Lição 8: A suprema aspiração do crente. - O testemunho do apóstolo paulo - Filipenses 3.12-21

INTRODUÇÃO - O apóstolo Paulo falou sobre a supremacia de Cristo no capítulo um, a primazia do outro no capítulo dois, e agora, nos dá um esboço da sua própria biografia no capítulo três. Paulo descortinou o seu passado nos versículos 1 a 11; lançou luz sobre o seu presente nos versículos 12 a 16 e apontou para o seu futuro nos versículos 17 a 21.

No passado, Paulo abriu mão de seus valores. No presente, Paulo se viu como um atleta que corre celeremente para a linha de chegada, a meta final da carreira cristã e no futuro, Paulo se apresentou como “estrangeiro”, cuja cidadania está no céu, de onde aguarda a segunda vinda de Cristo.

I. PAULO, O ATLETA (3.12-16)

O apóstolo usa neste parágrafo a figura do atletismo para descrever a sua vida cristã. Ele é um homem que tem olhos abertos para ver o mundo ao seu redor e daí tirar ricas lições espirituais. Para um atleta participar dos jogos olímpicos em Atenas precisava primeiro ser cidadão grego. Ele não competia para ganhar a cidadania. Assim, também, nós não corremos a carreira cristã para ganhar o céu, mas porque já somos cidadãos do céu (Fp 3.20).

Warren Wiersbe, compreendeu bem o ensino de Paulo neste texto e nos fala sobre os elementos essenciais para se ganhar a corrida e receber a recompensa.

1. Insatisfação (3.12-13a)

O apóstolo veterano e prisioneiro de Cristo, afirma: “… não julgo havê-lo alcançado” (3.13). Em matéria de progresso rumo à perfeição, Paulo é um irmão entre irmãos, diz J. A. Motyer. Por ser líder não deixa de ser um cristão que luta como os demais para alcançar o que Deus preparou para seus filhos. Paulo participa de uma corrida; ainda que não enverga a faixa de campeão e tampouco tenha empunhado a taça, mas deve continuar correndo, até que esses prêmios lhe sejam atribuídos.

Embora tenha sido um homem de Deus, um vaso de honra, um servo fiel, um instrumento valoroso na pregação do Evangelho e no plantio de igrejas Paulo nunca ficou satisfeito com suas vitórias espirituais. À semelhança de Moisés, ele sempre queria mais (Ex 33.18). Uma “insatisfação santa” é o primeiro elemento essencial para avançar na corrida cristã.

Muitos cristãos estão satisfeitos consigo mesmo ao se compararem àqueles que já estão trôpegos e parados. Paulo não se compara com outros, mas com Cristo. Ele ainda não chegou à perfeição (3.12), muito embora seja perfeito, ou seja, amadurecido na fé (3.15). Uma das características dessa maturidade é a consciência da própria imperfeição! O cristão maduro faz uma auto-avaliação honesta e se esforça para melhorar. A luta contra o pecado ainda não terminou, pois essa perfeição não se alcança na presente vida (Rm 7.14-24; Tg 3.2; 1Jo 1.8).

William Barclay nos ajuda a entender esta palavra grega teleios “perfeito”. Ela era empregada não apenas para absoluta perfeição, mas também para um certo tipo de perfeição, como por exemplo: 1) significa desenvolvido plenamente em contraposição ao não desenvolvido; um homem maduro em contraposição a um jovem; 2) usa-se para descrever o homem de mente madura em oposição a um principiante em algum estudo; 3) quando se trata de oferendas significa sem mácula e adequado para o sacrifício a Deus; 4) aplicado aos cristãos freqüentemente designa os batizados como membros plenos da igreja em oposição aos que estão sendo instruídos para serem recebidos na igreja. J. A. Motyer, citando Bengel diz que o termo “maduro” foi tirado dos jogos atléticos, cujo significado é “coroado como vencedor”.

