Lição 1: Paulo e a igreja de Filipos.- Identificação, Saudação e Ação de Graças

Filipenses 1.1-11 - Paulo e Timóteo, servos de Jesus Cristo, a todos os santos em Cristo Jesus que estão em Filipos, com os bispos e diáconos: graça a vós e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e da do Senhor Jesus Cristo. Dou graças ao meu Deus todas as vezes que me lembro de vós, fazendo, sempre com alegria, oração por vós em todas as minhas súplicas, pela vossa cooperação no evangelho desde o primeiro dia até agora. Tendo por certo isto mesmo: que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao Dia de Jesus Cristo.
Como tenho por justo sentir isto de vós todos, porque vos retenho em meu coração, pois todos vós fostes participantes da minha graça, tanto nas minhas prisões como na minha defesa e confirmação do evangelho. Porque Deus me é testemunha das saudades que de todos vós tenho, em entranhável afeição de Jesus Cristo. E peço isto: que a vossa caridade aumente mais e mais em ciência e em todo o conhecimento. Para que aproveis as coisas excelentes, para que sejais sinceros e sem escândalo algum até ao Dia de Cristo, cheios de frutos de justiça, que são por Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus.

Nos primeiros onze versículos dessa Carta, trataremos de aspectos iniciais que envolvem saudação, lembranças e a oração do apóstolo em favor da igreja. A motivação da Carta acontece depois de Paulo ter sido preso e levado para Roma mediante o seu apelo ao imperador para ser julgado em Roma e aguardar julgamento naquela cidade (At 22—25). Como prisioneiro, ele podia morar numa casa alugada e até receber a visita de amigos. Porém, certo dia, apareceu um cristão fiel de Filipos que tinha o nome de Epafrodito, o qual havia trazido notícias dos irmãos filipenses e uma generosa oferta de amor para suprir as necessidades do apóstolo. Esse gesto amoroso da igreja de Filipos comoveu o coração do apóstolo. As notícias não eram tão boas, pois estava havendo discórdia entre os cristãos acerca de problemas de ordem social e também de ordem doutrinária. Por esse motivo, o apóstolo Paulo escreve aos filipenses, não só para agradecer a oferta enviada, mas também para orientar a igreja acerca das verdades do evangelho, refutando as distorções doutrinárias.

Na parte introdutória deste livro, abordamos aspectos gerais que envolvem geografia, história e propósito da Carta. Indiscutivelmente, essa é uma das mais belas Cartas do apóstolo Paulo escrita enquanto estava preso em dois possíveis locais: Cesareia e Roma, entre os anos 60 e 63 d.C. Os estudiosos dessa Carta encontram dificuldades para estabelecer datas e locais precisos. O que importa é que essa carta foi escrita enquanto Paulo esteve preso e outras cartas do apóstolo foram escritas às demais igrejas na Ásia Menor, Grécia e Europa.

As cartas da prisão tornaram-se epístolas doutrinárias que não somente ensinavam as doutrinas de Cristo, mas orientavam os cristãos quanto ao comportamento que deviam ter em relação ao mundo hostil daqueles dias contra a Igreja. Porém, essa Carta é um libelo de amor e gratidão aos filipenses pelo cuidado deles com os obreiros que serviam a Cristo.

A Chegada do Evangelho a Filipos (At 16.11-40)

Graças ao grande apóstolo Paulo e o seu espírito missionário, a igreja de Cristo não ficou restrita apenas aos judeus. Ele entendeu que o Reino de Deus não podia ficar limitado às terras da palestina e levou a mensagem de Cristo ao mundo gentio. Daí por que ele é chamado “apóstolo dos gentios” (At 11.18; Rm 11.13). Esse sentimento o fez chegar à Ásia Menor, à Macedônia e a todas as ilhas habitadas daqueles mares. Foi movido por esse sentimento que o evangelho chegou a Filipos, na Macedônia.

