Lição 7: A atualidade dos conselhos Paulinos. - Advertências Pastorais à Igreja

A verdadeira circuncisão é operada no coração, não na carne. Resta, irmãos meus, que vos regozijeis no Senhor. Não me aborreço de escrever-vos as mesmas coisas, e é segurança para vós. Guardai-vos dos cães, guardai-vos dos maus obreiros, guardai-vos da circuncisão!
Porque a circuncisão somos nós, que servimos a Deus no Espírito, e nos gloriamos em Jesus Cristo, e não confiamos na carne. Ainda que também podia confiar na carne; se algum outro cuida que pode confiar na carne, ainda mais eu: circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus, segundo a lei, fui fariseu, segundo o zelo, perseguidor da igreja; segundo a justiça que há na lei, irrepreensível. Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo. E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas e as considero como esterco, para que possa ganhar a Cristo e seja achado nele, não tendo a minha justiça que vem da lei, mas a que vem pela fé em Cristo, a saber, ajustiça que vem de Deus, pela fé; para conhecê-lo, e a virtude da sua ressurreição, e a comunicação de suas aflições, sendo feito conforme a sua morte; para ver se, de alguma maneira, eu possa chegar à ressurreição dos mortos. (Filipenses 3.1-11)


Neste capítulo, a preocupação do apóstolo Paulo é focada na preservação da fé em face de a Igreja em Filipos estar sob ataque de falsas doutrinas. Embora não haja nenhuma evidência de que a igreja estivesse sucumbindo às falsas doutrinas, e não se tinha notícias de que algum irmão na fé tivesse se desviado do evangelho, Paulo sabia que as ameaças eram evidentes. Ele, então, descreve suas experiências no judaísmo e sua conversão a Cristo, tornando-o um verdadeiro representante do evangelho.

O texto do capítulo 3 fala dessa preocupação do apóstolo Paulo e, especialmente, com os “maus obreiros” que se aproveitavam da sua ausência para injetar as falsas doutrinas no seio da igreja. Por três vezes Paulo diz: “... Acautelai-vos... Acautelai-vos... Acautelai- vos” como alerta para o perigo dessas falsas doutrinas. Inicialmente, Paulo dá a impressão de que estava concluindo a carta. Contudo, em sua mente afloraram outras preocupações, levando-o a continuar tratando dos assuntos em questão.

A Alegria que Fortalece a Fé (3.1)

Prevalece em toda a Carta a alegria que alimentava a alma do apóstolo frente a todas as adversidades que enfrentava. Em meio à tribulação, às ameaças e ataques dos inimigos, Paulo tinha a sensação de contínuo triunfo, a exultação de se sentir mais que vencedor à medida que os sofrimentos iam proporcionando o gozo do Espírito no seu interior. Na verdade, Paulo faz um prelúdio solene do gozo que sentia para falar de outros assuntos.

“Resta, irmãos meus” (3.1) é uma frase que aparece no texto grego como to loipon, traduzida como “finalmente” ou “algo restante”. Esse “algo restante” havia deixado sua mente em polvorosa porque ele sabia dos falsos mestres que haviam entrado na igrejacom falsas doutrinas. Ele tinha ainda algo a dizer aos irmãos da igreja em Filipos. Porém, para falar de assuntos tão graves, ele apela ao regozijo espiritual como reforço da fé. Quando ele diz que “resta ainda...” era porque muita coisa escreveria até ao final da carta demonstrando seu cuidado com os ataques judaizantes que tentavam perverter o evangelho ensinado por Paulo.

1. Por que Paulo apela a igreja por regozijo?

Paulo sabia, por experiência própria, que seria difícil aos fi- lipenses suportar o aborrecimento produzido por aqueles falsos obreiros. Era um aborrecimento que afetaria a fé e diminuiria o entusiasmo por Cristo. Portanto, a solução mais eficaz para superar essas dificuldades era manutenção da alegria espiritual. Quando ele diz: “Resta ainda”, indicava que algo havia acontecido e que ele era conhecedor disso. Por isso, Paulo demonstra e apela para que o regozijo na presença de Deus fosse a força maior de superação de todas as tribulações que estavam enfrentando.

