribuir?

Assim, o trabalho pastoral de curar almas, no que se refere a organização e planejamento do grupo, se torna não necessariamente um trabalho de ter e vender idéias, mas de descobrir o que Deus já tem feito na história do grupo e o que ele ainda deseja fazer em suas vidas, vivendo o ministério de acordo com esta direção.

Na tarefa de “tocar uma igreja” a linguagem básica usada é descritiva e motivacional. Descritiva por que quero que as pessoas estejam informadas acerca do que fazer. Motivacional por que então as pessoas se engajarão no que deve ser feito. Diferentemente, no trabalho de curar almas, o pastor esta muito mais interessado no que as pessoas são e no que estão se tornando em Jesus do que no que sabem e nas funções que podem desempenhar. É claro que, como pastores, temos muito o que ensinar e muito que desafiar a fazer. Mas nosso primeiro trabalho na vida das pessoas está relacionado não ao que sabem ou ao que fazem, mas ao que são. Ser pastor implica em descobrir e usar, primariamente a linguagem relacional que tem lugar na conversa com pessoas e na oração para com Deus.

Na tarefa de “tocar uma igreja”, uma das atividades mais comuns está relacionada a resolver problemas. A grande dificuldade é que os problemas vão surgindo com tanta intensidade que a solução dos mesmos torna-se o trabalho integral do pastor. Diferentemente, na tarefa de curar almas, os problemas não são vistos como dificuldades a serem resolvidas, mas como mistérios a serem explorados. No entanto, na sociedade secularizada em que vivemos, nada gera mais desconforto nas pessoas do que as situações que não podem ser explicadas, controladas e direcionadas imediatamente. Se deixarmos que nossa tarefa pastoral se restrinja a solução simples e imediata de problemas, estaremos abrindo mão de uma das mais significativas experiências pastorais que é a de guiar as pessoas em meio ao caos e ensiná-las a orar no meio do tráfico do cotidiano.



Extraído – by Rev. Ricardo Agreste

AINDA QUE OS ANJOS DOS ABISMOS TENHAM SIDO SOLTOS!!!!

“e tinham sobre eles, como seu rei, o anjo do abismo, cujo nome em hebraico é Abadom, e em grego, Apoliom” (Apocalipse 9.11)

Estamos em tempos de eleição no Brasil. Curiosamente minha caixa de e-mails tem sido abarrotada de mensagens contras alguns candidatos que estão sendo pintados como os anjos (demônios) do abismo. Tal candidato tem pacto com satanás, outro candidato não teme a Deus, fulano é isso, beltrano é aquilo...

Fico impressionado com o pânico de alguns ditos cristãos com algumas destas informações, como se à vontade de Deus só pudesse ser feita se eleito fosse um candidato evangélico. Aliás, penso eu, que se dependesse de candidatos evangélicos para alguma coisa, Deus estaria frito, e a igreja de Jesus, sepultada. Pois com raras e honrosas exceções os que estão por ai, em nome dos evangélicos são incompetentes, mercenários e com posturas impróprias da santidade de Deus.

Penso que Deus nunca dependeu de homens ou mulheres para governar a história e não será desta vez. Quando Ester foi elevada ao posto de Rainha, seu tio lhe advertiu com sabedoria dizendo: “Quem sabe se para conjuntura como esta foste elevada ao posto de rainha. Se todavia, te calares, de outra parte se levantará para os judeus socorro e livramento” (Ester 4.14).

É preciso lembrar que Deus usou os caldeus quando quis, para executar sua vontade – juízo contra o seu próprio povo. No livro do profeta Habacuque, Deus suscita uma nação amarga, impiedosa para executar contra seu povo juízo e promover sua justiça e manifestar a sua glória. Quem sabe, para acabar com esta bandalheira dita evangélica no país, com programas televisivos de tão baixo padrão, com uma industria da fé que só sabe pedir dinheiro e extorquir fiéis... quem sabe para resgatar o verdadeiro evangelho, Deus não suscite um outro instrumento, que também está debaixo de sua autoridade suprema – o anjo do abismo. Quem sabe não chegou o tempo de anjos do abismo governarem ?? Seriam eles piores do que os evangélicos no governo atual, envolvidos em falcatruas, desvios de dinheiro público e outras coisas que, certamente Deus não compactua ?

Estudando as Sagradas Escrituras, vemos Deus levantando homens que jamais tiveram qualquer compromisso com a salvação, e que mesmo assim foram instrumentos em suas mãos: Ciro, Artaxerxes, e até mesmo Pilatos que chegou a dizer a Jesus: “Não sabes que tenho autoridade para te soltar e para te crucificar ? Respondeu Jesus: Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te fosse dada” (João 19.11).

Neste tempo de eleições, avalie a vida e as propostas de seu candidato, independente das especulações sensacionalistas que alguns tem promovido. Creia que Deus é quem governa a história, quem tem nas suas mãos o coração do rei e o inclina para onde seus propósitos determinam!



Pr Carlos Orlandi Jr

RESITINDO À TENTAÇÃO

“Ora, na vossa luta contra o pecado, ainda não tendes resistido até o sangue” (Hebreus 12.4).

Na caminhada cristã somos tentados a ceder inúmeras vezes, diante das proposições do mal. Muitas destas proposições malignas se nos apresentam de maneira sutil e capciosa; outras vezes, de maneira invasiva, afrontadora e agressiva. Mas, pela Palavra de Deus entendemos que tanto em uma situação quanto em outra, a postura cristã é a mesma: Resistir! O autor da epístola aos Hebreus usa desta expressão para nos desafiar a uma ação intensa de resistência ao mal. Da história da igreja vem um exemplo de como esta resistência ocorria nos anos de ascetismo.

“Benedito da Núrsia, monge nascido em 480 da era cristã, viveu em uma pequena aldeia italiana – Núrsia. Quando tinha aproximadamente 20 anos, Benedito se retirou para viver sozinho em uma caverna, onde dedicou sua vida ao ascetismo”.

Contudo, o fundador do movimento beneditino, se viu dominado por uma tentação carnal. Seu busca por um caráter santo e por uma pureza interior não se coadunavam com a visão de uma mulher bela e formosa que atentava, em sonhos, seu corpo, levando-o a uma luta para não cair em tentação.

Certo dia, disposto a acabar com estes desejos, não suportando a agonia de uma luta interior inclinada ao pecado, ao avistar uma moita de espinhos e urtigas, tirou toda a roupa e se lançou sobre ela, na ânsia de castigar o corpo inclinado aos prazeres terreais. Não sabemos se tal atitude produziu o efeito desejado de pureza e santificação; todavia, a Palavra de Deus nos diz que não devemos esmorecer em nossa luta contra o pecado.


Pr Carlos Orlandi Jr

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