Lucas, médico e escritor, autor de Atos dos Apóstolos, teve o cuidado de relatar todas as viagens missionárias do apóstolo Paulo, além de ser um amigo e companheiro nas suas privações e lutas em todas as andanças pelo evangelho de Cristo.

Por volta do ano 52 d.C., aproximadamente, Paulo empreendeu sua segunda viagem missionária acompanhado por dois outros companheiros, Silas e Timóteo (At 15.40; 16.1-3). Tudo indica que Lucas fazia parte dessa comitiva pelo uso da terceira pessoa do plural em Atos 16.11-13. De início, Paulo e seus companheiros dirigiam-se à sinagoga dos judeus da cidade com o fim de encontrar judeus com os quais pudesse falar sobre a nova doutrina. Como não havia uma sinagoga, Paulo dirigiu-se a um lugar público e informal onde homens e mulheres faziam orações e discutiam sobre religião.

A história da missão de Paulo e seus companheiros em Filipos ganha importância conforme o relato de Atos 16. Os primeiros registros de pessoas que aceitaram a Cristo, inicialmente, foram três: Lídia, uma mulher comerciante que negociava com púrpura e tintura (At 16.14); a jovem endemoninhada que foi liberta de um espírito maligno (At 16.16-18); e a família toda do carcereiro da cidade (At 16.23-33). Lídia era da Ásia, a jovem endemoninhada era grega e o carcereiro era cidadão romano. Naturalmente, outras pessoas aderiram à mensagem do evangelho pregada por Paulo, formando um grupo de cristãos na cidade. 
Lídia tornou-se uma líder, convertendo-se a Cristo e levandoo primeiro grupo de cristãos para sua casa. Foi na casa dessa mulher que a igreja teve início na cidade Filipos.

Autoria e Destinatários

1. Paulo e Timóteo (1.1)
O apóstolo Paulo tinha a Timóteo como um filho e seu auxiliar direto na vida missionária. Por isso, coloca-o como coautor dessa Carta, e certamente de outras escritas às igrejas formadas do seu labor missionário. Naturalmente, a autoria principal era de Paulo que, certamente discutia com Timóteo os assuntos de sua preocupação a serem lembrados no conteúdo da Carta. Paulo não gozava de boa saúde e tinha dificuldades com a visão exigindo o auxílio constante para escrever os seus pensamentos.

A forma de escrever uma carta naquela época continha três elementos: iniciava com o nome do rementente, depois o nome do destinatário e os cumprimentos aos destinatários. Ainda que Paulo, por consideração especial a Timóteo, o coloque junto do seu nome como autores, o conteúdo da Carta é todo de Paulo e ele começa “dou graças a Deus”.

“Paulo” (1.1) — O autor da Carta, responsável pela igreja de Filipos. Para entender a preciosidade dos pensamentos de Paulo se faz necessário conhecer mais intimamente o personagem. Era judeu de sangue, da tribo de Benjamim (Rm 11.1), e natural de Tarso, na Cilicia. Sua cultura advinha de três mundos distintos: judaica, grego e romano. Os antagonistas da sua teologia afirmam que Paulo foi influenciado fortemente pela cultura grega, mas, na verdade, os fundamentos da teologia judaica foram a base para a teologia cristã, da qual Paulo foi o principal construtor. Em termos de liderança, Paulo se tornou o apóstolo mais influente. Ele teve a coragem de aceitar o desafio da missão evangelizadora para os gentios e ficou conhecido como o “apóstolo dos gentios” (At 9.15). Nas suas cartas, ele se identificava sempre pelo primeiro nome, “Paulo”, e na Carta aos Filipenses ele inicia de modo diferente das demais cartas. Em geral, ele começa identificando seu apostolado, mas nessa Carta ele acrescenta o nome de Timóteo, seu companheiro de viagem, e faz saudações à igreja de Filipos.