Ralph Martin diz que esse termo “perfeição” era muito usado pelos falsos mestres. Os judaizantes se vangloriavam de sua “perfeição”, quer fosse como judeus que professavam guardar a lei em sua inteireza, quer como cristãos judeus que se “gloriavam” da circuncisão. Os cristãos gnostizantes, por sua vez, reivindicavam serem iluminados, como homens do Espírito. Paulo, porém, explicitamente negou aquilo que eles afirmavam ter obtido, isto é, a “perfeição”.

A presunção espiritual é um engano e um sinal evidente de imaturidade espiritual. A igreja de Sardes julgava a si mesma uma igreja viva, mas na avaliação de Jesus estava morta (Ap 3.1). A igreja de Laodicéia se considerava rica e abastada, mas Jesus a considerou uma igreja pobre, cega, e nua (Ap 3.17). Sansão pensou que ainda tinha força quando, na realidade, a havia perdido (Jz 16.20). O despertamento espiritual de uma igreja começa não pela empáfia espiritual, mas pela humildade e o reconhecimento de que ainda precisa buscar mais a Deus (Sl 42.1,2).

2. Dedicação (3.13b)

“… uma cousa faço…”. O apóstolo Paulo tinha seus olhos fixados na meta e não se desviava de seu objetivo. Ele era um homem dedicado exclusivamente à causa do evangelho. Não se deixava distrair por outros interesses. Sua mente estava voltada inteira e exclusivamente para fazer a vontade Deus.

A Bíblia diz que aquele que põe a mão no arado e olha para trás não é apto para o reino de Deus (Lc 9.62). Marta ficou distraída com muitas coisas, mas Jesus lhe disse que uma coisa só é necessária (Lc 10.42). Há muitos crentes que dividem sua atenção com muitas coisas. São como a semente lançada no espinheiro. Há muitos concorrentes que sufocam a semente e ela não frutifica (Mc 4.7,18,19).

Antes do incêndio trágico de Chicago, em 1871, Dwight L. Moody estava envolvido com a divulgação da Escola Bíblica Dominical, com a Associação Cristã de Moços, com encontros evangelísticos e com várias outras atividades, mas, depois do incêndio, tomou o propósito de se dedicar exclusivamente ao evangelismo. O princípio ensinado por Paulo de “… uma coisa faço…”, tornou-se realidade para ele. O resultado foi que centenas de milhares de pessoas se renderam a Cristo.
Devemos nos concentrar na obra de Deus como Neemias, o governador que restaurou a cidade de Jerusalém depois do cativeiro babilônico. Quando seus opositores tentaram desviar sua atenção da obra de reconstrução, ele respondeu: “… estou fazendo grande obra, de modo que não poderei descer…” (Ne 6.3).

3. Direção (3.13c)

O apóstolo Paulo mostra a necessidade imperativa de termos direção clara e segura nessa corrida da carreira cristã, quando diz: “… esquecendo-me das cousas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão” (3.13). Quem corre numa competição não fica olhando para trás, por cima do ombro, a fim de calcular que distância já percorreu, nem como vão os concorrentes: quem corre fixa os olhos na meta de chegada.

O cristão não pode ser distraído pela preocupação quanto ao passado (3.13) nem quanto ao futuro (4.6,7). Se Paulo não esquecesse o passado, sua vida seria um inferno (1Tm 1.12-17). Se Paulo não abandonasse os seus pretensos méritos, não descansaria na graça de Deus (3.7). O corredor que olha para trás perde a velocidade, a direção e a corrida. Aquele que põe a mão no arado e olha para trás não é apto para o reino (Lc 9.62).

Olhar para trás num saudosismo do passado é perigoso. A mulher de Ló por ter olhado para trás quando a cidade de Sodoma estava sendo destruída, desobedecendo, assim, a orientação divina, foi transformada numa estátua de sal (Gn 19.26). O povo de Israel, por influência dos dez espias incrédulos, quis voltar para o Egito e pereceu no deserto. José do Egito, maltratado pelos seus irmãos não guardou ressentimento; antes, quando lhe nasceu o filho primogênito, deu-lhe o nome de Manassés, que significa: “perdão” (Gn 41.51).

