Como é a igreja evangélica do novo milênio?

Neste novo milênio, que teve início em 2001, a situação da igreja evangélica brasileira tem sido considerada a melhor de sua história. Com a garantia constitucional de liberdade de culto, os cristãos, não mais vistos como fanáticos, se expressam livremente e conquistam espaços importantes.
Esse progresso causa inveja às religiões instaladas no País, e alguns líderes mais entusiásticos proclamam: “Ainda no início deste milênio, o Brasil será predominantemente evangélico”.
Conquanto seja um privilégio viver em um país repleto de cristãos, poucos líderes, em meio à euforia, percebem o número crescente de evangélicos que constam das estatísticas, mas nunca viveram um cristianismo genuinamente bíblico. Hoje, ser cristão, para muitos, é ter privilégios e direitos; é ser senhor, e não servo; é encarar a obediência como uma virtude descartável.
Os avanços da tecnologia trouxeram benefícios à igreja hodierna. Em contrapartida, algumas inovações estão se instalando em nosso meio, merecendo uma análise cuidadosa.
Tenho pensado na situação de nossas igrejas deste início de milênio, uma vez que, com o progresso numérico, cresce também o número de evangélicos apenas nominais.
É claro que há exceções, mas quais são as características da igreja do novo milênio?

1) Uma igreja voltada só para o jovem

Bem, antes que alguém comece a verberar contra este articulista, esclareço que não sou contra a juventude. Primeiro, porque ainda me considero jovem, com os meus 37 aninhos... Segundo, já escrevi um livro para adolescentes, Adolescentes S/A, e outro para jovens, Perguntas Intrigantes que os Jovens Costumam Fazer, ambos editados pela CPAD.
Na década de 1960, o roqueiro Pete Townshend disse: “Espero morrer antes de ficar velho”. Lamentavelmente, esse sentimento parece estar renascendo no meio evangélico. Sabemos que é necessário atrair os jovens e adolescentes para o caminho do Senhor. Mas, e os velhos? Eles também são almas preciosas para Deus.
Um jovem cristão declarou a um jornal: “Era frustrante fazer som na praça e ver pessoas parando que não eram da minha idade. Eu queria que parasse o roqueiro, o cara cabeludo, um cara como eu. Só que ele não parava”. Ora, o Evangelho deve ser pregado a todos, pois não podemos fazer acepção de pessoas (Tg 2.1,9). Ademais, os jovens não podem se esquecer de que, no futuro, eles serão idosos (Ec 12.1).

2) Uma igreja revolucionária

Hoje em dia, a palavra “revolução” faz muito sucesso. Músicas do tipo “revolução está no nome de Deus” são cantadas pela juventude. Revolução, no entanto, denota, antes de tudo, sublevação, revolta e insubmissão. Sempre associada a lutas ou guerras (cf. Lc 21.9, ARA), consiste em mudança rápida e radical. Como a conversão é uma mudança gradual, progressiva (1 Pe 2.1,2; 2 Co 3.18), o uso da palavra “revolução” no meio cristão se torna impróprio.
Há mais de dez anos, fiquei preocupado com a seguinte notícia:
“Está surgindo no país uma versão moderna, mais liberal e classe média do crente tradicional (...); esse novo evangélico é da pesada (...); prefere louvar a Deus em ritmo de rock ou jazz (...). De jeans e camiseta, seus pastores comandam shows de rock religioso ao estilo Chacrinha...” (Veja, 21/4/93).
Infelizmente, o modelo revolucionário deste novo milênio (que imita padrões mundanos) incorporou-se de tal modo a tantas igrejas tradicionais, que muitos me considerarão um extraterrestre por ainda me preocupar com isso. Mas não vejo mesmo apoio para esse modelo nas páginas sagradas (cf. Gl 5.22; Mt 5.1-11).