“... e Timóteo” (1.1) — Ao mencionar Timóteo, o apóstolo Paulo demonstra a importância do companheirismo de Timóteo. Perce- be-se que este foi alguém muito especial nas atividades de formação e fortalecimento das igrejas. Ele foi um companheiro de viagem de Paulo a partir da segunda viagem missionária e demonstrou em todo o tempo lealdade, fidelidade aos princípios do evangelho e participante nas aflições pelo nome de Cristo. Paulo o preparou para ser um autêntico pastor como de fato foi em Efeso.

“... servos de Jesus Cristo” (1.1) — Antes de apresentar-se por títulos que reforçassem suas posições diante dos cristãos de Filipos, Paulo declara que eles eram apenas “servos de Jesus Cristo”. Russell Shedd - missionário e escritor de grande profundidade, reconhecido em toda a America Latina e, atualmente, missionário no Brasil - explora o sentido literal da palavra “servo” no original grego doulos, que sugere a ideia de escravo voluntário que serve com alegria e regozijo, para agradar ao seu senhor. Ora, o Senhor de Paulo e Timóteo era Jesus Cristo. Na Carta aos Romanos, Paulo diz que foi chamado para “ser servo de Jesus Cristo” (Rm 1.1,6). Como tornar-se servo de Jesus Cristo? O mesmo apóstolo diz que o servo é um escravo que obedece a um senhor e a ele pertence por direito de compra. Em

1 Coríntios 6.20, está escrito: “Fostes comprados por bom preço” e isso significa que fomos comprados por Cristo. Na verdade, fomos redimidos por seu sangue, porque éramos escravos do pecado (Rm 6.17). Se somos escravos de Jesus Cristo, servimos a Ele, porque nos comprou e pagou o preço do seu sangue (Ef 1.7).

“... aos santos... que estão em Filipos” (1.1) — Difere o tratamento do apóstolo aos cristãos que viviam em Filipos. Ele os chama “santos”, porque se referia àqueles que foram salvos e separados para viver uma nova vida em Cristo Jesus (2 Co 5.17). Era o tratamento que Paulo dava a todas as igrejas. Ele fortalecia a ideia de um estado de santidade ativa porque viviam e exerciam sua fé “em Cristo Jesus”. Essa expressão “em Cristo Jesus” era também usada em outras cartas para ilustrar a relação dos crentes com Cristo. Tratava-se de uma relação íntima como existe entre a “videira e os ramos” (Jo 15.1-7; 1 Co 12.27). Os destinatários, portanto, são chamados “santos” porque foram separados para viver para Cristo. A igreja romana identifica como “santos” os que já morreram. Porém, o contexto teológico indica que “santos” são todos quantos servem ao Senhor Jesus em vida física. O significado da palavra “santo” é “separado”. Os crentes em Cristo, independentemente de suas fraquezas, são os “separados” para servirem a Cristo. A santidade pode ser vista sob dois ângulos: posicionai e a progressiva. Posicionalmente, todos quantos estão em Cristo Jesus são considerados “santos”. Progressivamente, todos os vivos em Cristo aperfeiçoam a vida cristã buscando a separação de toda e qualquer ação pecaminosa.

2. A liderança da igreja (1.1)
Fazia parte da vida da igreja uma liderança especial identificada pelos “bispos e diáconos” que serviam na igreja de Filipos. No grego bíblico, a palavra “bispo” é epíscopos e tem o sentido de supervisor. Como a palavra “bispos” está no plural, subentende-se que se tratava dos líderes principais da igreja. Em outras partes do Novo Testamento, destaca-se a função do presbítero, cuja função essencial era a liderança local, submetida, naturalmente, a um pastor ou bispo da igreja. A palavra episkope refere-se também à pessoa do bispo, do líder, do pastor local. Paulo não teria citado essa palavra se não houvesse bispos na igreja de Filipos. O sistema atual de governo eclesiástico usa o termo pastor, cuja função é a mesma referente ao bispo.