4. Determinação (3.14)

O apóstolo Paulo ensina outro princípio para o sucesso nessa corrida, quando diz: “Prossigo para o alvo…” (3.14). Esse verbo usado aqui e no versículo 12 tem o sentido de esforço intenso. Os gregos costumavam usar esse termo para descrever um caçador perseguindo avidamente a presa. Um indivíduo não se torna um atleta vencedor ouvindo palestras, lendo livros ou torcendo em jogos. Antes, o atleta bem sucedido entra no jogo e se mostra determinado a vencer!

Ralph Martin diz que antigamente Paulo perseguia os crentes; agora, ele persegue (como caçador) a vocação de uma vida em Cristo. Paulo diz: “… prossigo para o alvo…”. A palavra grega skopos “alvo” é encontrada somente aqui em todas as cartas paulinas. Significa a fita diante da meta, no final da pista, à qual o atleta dirige seu olhar. Werner de Boor diz que embora Paulo esteja nessa corrida de forma voluntária, ele empenha toda a sua força. Ele não é instigado nem atiçado por trás, com ordens; mas atraído pelo alvo, pelo prêmio da vitória. Assim é o cristão!

Paulo era um homem determinado no que fazia: na perseguição a igreja, antes de conhecer a Cristo (3.6); agora, em seguir a Cristo (3.14). Se os crentes tivessem a mesma determinação para lutar pela igreja e pelo reino de Deus que têm pelos estudos, trabalho, esporte, dinheiro haveria uma revolução no mundo.

O que Paulo busca com tanta determinação? O prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus. William Hendriksen diz que no final da corrida, o vencedor era convocado, da pista ao estádio, a comparecer diante do banco do juiz a fim de receber o prêmio. Esse prêmio consistia de uma coroa de louros. Em Atenas, desde o tempo de Sólon, o vencedor olímpico recebia também a soma de 500 drachmai. Além de tudo, era-lhe permitido comer às expensas do erário público, e era-lhe concedido sentar-se no teatro em lugares de primeira classe. Na corrida terrena, o prêmio é perecível; na celestial, o prêmio é imperecível (1Co 9.25). Na primeira, apenas um pode vencer (1Co 9.24), na última, todos os que amam a vinda de Cristo são vencedores (2Tm 4.8). Paulo não corre por causa de prosperidade, saúde, sucesso ou fama. Sua ardente aspiração é por Jesus. Os atletas olímpicos corriam por uma coroa de louros, mas os cristãos correm por uma coroa imarcescível.

Muito embora a salvação é gratuita, somente aqueles que se esforçam entram no reino. Werner de Boor afirma acertadamente que o prêmio da vitória é pura dádiva. Nenhum de nós se pôs por si mesmo em movimento rumo a Deus. Ninguém confecciona pessoalmente o prêmio da vitória. Contudo, não obteremos esse prêmio da vitória se permanecermos sentados à beira do estádio e refletirmos sobre ele, nem se fizermos declarações corretas acerca dele. Tampouco somos levados até ele em um automóvel da graça. Temos de “caçá-lo” como o empenho de todas as nossas forças.

5. Disciplina (3.15,16)

Paulo conclui seu pensamento, dizendo: “Todos, pois, que somos perfeitos, tenhamos este sentimento; e, se, porventura, pensais doutro modo, também isto Deus vos esclarecerá. Todavia, andemos de acordo com o que já alcançamos” (3.15,16). Ralph Martin corretamente diz que Paulo não está dizendo que a concordância, ou discordância ao seu ensino seria assunto indiferente, e que aqueles que discutiam seu ensino teriam direito às suas opiniões próprias. Paulo está ainda usando a figura da corrida. A palavra grega, stochein, “andemos” (3.16) é um termo militar que significa “permanecer em linha”.

Não basta correr com disposição e vencer a corrida; o corredor também deve obedecer às regras. Nos jogos gregos, os juízes eram extremamente rígidos com respeito aos regulamentos, e o atleta que cometesse qualquer infração era desqualificado. Não perdia a cidadania (apesar de desonrá-la), mas perdia o privilégio de participar e de ganhar um prêmio. Em Filipenses 3.15,16 Paulo enfatiza a importância de os cristãos lembrarem as “regras espirituais” que se encontram na Palavra, diz Warren Wiersbe.