3) Uma igreja “contextualizada”

Muitos líderes têm pregado que devemos nos contextualizar. “O mundo mudou”, dizem. “Devemos adaptar a mensagem do Evangelho à presente realidade. Temos de ser parecidos com as pessoas do mundo, se quisermos alcançá-las para Cristo”. Este argumento é baseado na interpretação forçada de 1 Coríntios 9.22, um vez que, para evoluir em algumas áreas, não precisamos gerar “aberturas” doutrinárias (Mt 7.13,14).
Na verdade, quanto mais os cristãos se igualarem aos incrédulos, tanto mais será difícil a evangelização. Não havendo identidade, o crente se torna imperceptível (Mt 5.13-16; Fp 2.5), passando de influente para influenciado. Comunicar o Evangelho da forma como as pessoas desejam ouvi-lo não resultará em nada. Mas transmiti-lo da maneira como elas precisam ouvi-lo as levará à compunção (At 2.37,38).

4) Uma igreja formada por fãs

Seguir a Jesus não é só deter o nome de cristão (Lc 9.23). Ser cristão é ser um praticante dos ensinamentos de Cristo. Achá-lo “o maior barato”, pôr adesivos no vidro do carro do tipo “Propriedade Exclusiva do Senhor Jesus” ou usar camisetas com mensagens que trazem o seu nome, sem, no entanto, praticar integralmente os seus ensinamentos, é apenas ser um fã. Aliás, o nome de Jesus se tornou um grande negócio e vem sendo banalizado (cf. Êx 20.7), aparecendo em anéis, presilhas, prendedores de gravata, bonés, chaveiros, etc.
Quando Jesus chamou seus discípulos, disse: “Segue-me” (Mt 8.22; Lc 5.27; 9.59; Jo 1.43), pois Ele não queria ter fãs. Mesmo assim, muitos o seguiam por admiração ou interesse. Sabiam que ele podia transformar água em vinho (Jo 2.1-12), fazer paralíticos andar (Jo 5.1-15) e multiplicar pães (Jo 6.1-15). Mas, depois de ouvirem o seu “duro discurso”, descobriram o que significava segui-lo e o abandonaram (Jo 6.22-71). E você, é apenas um fã de Jesus? Ou tem andado como Ele andou (1 Jo 2.6)?

5) Uma igreja conformada com o mundo

O porte modesto (1 Tm 2.9) está dando lugar a cabelos eriçados, cabeças rapadas, colares, lenços amarrados na cabeça, camisetas com a estampa da “banda” preferida, míni-saias, correntes, braceletes, brincos, anéis... Um repórter de TV referiu-se a um culto dito evangélico da seguinte forma, enquanto o cinegrafista mostrava jovens vestidos exoticamente:
“Você pensa que essa multidão veio assistir um show dos Guns’n’Roses? Não, eles vão participar de um culto evangélico!”
Infelizmente, muitos líderes estão conformados com isso, dizendo: “A tendência é essa mesma. Não adianta reprimir”. Mas a Bíblia diz que o salvo deve se vestir e se portar de maneira decente e modesta (1 Pe 3.3). Por essa razão, nunca devemos nos conformar com este mundo (Rm 12.1,2), mas resistir à pressão que o secularismo, ou melhor, o mundanismo exerce sobre a igreja (Tg 4.4-8).

6) Uma igreja despreocupada com a linguagem

Eis algumas frases proferidas por jovens da atualidade: “Jesus é dez”, “Vamos fazer um louvorzão pra JC”. Nota-se que o uso de gírias e palavras chulas já se tornou normal, e poucos ensinadores têm coragem de combater esse mal. Faz-se pouco caso da Bíblia, que nos ensina a ter uma “Linguagem sã e irrepreensível, para que o adversário se envergonhe, não tendo nenhum mal que dizer de nós” (Tt 2.8).
Em Efésios 4.29, há uma importante advertência: “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe [imoral, obscena, vil], mas só a que for boa para promover a edificação...” Isaías, quando se converteu, foi purificado pelo Senhor e não pronunciou mais palavras torpes (Is 6.1-8). Diante disso, os palavrões, as “piadinhas” e as gírias devem ser banidos do vocabulário cristão (Cl 3.8-10).