Todavia, Paulo saúda também aos “diáconos”, cuja função era a mesma estabelecida em Atos 6.1-6. Os diáconos cuidavam da administração material da igreja. Com os dois tipos de liderançano seio da Igreja, Paulo entende que devem merecer apoio e apreciação pelo seu trabalho na vida eclesiástica. Ele dá importância à liderança espiritual da igreja. O padrão básico instituído nas igrejas do primeiro século tinha em sua liderança “bispos”, ou seja, líderes espirituais responsáveis pela igreja local, e tinha “diáconos” que serviam à igreja na liderança dos bispos.

Saudações Iniciais de Paulo (1.2)

Na cultura hebraica (judaica) a saudação utilizada entre as pessoas da raça era “Paz”, que aparece no hebraico como Shalom. A ideia básica sugerida por shalom e com sentido mais profundo é o de estabelecer uma trégua para um conflito. Sugere, também, algo que produz tranquilidade, harmonia e bem-estar depois de uma guerra.

A partir do Novo Testamento, os apóstolos acrescentaram a palavra “graça” para denotar a fonte da salvação em Cristo Jesus. A saudação tornou-se um hábito, não uma regra, para “graça e paz”. A palavra “graça” é charis, que denota a obra redentora de Deus Pai por intermédio de seu Filho Jesus Cristo.

Normalmente, nas cartas comuns da época, o remetente se limitava a desejar saúde e bem-estar ao destinatário. Note que a saudação não é algo estereotipado, mas é forma especial de falar que a graça tem sua fonte em Deus, que revelou Jesus Cristo como Senhor e Salvador.

Ação de Graças e Oração (1.3-6)

1. As razões gratulatórias da sua oração
Ao dar graças a Deus pela lembrança que vinha a sua mente acerca dos cristãos de Filipos, ele está, de fato, afirmando que apesar de estar preso fisicamente, sabia que os irmãos permaneciam firmes na fé sem se deixar levar pelo engano dos falsos mestres que tentavam desmerecer todo o trabalho feito anteriormente.

Ele estava preso, mas a Palavra de Deus continuava livre.Mesmo sendo prisioneiro de Cesar (de Roma), a lembrança da igreja lhe dava forças para recordar e enviar a Palavra de Deus que ninguém podia prendê-la. Ele não podia estar comungando fisicamente com os filipenses, mas podia orar por eles, pois a oração não tem fronteiras.

2. Uma oração de gratidão (1.3,4)
"... todas as vezes que me lembro de vós” (1.3) sugere a importância de valorizarmos a história e as pessoas que fizeram parte dessa história. A falta de memória tem produzido distorções dos nossos valores, e o espírito de gratidão tem se tornado raro em nossos dias. Em seus pensamentos, Paulo lembrava a experiência amarga que tivera juntamente com Silas em Filipos, quando foram arrastados à presença das autoridades e condenados (At 16.19). Foram açoitados publicamente e, com vestes rasgadas e o corpo ferido, foram colocados no cárcere da cidade, com os pés presos em troncos dentro da cadeia. Porém, a recordação maior daquela prisão vivida por Paulo e Silas era o livramento que Deus lhes deu e a conversão do carcereiro, depois do terremoto. O sentimento mais forte na mente e no coração de Paulo era a convicção de que, naquele momento, ele estava preso, mas a Palavra de Deus não estava algemada. Paulo entende ainda que ele, de fato, era prisioneiro de Cristo, e não de César. Podiam colocar algemas no homem Paulo, mas não podiam algemar o evangelho de Cristo. Para o evangelho de Cristo, que é a manifestação da Palavra de Deus, não há limitação geográfica ou física. A Palavra de Deus é poderosa e livre para operar na vida das pessoas. Suas orações não se restringiam às paredes de uma cela, porque elas lhe davam consolo e certeza de estar sendo ouvido. Suas orações lhe proporcionavam alegria de espírito.