2. Qual o sentido da expressão “regozijai-vos”?

“'que vos regozijeis no Senhor” ( 3.1). Trata-se de uma exortação especial no sentido de que a alegria do Senhor é produzida pelo Espírito Santo no coração do crente. Essa alegria não era uma alegria comum, mas era algo sobrenatural que lhe dava condições de superar as dificuldades. Paulo entendia que esse regozijo era como uma parede de proteção e segurança de que aquilo que haviam recebido do Senhor era genuíno e verdadeiro. Para o apóstolo Paulo, na prisão, a alegria do Senhor era algo que alimentava a sua alma tensa e preocupada com a vida cristã dos filipenses.

O regozijo no Senhor é um gozo produzido por Ele. E diferente da alegria da carne que explora apenas a adrenalina nas veias do corpo, ou a alegria apenas superficial que se acaba facilmente. A alegria do Senhor é algo permanente que torna o crente apto a superar as adversidades da vida. Paulo era alimentadoem suas emoções com esse gozo espiritual nos seus sofrimentos. Por isso, ele podia falar desse gozo como uma experiência que produzia capacidade de suportar os sofrimentos, não apenas físicos, mas aqueles que produzem tristeza, angústia, dissabor e mágoa. Uma das qualidades do fruto do Espírito é “gozo” (G15.22), que na língua grega é chara. Esse gozo nada tem a ver com alguma emoção passageira. O Comentário Bíblico Pentecostal apresenta o termo gozo de Gálatas 5.22 dizendo que o gozo do Espírito “é aquele conhecimento arraigado de que somos salvos no presente, ainda que a nossa redenção plena resida no futuro” (1 Jo 3.2). Esse gozo produz no crente uma confiança prazerosa de que, independentemente das circunstancias pessoais, o seu destino está garantido pelo Senhor.

3. Como manter a alegria em meio às preocupações?

Paulo foi contundente e radical no trato com os falsos mestres. As suas preocupações foram manifestadas com uma hostilidade forte contra aqueles que tentavam destruir tudo quanto ele havia construído doutrinariamente. A igreja de Filipos estava sofrendo, e os irmãos poderiam estar tristes e desanimados. Ele, então, apela aos sentimentos daqueles irmãos para a alegria do Espírito que muito bem conheciam e seria capaz de superar a maldade desses inimigos da obra de Cristo. O teólogo Ralph A. Herring, em seu comentário da Carta aos Filipenses, escreveu que “o cântico de alegria do apóstolo cessa abruptamente como o trinar dum passarinho que repentinamente vê bem próxima a sombra dum gavião”. Na verdade, quando ele pensava na segurança dos cristãos de Filipos, também pensa no perigo que correm, e “interrompe seu cântico” para advertir a igreja do perigo.

Paulo Desmascara e Adverte sobre Falsos Mestres no Seio da Igreja (3.2-4)

Obreiros do mal tinham se infiltrado no seio da Igreja aproveitando a ausência física do apóstolo Paulo. Eram obreiros quefalsificavam a doutrina genuína e lançavam ideias judaizantes, seduzindo e desviando da verdade. Paulo ergue sua voz de alerta, provando que ele mesmo, muito mais que outros, confiara no judaísmo com suas leis, ritos e dogmas. Entendiam estar servindo a Deus confiados apenas na carne (Fp 3.4), isto é, em procedimentos humanos. Mas, ao encontrar a Cristo, entendeu que esse fundamento do judaísmo era nulo e que toda a vantagem pessoal que tivera no judaísmo lhe dava agora a oportunidade de descobrir que a “justiça que é de Deus é pela fé” (Rm 1.17; Fp 3.9).

“guardai-vos dos cães” (3.2). A hostilidade de Paulo contra os maus obreiros era forte e decisiva pelo mal que eles causavam à obra de Deus na igreja. O judeu ortodoxo tratava o gentio de cão, mas Paulo chama aos judeus opositores do evangelho de “cães”. Por que Paulo os chama de cães? Eram judeus que se diziam convertidos a Cristo e tentavam lançar seus tentáculos judaizantes na mente dos cristãos filipenses. Ideias inaceitáveis em relação à doutrina dos apóstolos (At 2.42). Paulo chama-os de “cães” porque era uma palavra desprezível entre os judeus. Segundo Ralph Herring, esses judeus eram falsos cristãos que insistiam em tomar o fardo do lega- lismo judaico e colocá-lo sobre os cristãos. Eram como “cães” que agiam, rosnando atrás deles e mordendo seus calcanhares, atacando os novos convertidos quando Paulo estava ausente. Eram como cães porque eram carnívoros e mutiladores, no mesmo sentido da mutilação física no rito da circuncisão. Paulo os repelia com veemência e pediu aos filipenses que se acautelassem dessas pessoas, porque queriam, de fato, dominá-los com suas doutrinas falsas.