7) Uma igreja liberal

A frase “É proibido proibir”, empregada em 1968 por jovens hippies, que lutavam por liberação sexual e uso de drogas, vem sendo repetida por muitos pregadores! É verdade que Paulo reprovou proibições inúteis, provenientes da mente humana (Cl 2.20-22), mas não podemos negar que o Novo Testamento está repleto de sérias proibições (Rm 13.9; 1 Co 6.10; Tg 5.12; Gl 5.17-21), para as quais devemos atentar.

8) Uma igreja movida a shows

Há mais de dez anos, também li, com espanto:
“... os evangélicos da pesada são um fenômeno recente e caracterizam-se pela liberalização dos hábitos, pelo uso do rock e do funk, pelas roupas coloridas e pelo marketing agressivo para conquistar a juventude” (Veja, 08/6/94).
De lá para cá, músicas pesadas entraram com facilidade em nossos templos. Algumas canções ditas cristãs sequer mencionam o nome de Jesus, e outras, não bastasse isso, possuem letras do tipo “quero sentir você me tocar”, reforçadas por melodias voluptuosas.
Com a ascensão da chamada música gospel, o exibicionismo entrou em cena. Nossos púlpitos viraram palcos, e os cantores passaram a ser vistos como astros. Alguns chegam a trocar de roupa várias vezes em suas apresentações. Muitos cobram cachês e agem como os cantores mundanos (de fato, o são, segundo Mateus 7.20), dançando e até rebolando. Tudo isso ocorre com a permissão de líderes que se esqueceram de que o púlpito, um lugar sagrado, deve ser ocupado por pessoas consagradas.
Unamo-nos, pois, em prol de uma igreja cheia do Espírito, avivada, perseverante na doutrina e mantenedora dos princípios verdadeiramente cristãos. Ou será que preferimos os padrões apresentados?


Ciro Sanches Zibordi

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Faça comentários produtivos no amor de Cristo com a finalidade de trazer o debate para achar a verdade. Evite palavras de baixo calão, fora do assunto ou meras propagandas de outros blogs ou sites.