Mais tarde o apóstolo Paulo, ensinou esse mesmo princípio a Timóteo: “Igualmente, o atleta não é coroado se não lutar segundo as normas” (2Tm 2.5). Um dia, todo cristão vai se encontrar diante do tribunal de Cristo (Rm 14.10-12). O termo grego para “tribunal” é bema, a mesma palavra usada para descrever o lugar onde os juízes olímpicos entregavam os prêmios. Se nos disciplinarmos a obedecer às regras, receberemos o prêmio. Cada atleta é julgado pelo júri. Um dia vamos comparecer diante do tribunal de Cristo para sermos julgados.

Ben Johnson na Olimpíada de Barcelona perdeu a medalha de ouro na corrida dos cem metros depois de constatar que ele havia violado as regras. Teve de devolver a medalha e perder a posição.

A Bíblia está cheia de exemplos de pessoas que começaram bem a corrida, mas não chegaram ao fim por não levarem as regras de Deus a sério. Devemos correr sem carregar pesos inúteis do pecado e olhando firmemente para Jesus, o nosso alvo.

II. PAULO, O PASTOR (3.17-19)

1. O pastor é aquele que dá o exemplo de doutrina e de vida (3.17)

O apóstolo Paulo era um paradigma para os crentes tanto na questão da doutrina, quanto na questão da ética. Ele era modelo tanto na teologia quanto na vida. Seu ensino e seu caráter eram aprovados. Sua vida confirmava sua doutrina e sua doutrina norteava a sua vida. Ele recomendou a Timóteo, seu filho na fé: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina…” (1Tm 4.16).

Ralph Martin diz que Paulo chama a atenção para si mesmo, em face de sua profunda percepção apostólica como homem do Espírito (1Co 2.16; 7.40; 14.37), opondo-se àqueles que afirmavam possuir conhecimento superior dos caminhos de Deus. Assim, Paulo estava chamando os crentes à obediência à autoridade apostólica, algo mais do que um convite a que se imite o modo de vida do apóstolo.

Nessa mesma linha de pensamento J. A. Motyer diz que quando Paulo nos ordena a seguir o seu exemplo (3.17), ele acrescenta uma explicação: “Pois…” (3.18). O elo de ligação entre estes dois versos é o seguinte: Paulo ordena os crentes a imitá-lo porque fazendo assim, eles estariam vivendo de acordo com a verdade da cruz (3.18) e da segunda vinda de Cristo (3.20). Em outras palavras, quando a verdades sobre a cruz e a segunda de Cristo são assimiladas, certamente um caminho de vida segue naturalmente.

2. O pastor é aquele que protege o rebanho dos falsos mestres (3.18)

Paulo pregou a verdade e denunciou o erro. Ele promoveu o evangelho e combateu a heresia. Ele não fazia relações públicas acerca da verdade para agradar as pessoas. Ele chamou esses falsos mestres de inimigos da cruz de Cristo.

Quem eram esses inimigos da cruz de Cristo? Warren Wiersbe acredita que Paulo está falando dos mesmos judaizantes já descritos em Filipenses 3.2 uma vez que eles acrescentavam a Lei de Moisés à obra da redenção que Cristo havia realizado na cruz. Também, por causa de sua obediência às leis alimentares do Antigo Testamento, “o deus deles é o ventre” (Cl 2.20-23) e sua ênfase sobre a circuncisão corresponderia a gloriar-se em algo que deveria ser motivo de vergonha (Gl 6.12-15). Os judaizantes eram inimigos da cruz de Cristo porque esta deu cabo da religião do ritualismo como meio de chegar até Deus. Com a morte de Cristo o véu do templo foi rasgado e agora o homem tem livre acesso a Deus por meio de Cristo, o novo e vivo caminho (Hb 10.19-25). O que eles consideravam uma linha divisória entre os homens, a circuncisão, Cristo derrubou por meio da sua morte (Ef 2.14-16).