“guardai-vos dos maus obreiros” (3.2). Antes de tudo, Paulo os chama de “cães” que rosnavam para impor suas ideias. Em seguida, ele os chama de “maus obreiros” para dar um caráter humano a essas pessoas. Eram, de fato, obreiros da iniquidade. A estes obreiros, Jesus dirá um dia: “Digo-vos que não sei de onde vós sois; apartai- vos de mim, vós todos os que praticais a iniquidade” (Lc 13.27). Em relação aos falsos obreiros no seio da igreja de Filipos, Pauloos trata como maus; eram pessoas ativas na vida da igreja, mas que espalhavam erros doutrinários não se importando com a sã doutrina ensinada pelos apóstolos. Pregavam um falso evangelho (G1 1.8,9). No Concílio da igreja em Jerusalém, conforme Atos 15, os apóstolos discutiram sobre o papel da lei judaica em relação aos gentios. O resultado determinado por aquele Concílio envolvia quatro requisitos principais: a abstenção dos alimentos oferecidos aos ídolos, do sangue, de comer carne sufocada e a abstenção de práticas sexuais imorais. Porém, alguns “maus obreiros” faziam questão de discordar do ensino recebido para impor práticas judaicas que tinham a ver apenas com o sistema judaico. Esses maus obreiros foram denominados por Paulo de “falsos apóstolos, obreiros fraudulentos” (2 Co 11.13).

“guardai-vos da circuncisão" (3.2). No hebraico do Antigo Testamento, a palavra “circuncisão” é “mula”, e vem da raiz mül. Na língua grega do Novo Testamento, a palavra relativa é peritome, que dá a ideia de “cortar em derredor” ou “mutilar, remover”. Portanto, entre os judeus, a circuncisão implica uma cirurgia em que o prepúcio masculino é removido, mediante um rito de caráter medicinal, ético e moral. Os judeus adotaram esse rito também com um caráter religioso. Um homem tinha que ser circuncidado para ter direito a ser membro da comunidade de Israel. Alguns eruditos fazem da circuncisão um ato de mutilação. Os judeus convertidos ao cristianismo, muitos deles, não conseguiram se libertar das travas do judaísmo e queriam que esse rito fosse adotado entre os cristãos. Os principais opositores de Paulo eram advindos do judaísmo e queriam impor costumes judaicos, entre os quais a circuncisão. O que existe de importância ética e moral para o judeu na prática de circuncisão não o é para os cristãos. Os judeus cristãos, não todos, que defendiam esse rito no cristianismo, tiveram a resposta do apóstolo Paulo, que lhes mostrou que a circuncisão verdadeira no cristão é a do coração.

Segundo o Comentário Bíblico Pentecostal, da CPAD, “os cristãos filipenses não deveriam ter como motivo de orgulho quaisquer sinais físicos que demonstrassem sua condição de comunhão,porém, antes, deveriam orgulhar-se em Cristo e na sua obra”. Portanto, não seria o cumprimento da lei mosaica a que deveriam ser irrepreensíveis, mas deveriam ser fiéis à fé recebida de Cristo Jesus. A verdadeira circuncisão é aquela que é operada no coração, e não é algo da carne, mas do Espírito.

A Verdadeira Circuncisão Cristã (3.3)

No Antigo Testamento, a circuncisão era um rito físico com caráter moral e espiritual, porque, por esse rito, as pessoas tinham um sinal físico de pertencerem ao Deus de Israel. Porem, os seguidores de Cristo não precisam da circuncisão física e ritual do Antigo Testamento para serem identificadas como pertencentes a Cristo, porque a circuncisão espiritual é operada pelo Espírito no coração de cada crente.