'‘...fazendo, sempre com alegria, oração por vós em todas as minhas súplicas" (1.4). Parece um contrassenso, ou um paradoxo, reunir súplica com alegria, mas isso só é possível quando se tem o Espírito Santo dentro de si. Ele nos habilita a superarmos astristezas e necessidades produzindo um gozo interior (alegria) que nada no mundo seria capaz de produzir. A igreja de Filipos dava a Paulo alegria pura quando pensava nela.

Que significam essas súplicas? No grego bíblico, a palavra “súplica” é deesis, e é substantivo de deomai, que significa “tornar conhecida uma necessidade específica”. Paulo não faz uma oração qualquer, sem uma intenção precisa. Ele faz um pedido a Deus pela igreja de Filipos. Na verdade, a súplica que Paulo faz em favor da igreja tem um caráter intercessório que se origina na compreensão da necessidade da igreja. Mais tarde, Paulo reforça essa oração quando diz: “O meu Deus, segundo as suas riquezas, suprirá todas as vossas necessidades em glória” (4.19). Dos vários tipos de oração, a intercessão toca o coração de Deus.

3. Paulo faz uma oração de gratidão pela cooperação dos filipenses na disseminação do evangelho (1.5)
“... pela vossa cooperação” (1.5). A palavra cooperação ganha um sentido especial nas orações do apóstolo porque ele ora não só por seus filhos na fé, mas agradece a Deus a cooperação deles na disseminação do evangelho. Essa cooperação referia-se aos donativos enviados pela igreja por intermédio de Epafrodito (2.25). Quando fala de cooperação, está de fato trazendo à tona o carinho e a comunhão dos cristãos de Filipos (At 2.42; 1 Jo 1.3,7). Por essa oração, ele lembra a participação nas lutas pelo evangelho e a contribuição financeira espontânea para sustentar os servos de Deus (Fp 4.15,16; 2 Co 8.1-4; 9.13; Rm 15.26). Enquanto os filipenses cooperavam, os coríntios fechavam a mão (1 Co 9.8-12).

4. Uma oração de gratidão pela intimidade espiritual dos filipenses com o seu ministério (1.6-8)
“... tendo por certo isto mesmo” (1.6). Na ARA, a expressão é “estou plenamente certo”, indicando que a “boa obra” não é outra coisa que não seja “a salvação recebida”. Paulo não tinha dúvidasquanto à salvação. Ele estava totalmente convicto acerca da salvação e sabia que nada poderia frustrar ou interromper a obra de Deus na vida dos crentes que a receberam (Rm 8.26-39).

“... aquele que em vós começou a boa obra” (1.6). Que “boa obra” era esta? Paulo atribui a “boa obra” a Deus por meio de Jesus Cristo. A “boa obra” não é outra coisa senão aquela que só Deus pode operar. Trata-se de uma obra da qual os crentes participam em termos de pregar o evangelho a outras pessoas. Deus não faz só essa obra, mas requer pessoas que se tornam cooperadoras na sua obra (1 Co 3.9). Porém, Paulo agradecia a Deus pelos filipenses, porque eles participavam da mesma graça do evangelho com o apóstolo (1.7). Era, de fato, a identificação de uma intimidade espiritual que ele gozava na presença de Deus, mesmo estando algemado. Paulo tinha um carinho especial pela igreja de Filipos e demonstra uma forte afeição pelos filipenses como uma prova de amor que deve existir entre o pastor e suas ovelhas (Fp 1.8).