William Hendriksen, entretanto, de forma diferente pensa que Paulo não está aqui falando dos judaizantes, mas dos libertinos e sensualistas glutões e grosseiramente imorais. A natureza pecaminosa é propensa a saltar de um extremo a outro, ou seja, do legalismo à libertinagem. Assim, esses falsos mestres eram aqueles que haviam transformado a liberdade cristã em libertinagem (Gl 5.13; 1Pe 2.11). Na carta aos Romanos, Paulo apresenta advertência contra aqueles que dizem: “Pratiquemos males para que venham bens” (Rm 3.8b); “permaneçamos no pecado, para que seja a graça mais abundante” (Rm 6.1b). “Porque esses tais não servem a Cristo, nosso Senhor, e sim a seu próprio ventre; e, com suas palavras e lisonjas, enganam o coração dos incautos” (Rm 16.18).

Na igreja de Corinto Paulo enfrentou tanto os ascetas que proibiam o casamento (1Co 7.1) como os libertinos que diziam que “tudo é permissível” (1Co 6.12). De modo idêntico, ainda hoje, a graça de Deus é recebida em vão por aqueles que continuam a viver sob a lei, e por aqueles que pensam que devem permanecer no pecado, para que a graça aumente.

3. O pastor é aquele que exorta com firmeza e com lágrimas (3.18)

Paulo tem firmeza e doçura. Ele exorta com a clareza da sua mente e com a profundidade do seu coração. Ele tem argumentos irresistíveis que emanam da sua cabeça e convencimento pelas lágrimas grossas que rolam das suas faces. Paulo não é um apologeta ferino e frio, mas argumenta com irresistível clareza e com a eloqüência das lágrimas. Paulo chora sobre aqueles a quem ele ensinou e sobre aqueles a quem repreendeu (At 20.19,31; 2Co 2.4). Em Paulo havia uma sincera união de verdade e amor. Ele advertiu sobre o erro e chorou sobre aqueles que permaneceram nele.

O zelo pastoral de Paulo o levava às lágrimas na defesa de suas ovelhas. Ele se comovia ao perceber que algum perigo os ameaçava. O apóstolo era não só um homem de agudo discernimento e inquebrantável decisão, mas também de emoção ardente. É bem provável que estes mestres estivessem posando como “modelos” de liderança cristã, e como conseqüência, minando a autoridade de Paulo. O apóstolo está emocionalmente comovido, enquanto escreve, até chorando, talvez muito mais por causa de crentes que abandonaram suas igrejas (2Co 2.4), do que por causa dos mestres que os desencaminharam.

4. O pastor é aquele que não se engana acerca dos falsos mestres (3.19)

O apóstolo Paulo destaca quatro características dos falsos mestres:
Em primeiro lugar, eles adoram a si mesmos. Paulo diz: “… o deus deles é o ventre…” (3.19). Eles vivem encurvados para o próprio umbigo. Visto que a palavra koilia “ventre” pode significar “útero” ou “umbigo”, Paulo pode estar simplesmente comentando o egocentrismo deles. Assim, tudo quanto fazem é fixar os olhos no próprio umbigo. O deus deles é – eles mesmos. A vida deles é centrada neles mesmos. São adoradores de si mesmos. Em vez de procurar manter seus apetites físicos sob controle (Rm 8.13; 1Co 9.27), compreendendo que nossos corpos são o templo do Espírito Santo, no qual Deus deve ser glorificado (1Co 6.20), essas pessoas se entregam à glutonaria e à licenciosidade.

Paulo está rechaçando a idéia de que o homem vive para comer em vez de comer para viver. Jesus rejeitou a proposta do diabo em transformar pedra em pão, dizendo que não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que procede da boca de Deus (Mt 4.4). A glutonaria é obra da carne, assim como a prostituição, a idolatria e a feitiçaria (Gl 5.19-21).

Em segundo lugar, eles invertem os padrões morais. Paulo continua: “… e a glória deles está na sua infâmia…” (3.19). Eles deveriam ter vergonha daquilo em que se gloriam. Eles escarnecem da virtude e exaltam o opróbrio. Ao mal eles chamam bem e ao bem, mal; fazem das trevas luz e da luz, trevas; põem o amargo por doce e o doce, por amargo (Is 5.20). Eles não apenas levavam a bom termo seus maus desígnios, mas ainda se vangloriavam disso (Rm 1.32). A glória desses falsos mestres é a infâmia, a recompensa deles é fugaz. A decepção deles é certa. A ruína deles é veloz.