1. A verdadeira circuncisão não deixa marcas físicas

Trata-se de uma qualidade espiritual, não apenas dos homens, mas também das mulheres. Paulo ensina aos colossenses que a verdadeira circuncisão em Cristo não é por intermédio das mãos, mas no despojamento do corpo da carne” (Cl 2.11,12), que significa, de fato, o despojamento da força da carne mediante o batismo por imersão. Paulo disse aos efésios que “fomos selados pelo Espírito Santo”, isto é, fomos marcados com o Espírito Santo em nossa vida (Ef 4.30).

2. A verdadeira circuncisão é operada no coração do crente (Fp 3.3; Rm 2.25-29)

Na escritura do versículo 3, o apóstolo Paulo fala dos que confiam na carne, referindo-se aos cristãos que procuravam demonstrar seus méritos pessoais, físicos ou materiais para garantir bênçãos espirituais. Paulo refutou essa ideia equivocada de espiritualidade entre os cristãos. Eles não precisavam da circuncisão para garantir a salvação em Cristo.O texto de Romanos 2.25-29 está explicado em meu livro Romanos, da Série Comentário Bíblico:

“Porque a circuncisão tem valor se praticares a lei” (Rm 2.25). É declaração do apóstolo Paulo. Os judeus se escudavam na prática da circuncisão. Era, na verdade, assunto e regra mal compreendida, porque não entendiam o espírito da lei da circuncisão.

Era um rito religioso judaico permitido por Deus, porém, era um rito envolvendo uma ação exterior, na carne. Era uma exigência da lei que, observada, colocava a responsabilidade sobre o circuncidado de guardar toda a Lei. Entretanto, Paulo diz em Gálatas 5.3: “Todo homem que se deixar circuncidar... está obrigado a guardar a Lei”. Escudar-se na prática da circuncisão e não praticar o resto da Lei de nada valia.

Os gentios não precisavam dessa prática da circuncisão, pois esse rito dizia respeito apenas aos judeus. Paulo, recebendo a insinuação dos judeus cristãos contra os gentios cristãos, desfaz a pretensão judaica e mostra que a verdadeira circuncisão é feita espiritualmente no coração. É operação do Espírito, não na carne, mas no espírito do crente.

O ideal da circuncisão aos judeus é louvável. Tinha o propósito de diferençar o judeu do gentio. Já a circuncisão espiritual diferencia o crente do incrédulo, o salvo do perdido, (p. 43)

3. O contraste com os falsos cristãos

Os autênticos cristãos são aqueles que adoram a Deus no Espírito

(3.3). A adoração a Deus em Espírito é uma marca autêntica dos que foram redimidos por Cristo. A forma de servir a Cristo difere daqueles que precisam da materialização para sua adoração. Os judeus entendiam que a circuncisão era um sinal para o povo que adora a Deus. A igreja de Cristo adora a Deus e o faz mediante a presença e habitação do Espírito na vida dos crentes. Na língua grega, adoração é latreia, que se refere ao culto que se presta a Deus.

Os autênticos cristãos são aqueles que se gloriam em Jesus Cristo

(3.3). Os adeptos da circuncisão se gloriavam desse rito para seidentificarem como “filhos de Abraão”. Os filósofos gnosticistas se gloriavam da sua espiritualidade baseada na sabedoria. Porém, o cristão se gloria apenas em Jesus Cristo. O judeu tradicional via no rito da circuncisão uma forma de adoração e dedicação exclusiva a Deus (Gn 17.10; Dt 10.16; Js 5.2). A finalidade da circuncisão era deixar um sinal físico que representasse a circuncisão do coração (Dt 30.6; Jr 4.4). O rito religioso envolvia a mutilação, ou seja, a remoção do prepúcio masculino. Paulo advertiu os cristãos de Filipos a que não aceitassem qualquer imposição dos adeptos da circuncisão na vida cristã. Que eles tivessem cuidado com os mutiladores da fé cristã, que não depende de coisas físicas ou materiais.

