Lição 5° – A Travessia do Mar Vermelho

A Partida do Egito e a Travessia do Mar Vermelho - Silas Daniel. Um dos textos bíblicos que mais denotam o cuidado de Deus para com o seu povo é, sem dúvida alguma, o relato da saída dos hebreus do Egito e da travessia miraculosa do Mar Vermelho. Não por acaso, esses episódios extraordinários da vida do povo judeu são relembrados constantemente
pelos profetas e salmistas do Antigo Testamento para enfatizar o cuidado divino para com Israel (Js 24.5-7; SI 106.7-9; SI 136.13-15; Ne 9.9-12; etc.).

A Bíblia diz que, ao todo, saíram do Egito cerca de 600 mil homens a pé, sem contar mulheres e crianças (Êx 12.37). Ou seja, provavelmente 2 milhões de pessoas. Imagine a celebração na saída, depois de 430 anos nos quais, na maior parte desse tempo, os judeus viveram como escravos dos egípcios. Foi um momento de grande celebração.
Uma vez confirmada a saída, o Senhor Deus, que já havia libertado o povo com braço forte enviando as Dez Pragas, se dedicaria agora a cuidar dele também durante todo o trajeto rumo à Terra Prometida. E desde o início dessa caminhada se vê esse cuidado, como constataremos a seguir.

O Cuidado de Deus com o Ânimo do Povo
No começo do percurso de saída do Egito, já podemos notar o cuidado de Deus para com o seu povo: “E aconteceu que, quando Faraó deixou ir o povo, Deus não os levou pelo caminho da terra dos filisteus, que estava mais perto; porque Deus disse: Para que, porventura, o povo não se arrependa, vendo a guerra, e tornem ao Egito” (Ex 13.17 — grifo meu).
Eis o cuidado divino quanto aos detalhes! A saída do Egito era um momento de festa, a qual, dali em diante, deveria ser rememorada e comemorada todos os anos (Ex 12.42); por isso o cuidado divino para que, inicialmente, o povo não passasse por um caminho que evocasse em sua mente a possibilidade de perigo naquela empreitada, esfriando, assim, o ânimo e o clima de festa que deveria marcar a saída.
O “caminho da terra dos filisteus” era uma estrada internacional bem fortificada pelo exército egípcio. Os egípcios guardavam fortemente suas fronteiras e, em especial, esse trecho mais concorrido de entrada e saída de suas terras, onde havia um grande exército de prontidão. Logo, sabendo que se o povo passasse por ali, veria o grande exército egípcio e já imaginaria o pior — a guerra, a caçada e a matança que poderia sofrer — e, assim, arrepender-se-ia e voltaria para o Egito, Deus o faz sair não pelo caminho mais perto, que era este, mas pelo caminho mais longo, que evitaria essa visão de perigo. Ou seja, Deus se preocupa com o ânimo do seu povo.
Nós, seres humanos, somos, infelizmente, muito tendentes ao desânimo, a imaginarmos o pior diante do mínimo sinal de dificuldade, e Deus sabe muito bem disso, razão por que constantemente está a nos animar pela sua Palavra, pela instrumentalidade de irmãos em Cristo que se permitem ser usados por Ele, e através de circunstâncias e experiências que Ele nos proporciona.
Às vezes, Deus permite que andemos pelo “vale da sombra da morte”, mas sem deixar de nos animar em todo esse assustador percurso por meio da certeza latente em nosso coração de que Ele está conosco (SI 23.1). Mas, em outros momentos, geralmente na parte introdutória das estradas que trilhamos com Ele por sua graça, Deus prefere nos dirigir por caminhos menos desanimadores, para só depois nos conduzir em vitória por situações mais nevrálgicas, mais estressantes, que calejarão a nossa alma e nos ensinarão a confiar totalmente nEle.

"Inicialmente, o povo não deveria passar por um caminho que evocasse em sua mente a possibilidade de perigo naquela empreitada, esfriando, assim, o ânimo e o clima de festa que deveria marcar a saída."