Em terceiro lugar, eles têm suas mentes voltadas apenas para as coisas materiais em vez das espirituais. O apóstolo é enfático, quando diz: “… visto que só se preocupam com as cousas terrenas” (3.19). Eles vivem sem a dimensão do eterno. O coração deles está sedento de coisas materiais em vez de buscarem as riquezas espirituais.

Essa história se repete hoje. Muitos líderes religiosos, sem temor, têm se empoleirado no púlpito, usando artifícios e malabarismos, com a Bíblia na mão, arrancando dinheiro das pessoas, fazendo promessas que Deus não faz em sua Palavra, sem nenhum escrúpulo, mercadejando o Evangelho da graça, para alimentar sua ganância insaciável. Hoje, a religião, para muitos, tem sido um bom negócio, uma fonte de lucro, um caminho fácil de enriquecimento. O mercado da fé tem produto para todos os gostos. A oferta é abundante. A procura é imensa. A causa é a ganância. A conseqüência é o engano. O resultado é a decepção. O fim da linha é o inferno.

Em quarto lugar, eles caminham inexoravelmente para a perdição. O apóstolo é claro em afirmar: “O destino deles é a perdição…”. Não há salvação fora da verdade. O caminho da heresia desemboca no abismo. O destino dos hereges é a perdição. William Hendriksen corretamente afirma que “perdição” não é o mesmo que aniquilamento. Não significa que cessarão de existir. Ao contrário, significa punição eterna (2Ts 1.9).

III. PAULO, O CIDADÃO DO CÉU

O apóstolo Paulo, depois de descrever o presente, falando da sua corrida rumo ao prêmio e depois de demonstrar seu zelo pastoral, alertando acerca dos falsos mestres, lança seu olhar rumo ao futuro e destaca três gloriosas verdades que são as âncoras da nossa esperança.

1. O céu é a nossa Pátria (3.20)

O apóstolo Paulo diz: “Pois a nossa Pátria está nos céus…” (3.20). Paulo utiliza o substantivo politeuma, “pátria”, não encontrado em parte alguma do Novo Testamento. Essa palavra descreve, sobretudo, a conduta dos crentes filipenses no mundo. Se a pátria deles está nos céus, a conduta deles também deveria ser compatível com essa cidadania.

Assim como Filipos era uma colônia de Roma em território estrangeiro, também a Igreja é uma “colônia do céu” na terra. Somos peregrinos neste mundo. Não somos daqui. Nascemos de cima, do alto, de Deus. O céu é nossa origem e também nosso destino. O nosso nome está arrolado no céu (Lc 10.20), está registrado no livro da vida (4.3). É isso que determina nossa entrada final no país celestial (Ap 20.15).

Por causa da expectativa de habitar em uma cidade superior, Abraão contentou-se em viver em uma tenda (Hb 11.13-16). Por causa da expectativa da recompensa do céu, Moisés dispôs-se a abrir mão dos tesouros do Egito (Hb 11.24-26). Por causa da esperança da vivermos com Cristo no céu, devemos buscar uma vida de santidade hoje (1Jo 3.3).

A cidadania é importante. Quando viajamos para outro país é essencial ter um passaporte que comprove nossa cidadania. Ninguém quer ter a mesma sina que Philip Nolan no conto clássico O Homem sem País. Nolan amaldiçoou o nome do seu país e, por isso, foi condenado a viver a bordo de um navio e nunca mais ver sua terra natal sem sequer ouvir seu nome ou receber notícias acerca do seu progresso. Passou cinqüenta e seis anos em uma viagem interminável de navio em navio, de mar em mar e, por fim, foi sepultado nas águas do oceano. Nolan foi um “homem sem pátria”.

O céu é um lugar e um estado. É o lugar da morada de Deus e da sua Igreja resgatada e um estado de bem-aventurança eterna, onde jamais entrará a dor, a lágrima, o luto e a morte.