Os autênticos cristãos são aqueles que não confiam na carne (3.3). Não “confiar na carne” significa não confiar na natureza humana, que é pecaminosa e tende a opor-se às coisas espirituais. Não se trata da carne no sentido genético ou étnico, nem na raça a que pertence. Trata-se de confiar em Cristo, e não em ritos. A vaidade judaica da circuncisão na carne não serve para o cristão, porque nossa identidade não é física, mas espiritual. Os cristãos judai- zantes eram aqueles cristãos que não conseguiam se desvencilhar do judaísmo. Viviam no seio da igreja em Filipos, mas confiavam muito mais na carne e na circuncisão do que em Cristo. A lição maior que aprendemos nessa postura de Paulo é que a salvação não se conquista com as obras.

4. Paulo demonstra a inutilidade da confiança dos judeus na carne (3.4-6)

Nos versículos 4 a 6, Paulo conta a sua história de judeu circuncidado ao oitavo dia, mas que, ao encontrar-se com Cristo, renunciou a tudo que era da velha religião para servir apenas a Cristo. Paulo tinha a experiência do judaísmo a qual apresenta com detalhes para demonstrar o zelo que tivera enquanto religioso judeu. Mas agora a situação é outra: ele encontrou a Cristo, que cumpriu toda a Lei, e, por isso, estava livre das exigências da lei mosaica.O Valor do Evangelho frente ao Judaísmo (3.7-11)

O dialogo entre cristianismo e judaísmo nunca foi bom entre os dois. Ainda que o cristianismo tenha vindo do judaísmo, a sua estrutura doutrinária é completamente nova. Os judeus vivem debaixo da lei mosaica, mas os cristãos vivem da fé em Cristo mediante a graça de Deus.

1. A perda que significa ganho (3.7)

O cristianismo é cheio de contrastes, de paradoxos. Paulo descobre um novo código de valores, pois ele diz: “Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo” (v. 7). Aquilo que lhe parecia na velha religião um grande ganho, descobriu que era, de fato, fracasso. O que antes ele considerava sem valor e, na verdade, pernicioso, agora reconhece que é o único valor pelo qual vale a pena lutar. Que valor é esse? Ele achou o valor maior de sua vida: Cristo. O conhecimento de Cristo revelado tornou-se o valor supremo da vida de Paulo. Tudo o mais se transformou em perda por causa de Cristo, todos aqueles valores do judaísmo que Paulo defendia com todas as suas forças. Ele descobriu algo superior, que é o evangelho de Cristo.

2. A excelência do conhecimento de Cristo (3.8,9)

O conhecimento de Cristo não era algo teórico, acadêmico, e sim algo mais profundo que envolvia intimidade com Cristo. Seu relacionamento com Cristo o fez servo de Cristo. Todas as prerrogativas e privilégios anteriores conquistados no judaísmo, mediante o amor do Senhor Jesus, tornaram-se refugo e de somenos importância para o apóstolo Paulo. “Conhecer a Cristo” e “ganhar a Cristo” são expressões para a mesma ambição. Conhecer a Cristo implica o relacionamento pessoal com Ele, e ganhar a Cristo significa ser achado nEle, no sentido de que sua vida possa expressar a vida de Cristo.3. A distinção da lei que vem da lei e a que vem pela fé (3.9)

A justiça que vem da lei requer o esforço do homem, é justiça própria. O homem tem dificuldades em exercê-la e em cumpri-la porque está sob a égide da lei. O teólogo F. F. Bruce comentou essa escritura:

O homem que havia conseguido grandes resultados na luta em prol da justiça legal agora joga fora essa justiça, por haver encontrado outra, de melhor espécie. O que de bom a justiça própria, legal, lhe havia produzido afinal? Ela não o havia livrado do pecado de perseguir os discípulos de Cristo. Qualquer pessoa que buscasse a justiça legal, sem dúvida, poderia reclamá-la como lhe pertencendo; todavia, seria fatal imaginar que tal justiça, que inevitavelmente é auto-retidão, pudesse afirmar que Deus lhe pertencesse.

Em síntese, o que Paulo descobriu é que pelo exercício da justiça da lei ele não conseguiu ser achado em Deus. Porém, com a “justiça pela fé”, a fé em Cristo, ele conseguiu tomar posse de Deus na sua vida e pertencer a Ele. E a justiça que vem de Deus pela fé. Esta é a justiça que nos justifica perante Deus. Paulo disse aos Gálatas 2.16: “justificados pela fé de Cristo e não pelas obras da lei”. A fé em Cristo é o alicerce da justiça de Deus que justifica o homem.