Sobre "o Caminho da Terra dos Filisteus"
Uma curiosidade sobre essa passagem de Êxodo 13.17 envolve a questão da data exata da saída do povo judeu do Egito. Há duas datas em disputa: 1441 a.C. ou cerca de 1300 a.C. As duas são defendidas com argumentos plausíveis, e um bom resumo de toda essa discussão pode ser encontrado nas páginas 121 a 127 da obra Tempos do Antigo Testamento — Um Contexto Social, Político e Cultural (CPAD).
Bem, mas em que sentido o texto de Êxodo 13.17 tem a ver com essa questão?
É que se considerarmos como data do êxodo cerca de 1300 a.C., as expressões “o caminho da terra dos filisteus” e “vendo a guerra” significam, como afirma o Comentário Bíblico Beacon, que Deus levou o povo “por um percurso mais longo a fim de evitar o encontro com os filisteus bélicos”.1 Ora, os 2 filisteus e os demais “Povos do Mar” chegaram à região do Egito, Palestina, Chipre e Síria no final do século XIV e início do século XIII, empreendendo várias batalhas contras essas nações. As duas maiores batalhas contra os egípcios aconteceram por volta de 1230 a.C. e 1190 a.C., quando finalmente foram derrotados por Ramasés III e se estabeleceram no sudoeste de Canaã, fundando as cidades de Asdod, Ecrom, Gaza e Gate.
Uma vez que “os filhos de Israel não eram treinados para a batalha e a fé em Deus ainda era fraca, eles poderiam se arrepender quando vissem a guerra [isto é, quando encontrassem os beligerantes filisteus no trajeto] e voltar para o Egito”.3 1 LIVINGSTON, George Herbert. Comentário Bíblico Beacon. v. 1. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p. 169. 2 LIVINGSTON, George Herbert. Comentário Bíblico Beacon. v. 1. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p. 169.3 LIVINGSTON, George Herbert. Comentário Bíblico Beacon. v. 1. Rio de Janeiro
Entretanto, se considerarmos a data do Êxodo 1441 a.C., estamos falando do século XV, quando os filisteus, provenientes de Creta, ainda não haviam chegado àquela região do mundo. Eles chegariam pouco tempo depois, mais precisamente algumas décadas depois da saída dos judeus do Egito. Então, considerando essa segunda hipótese, seria um anacronismo Moisés escrever “pelo caminho da terra dos filisteus” e, depois, ainda se referir àquela região como a “Filístia” em seu cântico (Êx 15.14).
Bem, se a segunda data hipotética da saída do povo do Egito for a correta (e ainda não sabemos se é ou não), mesmo assim haveria uma explicação lógica para o uso dessas expressões nessas passagens do livro de Êxodo: os escribas posteriores, ao fazerem cópias das Sagradas Escrituras, preferiram, para que as pessoas de seu tempo entendessem melhor a que estrada Moisés estava se referindo, chamá-la pelo nome que era mais conhecida em seus dias: “o caminho da terra dos filisteus”.
Tal alteração não fere as Sagradas Escrituras, já que a mensagem não fora alterada — apenas a linguagem usada fora atualizada. Grosso modo, é como se hoje, em vez de você dizer que o guerreiro Vercingetórix (72 a.C. a 46 a.C.) nasceu na Gália Transalpina, preferir, para ser mais bem entendido, afirmar que ele nasceu na França, porque a Gália Transalpina ficava onde hoje é o território da França. A nação França pode ter surgido quase mil anos depois de Vercingetórix, mas afirmar que ele nasceu na França não é errado, pois o que está se querendo dizer com isso é simplesmente que ele nasceu no território onde hoje é a França. A única diferença desse exemplo para o caso bíblico de Êxodo 13.17 e 15.14 é que a distância de anos não era de quase mil, mas de décadas.
Essa possível atualização dos escribas posteriores a Moisés não fere o texto bíblico, uma vez que quando os autores bíblicos asseveram, sob a inspiração divina, que as Escrituras não podem ser alteradas, o que está em foco, claramente, é a fidelidade à mensagem bíblica, a fidelidade ao sentido do que está sendo dito, e não uma atualização de linguagem. O que a Bíblia condena é a distorção do sentido do texto, seja por acréscimo ou por diminuição do conteúdo da mensagem (Dt 4.2; 12.32; Pv 30.5,6; Ap 22.18,19), e não uma atualização de linguagem ou paráfrases fieis ao sentido original.
Paráfrases, quando totalmente fieis ao que está consignado no texto bíblico, não tiram a sua inspiração. Se não fosse assim, nenhuma tradução da Bíblia seria inspirada, só o texto em hebraico do Antigo Testamento ou o grego neotestamentário. Os muçulmanos é que têm esse conceito distorcido de inspiração. Eles creem que a inspiração só se encontra na língua original em que o Alcorão foi escrito — o árabe — e que, justamente por isso, nenhuma tradução do Alcorão é inspirada, a não ser o texto na língua original, razão por que ensinam que o muçulmano deve aprender o árabe para ler o Alcorão em árabe. A mesma coisa acontece com o sânscrito no hinduísmo. A Bíblia, porém, não ensina isso.
Neemias, por exemplo, conta que a geração de judeus que retornou do cativeiro babilónico precisava de explicações orais para entender o texto bíblico que lhes era lido (Ne 8.8). É que esses judeus vindos do cativeiro falavam aramaico, que era a língua oficial do Império Babilónico, por isso não entendiam a Lei e os Profetas quando lidos, porque o texto lido estava em hebraico. Com o passar dos anos, essas traduções -explicações em aramaico foram escritas, criando os “Targumim”, que nada mais são do que traduções parafraseadas do Antigo Testamento hebraico para o aramaico. O primeiro Targum é o de Ônquelos, que contém o Pentateuco; e o segundo é o Targum de Jônatas, que contém os Profetas. Pois bem, em Êxodo 3.14 e em Deuteronômio 32.29, o Targum de Ônquelos parafraseou a expressão “Eu Sou” da seguinte maneira: “Aquele que é, e que era, e que há de vir”. Ora, essa mesma paráfrase aparece nada menos que cinco vezes em Apocalipse (Ap 1.4,8; 4.8; 11.17; 16.5). Isso mostra que as várias formas, estilos e construções gramaticais são válidas, contanto que o conteúdo do texto — isto é, seu sentido original — não seja de forma alguma corrompido. Janeiro: CPAD, 2005, p. 169.
Outro detalhe é que o próprio texto bíblico mostra que o trabalho dos escribas judeus no período em que o Cânon Sagrado do Antigo Testamento ainda não estava fechado era muito sério e aceito por todos. Por exemplo: Moisés escreveu Deuteronômio, mas só até o versículo 29 do capítulo 33. O capítulo 34 foi acrescido logo após a sua morte, uma vez que Moisés não poderia escrever sobre a sua própria morte depois da sua morte. Esse acréscimo foi feito por algum escriba do período em que o Cânon Sagrado do Antigo Testamento ainda não havia sido fechado — seja um escriba da época de Josué, seja de uma época posterior.
Outro exemplo: Jeremias morreu sem ver o cumprimento de todas as suas profecias. Suas profecias foram registradas, com a ajuda de seu secretário, o escriba Baruque, até o versículo 64 do capítulo 51 do seu livro. Ao final desse versículo, um escriba escreveu: “Até aqui as palavras de Jeremias”. Todo o capítulo 52, portanto, não foi escrito por Jeremias — e nem poderia, porque ele traz alguns cumprimentos de profecias de Jeremias que ele não viveu o suficiente para ver cumpridas. Quem escreveu esse capítulo ou foi Baruque, já idoso, ou algum outro escriba que, ainda no exílio ou logo após o exílio, acrescentou esse capítulo para mostrar o cumprimento das profecias de Jeremias. Esse capítulo é, inclusive, quase exatamente igual, em seus três primeiros versículos, a 2 Reis 24.18-20; e o restante do capítulo repete a história dos reis de Judá até 2 Reis 25.30.
O trabalho desses escribas — dentre eles o próprio sacerdote Esdras, que é autor do livro que leva o seu nome no Cânon do Antigo Testamento
— foi valioso e totalmente inspirado. Aliás, foi o sacerdote Esdras quem organizou o Cânon do Antigo Testamento. E logo quando o Cânon Sagrado foi encerrado, não houve mais alterações. Flávio Josefo, historiador judeu e contemporâneo do apóstolo Paulo, falou da seguinte maneira sobre o Cânon do Antigo Testamento em seus dias: “... e pelos quais temos tal respeito, que ninguém jamais foi tão atrevido para tentar tirar ou acrescentar, ou mesmo modificar-lhes a mínima coisa. Nós os consideramos como divinos”.4 Também no primeiro século d.C., encontramos o próprio Jesus considerando a organização do Cânon do Antigo Testamento pelos escribas pós-exílio como sendo a Palavra de Deus (Lc 24.44; Jo 5.39).