2. A segunda vinda de Jesus é a nossa esperança (3.20)

O apóstolo ainda afirma: “… de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo”. Três verdades devem ser aqui destacadas.

Em primeiro lugar, Aquele que vem é o Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Ele é o Salvador e o Senhor. Nele nossa salvação foi realizada e consumada. Ele venceu a morte, ressuscitou, foi assunto ao céu e voltará.

Em segundo lugar, Aquele que vem está no céu assentado à destra do Pai. Jesus está no céu numa posição de honra. Ele está no trono e tem o livro da história em suas mãos. Ele governa e reina soberanamente sobre a Igreja e todo o universo.

Em terceiro lugar, Aquele que vem é o conteúdo da nossa esperança. A igreja é a comunidade da esperança. Somos um povo que vive com os pés no presente, mas com os olhos no futuro. Vivemos cada dia na expectativa da iminente volta de Jesus. F. F. Bruce diz que cada geração sucessiva da igreja goza do privilégio de viver como se fosse a geração que haverá de saudar o retorno de Cristo. A esperança do regresso de Cristo tem poder santificador: “E a si mesmo se purifica todo aquele que nele tem esta esperança, assim como ele é puro” (1Jo 3.3).

3. A glorificação é a nossa certeza inequívoca (3.21)

O apóstolo Paulo destaca alguns pontos importantes:

Em primeiro lugar, o nosso corpo será glorificado na segunda vinda de Cristo (3.21). Quando a trombeta de Deus ressoar, e Cristo vier com seu séqüito de anjos, acompanhado dos santos glorificados, os mortos em Cristo ressuscitarão com corpos imortais, incorruptíveis, gloriosos, poderosos e celestiais (1Co 15.43-56). Os vivos, nessa ocasião, serão transformados e arrebatados para encontrar o Senhor nos ares e assim, estaremos para sempre com o Senhor (1Ts 4.13-18).

Em segundo lugar, o nosso corpo será semelhante ao corpo da glória de Cristo. Nosso corpo de humilhação, sujeito à fraqueza, à enfermidade e ao pecado será revestido da imortalidade e brilhará como o sol no seu fulgor, brilhará como as estrelas no firmamento, e será um corpo tão glorioso, como o corpo da glória de Cristo. Seremos “conforme a imagem do seu Filho” (Rm 8.29). “Devemos trazer a imagem do celestial” (1Co 15.49). “Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque havemos de vê-lo como ele é” (1Jo 3.2b).

Em terceiro lugar, a glorificação do nosso corpo dar-se-á pelo poder infinito de Deus. Paulo afirma: “… segundo a eficácia do poder que ele tem de até subordinar a si todas as cousas” (3.21). William Hendriksen diz que maravilhosa é a energia da dinamite de Cristo, isto é, de seu poder. Esta energia é seu poder em ação, o exercício de seu poder. O termo “subordinar” significa “organizar em ordem de dependência, do inferior ao superior”. Warren Wiersbe, aplica:

Esse é o problema hoje em dia: não colocar as coisas na devida ordem de prioridade. Uma vez que nossos valores encontram-se distorcidos, desperdiçamos nosso vigor em atividades inúteis, e nossa visão está de tal modo obscurecida que a volta de Cristo não parece ter qualquer poder para motivar nossa vida.

Não há nada impossível para Deus. Ele pode tudo quanto ele quer. Ele tomará nosso corpo de fraqueza e fará dele um corpo de glória. Aqui há continuidade e descontinuidade. Será um outro a partir do que existe, mas um outro totalmente novo.

CONCLUSÃO

Paulo conclui este capítulo de Filipenses atingindo o grau mais alto da escada. Desde a conversão, com seu repúdio a todos os méritos humanos (3.7), a justificação e a santificação, como alvo da perfeição sempre em mira (3.8-19), atinge a grande consumação, quando alma e corpo, a pessoa por inteiro, em união com todos os santos, glorificará a Deus em Cristo nos novos céus e nova terra, pelos séculos dos séculos. E tudo isso pela soberana graça e poder de Deus e para sua eterna glória, diz William Hendriksen.

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