“... aperfeiçoará até ao Dia de Jesus Cristo” (1.6). A obra de aperfeiçoamento é progressiva, paulatina. Ela vai sendo desenvolvida até a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. O que se entende por “até ao Dia de Jesus Cristo”? A expressão: “dia de Jesus Cristo” refere-se ao tempo da volta do Senhor Jesus, que acontecerá em duas fases distintas. A primeira fase é o arrebatamento da Igreja, que acontecerá de modo invisível e será um evento apenas para a igreja sobre as nuvens (1 Ts 4.13-17). A segunda fase da volta de Jesus será visível para a terra e ocorrerá no final da Grande Tribulação, quando Jesus descerá para desfazer o poder da trindade satânica: o anticristo, o falso profeta e o Diabo. Ele irá instalar um novo reino e domínio na terra a partir da Jerusalém terrestre (2 Ts 2.7-9). O termo “dia” no contexto dessa escritura abrange os dois eventos: sua vinda sobre as nuvens e sua vinda com as nuvens. A essência da escritura indica dois aspectos importantes acerca da salvação: a perfeita e a progressiva. A salvação perfeita refere-se à obra perfeita que Jesus realizou no Calvário. Trata-se de uma obra perfeita e completa.Mas o que Paulo quis enfatizar com a palavra “até” é a dinâmica da salvação progressiva a qual o Senhor vai aperfeiçoando até a sua vinda. A consumação da salvação se dará no Dia de Jesus Cristo. Tudo o que depende de nós é a nossa perseverança na fé até aquele dia.

Nos versículos 7 e 8, o apóstolo Paulo faz um interlúdio na sua carta para afirmar aos filipenses a sua profunda afeição e o respeito por eles pelo fato de participarem da sua vida de modo especial. Quando diz “vos retenho em meu coração” (v. 7), na forma grega pode ser traduzida como “vós me tendes em vosso coração”. No versículo 8, Paulo expressa seu amor e gratidão pelos seus amigos filipenses por participarem dos seus sofrimentos, das suas tristezas e também das suas alegrias.

O Conteúdo da Oração Intercessória pelos Filipenses (1.9-11)

O apóstolo sabia o que estava fazendo e por que fazia. Por isso, sua oração não era vazia de sentido e de conteúdo. A expressão que temos na Almeida Revista e Corrigida é “e peço isto”, e na Almeida Revista e Atualizada o texto diz o seguinte: “E também faço esta oração”. Na verdade, Paulo fez orações de ação de graças pelos filipenses, mas revela no versículo 9 o conteúdo de sua petição por eles.

Que aumente mais e mais o amor (1.9). Paulo entendia que a igreja precisava crescer, não apenas em quantidade, mas em qualidade. Ele não via falta de amor. Pelo contrário, Ele ora para que o amor existente aumente ainda mais, porque sabia que o amor estagnado faz com que tudo fique estagnado. O amor vivido na vida dos filipenses precisava ainda mais ser dinamizado. Ele conseguia vislumbrar o amor numa dimensão muito maior, que deve ser demonstrado em ação. O amor é a base de sustentação da obra de Deus. Se faltar o amor, a obra irá padecer e sucumbir. Porém, não basta apenas o amor humano. E necessário que o amor de Deus seja derramado nos corações (Rm 5.5). A habitação do Espírito dentro da vida interior do crente produz “o fruto do Espírito”. Das nove qualidades do fruto do Espírito, o amor aparece em primeiro (G1 5.22).pode crescer? O apóstolo Paulo indica o caminho para o aumento do amor: através do conhecimento e da ciência, que aqui neste contexto refere-se ao “discernimento”. Várias vezes encontramos a palavra “conhecimento” traduzida do grego epignosis, que se entende por conhecimento espiritual, religioso e teológico. Crescer em conhecimento mediante a operação regeneradora do Espírito na vida do pecador, que o torna apto a conhecer a verdade (1 Tm 2.4; 2 Tm 2.25; Hb 10.26). O amor de Deus na vida abre o tesouro do conhecimento na vida do crente e o torna maduro para a salvação (Ef 4.13).

Paulo orava para que o amor transbordasse em conhecimento e compreensão espiritual a vida cristã dos filipenses. Ele orava para que esse amor lhes desse a capacidade de ver com toda a clareza (“ciência”) a diferença entre o certo e o errado, e que não precisassem sofrer a censura de quem quer que seja até ao Dia de Cristo.