4. Paulo desejava conhecer mais profundamente a Cristo (3.10,11)

No texto de 3.8, Paulo fala da sublimidade do conhecimento de Cristo. Ele, de fato, desejava adquirir esse conhecimento de modo mais implícito do que o mero conhecimento intelectual acerca de Cristo. Percebe-se, então, nos versículos 10 e 11, três coisas que Paulo queria conhecer:

a) Ele queria conhecê-lo pessoalmente. Ele declara seu desejo maior na vida quando diz: “para conhecê-lo” (v. 10). Ele não queria obterum conhecimento a distância, teórico, intelectual, envolvendo apenas história e teologia. Ele queria experimentá-lo como Amigo, Senhor e Mestre. A palavra “conhecer” no grego bíblico é kinoskein, que no hebraico éyadá e sugere o relacionamento conjugal entre Adão e Eva (Gn 4.1). E algo mais que físico; é algo sublime, interior e sensitivo. Esse desejo de conhecer a Cristo de modo pessoal não significava tocar de modo físico, como tiveram oportunidade os apóstolos que estiveram fisicamente ao seu lado. Ele sabia que isso era impossível, mas queria sentir em toda a sua estrutura pessoal como homem, no seu próprio corpo, tudo aquilo que Jesus foi e passou como homem. Ele queria, de fato, experimentar a comunhão com os seus sofrimentos para obter o conhecimento dos seus sentimentos; por isso exortou a igreja, dizendo: “De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus” (Fp 2.5).

b) Ele queria conhecer e sentir o poder da sua ressurreição (3.10). O texto diz: “e a virtude da sua ressurreição”, isto é, o poder que Ele, como Homem, experimentou vencendo a morte, o inferno e o túmulo. E o mesmo poder que Ele, Jesus, exerce no céu e na terra como Senhor e Salvador ressuscitado e glorificado. Na Carta aos Efésios, Paulo falou da “sobre-excelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder, que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dos mortos” (Ef 1.19,20). Essa virtude da ressurreição é a garantia da nossa justificação feita por Cristo, e a garantia da vivificação do crente, da sua salvação do poder do pecado, de sua santificação e de sua própria ressurreição e glorificação (Rm 5.25; 8.34; Ef 2.5,6; 1 Co 15.17; Rm 6.4; 8.34; 1 Co 15.13,20).

Paulo sabia que não bastava sentir o poder da sua ressurreição. Além de conhecer esse maravilhoso poder, de modo profundo e eficaz, ele sabia que precisava conhecê-lo na participação de seus sofrimentos.

c) Ele queria sentir no seu próprio corpo as aflições experimentadas por Cristo (3.10). A expressão textual da ARC é “e a comunicação de suas aflições”. Em outras versões o texto diz: “e a participação dos seus padecimentos”, o que não muda a essência da expressão. Prefiro a palavra “participação” que se traduz melhor na linguagem bíblica como “comunhão”. Percebe-se esse entendimento em Filipenses 1.5 e 2.1, que falam de “cooperação no evangelho” e “comunhão no Espírito”. Os dois termos, “cooperação” e “comunhão”, subentendem-se como estar envolvido de modo incisivo nos interesses da obra de Cristo no mundo. Significa participação com Cristo nos seus padecimentos, isto é, Cristo e ele. Paulo não tinha a presunção de querer expiar a culpa e os pecados de ninguém, nem os seus próprios, mas queria ter o gozo de experimentar os mesmos padecimentos. A teologia do sofrimento tão repudiada pelos teólogos modernos, especialmente os que adotaram a teologia da prosperidade, são confrontados pelo ensino de Paulo. E, de fato, um misterioso paradoxo que só quem o experimenta saberá avaliar o significado de “padecer por Cristo Jesus”. A expressão “sendo feito conforme a sua morte” (v. 10) ou “sendo feito semelhante a Ele em sua morte” tem o sentido de conhecer em seu próprio corpo os padecimentos experimentados por Cristo.

A sublimidade do conhecimento de Cristo lhe dava a alegria que superava todas as dificuldades. Por isso, Paulo renunciou a tudo por amor a Cristo (3.8-11).

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