Marcadores

1º TRIMESTRE 2012 1º TRIMESTRE 2013 1º TRIMESTRE 2014 1º TRIMESTRE 2015 1º TRIMESTRE 2016 1º TRIMESTRE 2018 2º TRIMESTRE 2012 2º TRIMESTRE 2013 2º TRIMESTRE 2014 2º TRIMESTRE 2015 2º TRIMESTRE 2016 3º TRIMESTRE 2012 3º TRIMESTRE 2013 3º TRIMESTRE 2014 3º TRIMESTRE 2015 3º TRIMESTRE 2016 3º TRIMESTRE 2023 4º TRIMESTRE 2008 4º TRIMESTRE 2011 4º TRIMESTRE 2012 4º TRIMESTRE 2013 4º TRIMESTRE 2014 4º TRIMESTRE 2015 4º TRIMESTRE 2016 4º TRIMESTRE 2018 4º TRIMESTRE 2023 ABEL ADORAÇÃO ADULTÉRIO ADULTOS AÉCIO NEVES AGENDA AGIOTAGEM ALEGRIA ALEXANDRE COELHO AMIGOS AMIZADE AMY WINEHOUSE ANCIÃO ANO NOVO ANTÔNIO GILBERTO APOLOGÉTICA APOSTOLO ARROGÂNCIA ATIVISMO ATOR AUGUSTUS NICODEMUS LOPES BABILÔNIA BIBLIOLOGIA BISPO BOLSONARO BRASIL C. H. BROWN CAIM CALVÁRIO CASAMENTO CHARLES HADDON SPURGEON CHARLES R. SWINDOLL CIRO SANCHES ZIBORDI CLAUDIONOR DE ANDRADE CÓDIGO DA VINCI COMENTÁRIOS COPA DO MUNDO CORDEIRO CORRUPÇÃO CPAD CRIANÇAS CRIME CRISTO CRITICAS CUBA DANIEL DENZEL WASHINGTON DEPUTADOS DESIGREJADOS DEVOCIONAIS DIÁCONO DILMA ROUSSEFF DINHEIRO DIVÓRCIO DONS ESPIRITUAIS DOUGLAS BATISTA DOUTOR EBD ECLESIASTES EDUCAÇÃO ELIAS ELIENAI CABRAL ELIEZER DE LIRA E SILVA ELIEZER RODRIGUES ELINALDO RENOVATO ENTREVISTA ENVELHECER EPÍSTOLA DE TIAGO EPÍSTOLAS ESCATOLOGIA ESCOLA DOMINICAL ESEQUIAS SOARES ESTUDOS EUNÁPOLIS EVANGELHOS EVENTOS ÊXODO EXPOSITIVO F FÁBULAS FAMÍLIA FARSA FÉ E OBRAS FEMINISMO FERNANDO HENRIQUE CARDOSO FESTA FILHOS FILIPENSES FILMES FORNICAÇÃO FOTOS GENESIS GEREMIAS DO COUTO GLOBO GOMORRA GRATIDÃO HERESIAS HERNANDES DIAS LOPES HERRY POTTER HOMILÉTICA HOMOSSEXUALIDADE HUMILDADE ILUSTRAÇÕES ÍMPIOS INCLUSÃO INFRAESTRUTURA INIMIGOS INIMIZADE INVESTIGAÇÃO ISRAEL JAIR JEAN WYLLYS JEJUM JOHN ANKERBERG JOHN WELDON JORDÃO JOSÉ GONÇALVES JOVENS JUSTOS LARRY WILSON LAVA JATO LEIS LIBERALISMO LIÇÕES BÍBLICAS LIDERANÇA LÍNGUA LITICA LUCAS LUIS INÍCIO LULA DA SILVA MAGNO MALTA. MANDAMENTOS MAR VERMELHO MARCHA PARA JESUS MARCHISMO MARCO FELICIANO MARCOS MARIA MARINA SILVA MARIO SALES MARK BROWN MARTA MARTINHO LUTERO MENSAGENS MESTRE MOISÉS MULHER MUSICA MYLES MUNROE NAMORO NAMOROj NATAL NELSON NED NETO GUERRIERI NORBERT LIERTH NOTÍCIAS NOVELAS OBREIROS ÓDIO OPERAÇÃO ORAÇÃO OS DEZ MANDAMENTOS OSTENTAÇÃO PARÁBOLA PASCOA PASTORAIS PERDÃO PETROBRAS PETROLÃO PILATOS POLICIA POLITICA PORNOGRAFIA PREFEITOS PREGADORES PRESBÍTERO PRESIDENTE PROFETAS PROSPERIDADE PROTESTO PROVAÇÕES PROVÉRBIOS REFLEXÕES REFORMA REINALDO AZEVEDO RELIGIÃO RENATO BROMOCHENKEL REYNALDO ODILO ROMANOS SABEDORIA SACERDOTES SALMOS SALVAÇÃO SAMUEL F.M. COSTA SAMUEL VIEIRA SANTIFICAÇÃO SEGURANÇA SELEÇÃO BRASILEIRA SENADOR SÉRIES SERMÃO DO MONTE SERMÕES SEXO SEXUALIDADE SILAS DANIEL SILAS MALAFAIA SILAS QUEIROZ SODOMA TEMOR TEMPERAMENTOS TENTAÇÃO TEOLOGIA TESTEMUNHO TRABALHO VEREADOR VIDA CRISTÃ VIDEOS VINDA DE CRISTO VIOLÊNCIA WANER GABY WARREN WIERSBE WILLIAM MACDONALD XUXA