A capacidade para discernir as coisas excelentes (1.10). A expressão que aparece na versão Corrigida é “que aproveis”. “Discernir” no grego bíblico é aisthesis traduzido como “percepção”. O termo refe- re-se a uma capacidade de perceber entre o certo e o errado. Porém, um dos dons do Espírito (1 Co 12.10) é “discernir os espíritos”, que implica uma capacidade espiritual e sobrenatural. Não se trata de apenas obter percepção moral. A palavra “aprovar” descrevia o ato de analisar e provar o valor de um metal ou de uma moeda, para saber se era falsa ou verdadeira. Quando Paulo usa a expressão “coisas excelentes”, referia-se às coisas genuínas, coisas que diferem e fazem distinção entre aquilo que é excelente e verdadeiro e o que é falso e adulterado. A capacidade de saber escolher o que é melhor pode ser uma capacitação do Espírito com “o dom de discernimento espiritual”. Esse dom se manifesta na vida do cristão, dando4he condições de saber julgar sensatamente as coisas.

A graça da sinceridade e da inculpabilidade no dia de Cristo (1.10). Subentende-se que a sinceridade e a inculpabilidade no dia de Cristoresultarão do comportamento que o crente tem em sua vida íntima e na vida pública.

A palavra “sincero” aparece no texto original como eilikrines, que na sua etimologia pode ter dois significados. O prefixo eili, que significa “luz solar” e o sufixo do termo krines ou krinei, com o sentido de julgar. A união desses dois termos para formar a palavra eilikrines significa que, no ato de aprovação, o crente sincero é capaz de suportar e passar pela luz solar que não esconde nada errado ou impróprio. E como movimentar uma peneira à luz do sol para revelar as sujeiras, como a peneira que separa a palha do trigo. Isso fala de pureza, de isenção moral e de contaminação. Os sinceros serão provados e, uma vez aprovados, serão considerados inculpáveis.

Já a palavra “inculpáveis” aparece no grego como aproskopos, cujo sentido é, no sentido negativo, aquilo que não leva ao pecado. Na ARC, a expressão é “sem escândalo”, e dá a ideia de “alguém inofensivo, que não tropeça, que não cai em pecado”. Manter uma vida cristã inofensiva, que não tropeça nem leva outros a tropeçar requer do crente a ajuda do Espírito Santo para que nenhuma falta de ordem moral, física ou espiritual venha afetar ou manchar sua reputação como cristão. Paulo falou em outra ocasião, em Atos 24.16, sobre o “ter uma consciência sem ofensa”. Ora, sabemos que o Dia de Cristo só acontecerá após o arrebatamento da Igreja, quando os salvos comparecerão diante do Tribunal de Cristo (2 Co 5.10) para que suas obras sejam avaliadas e recebam a recompensa. Para chegarmos no Dia de Cristo, precisamos viver uma vida de sinceridade e inculpabilidade. Paulo diz aos tessalonicenses que deveriam conservar uma vida irrepreensível para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo (1 Ts 5.23).

O fruto da justiça reproduzido na vida dosfilipenses (1.11). Paulo usa a palavra fruto em sentido ético, para falar de colheita de justiça. Os frutos são suas obras más ou boas. E pelos frutos que se conhece a qualidade da árvore. Os bons frutos de uma árvore boa, aprovada por Deus, produzem “amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão e temperança (G1 5.22). A justiça que vem Deus produz um fruto que se manifestacom perfeição em seu próprio caráter e obra. Na verdade, Paulo desejava que os crentes de Filipos não fossem estéreis, mas cheios de frutos “para a glória e louvor de Deus”.

As circunstâncias adversas no ministério eram amenizadas com a demonstração de amor das igrejas que foram plantadas por Paulo. Nesse sentido, ele tinha razões sobejas para agradecer a Deus por aqueles a quem amava.


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