A Presença de Deus durante todo o Percurso
Voltando à saída do povo do Egito, vemos que o cuidado de Deus manifestado desde o início da caminhada dos hebreus para fora do Egito marcou também todo o restante do percurso. Um dos símbolos desse 4 JOSEFO, Flávio. História dos Hebreus. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p. 741. cuidado constante é a coluna de nuvem e fogo: “E o Senhor ia adiante deles, de dia numa coluna de nuvem, para os guiar pelo caminho, e de noite numa coluna de fogo, para os alumiar, para que caminhassem de dia e de noite. Nunca tirou de diante da face do povo a coluna de nuvem, de dia, nem a coluna de fogo, de noite” (Êx 13.21,22).
A presença real e visível de Deus estava ali, durante todo o percurso, por meio da coluna de nuvem e fogo. Por meio dela, Deus estava dizendo: “Eu estou com vocês durante todo o caminho! Durante o dia, como nuvem, para refrescá-los no sol causticante do deserto; e à noite, como fogo para aquecê-los no frio desse mesmo deserto”.
A coluna de nuvem e fogo representava a presença e o cuidado divinos, mas também a sua orientação, uma vez que a Bíblia diz que o povo parava quando a coluna parava e prosseguia quando a coluna se levantava (Êx 40.36-38). Era Deus quem determinava o momento de parar e de prosseguir. Felizes são aquele e aquela que se deixam conduzir pela vontade de Deus, parando, retrocedendo ou avançando quando a Palavra de Deus diz que é hora de parar, de retroceder ou de avançar.

O Exemplo de Fé de José
Um dado tocante do relato da saída do povo do Egito é o registro de que “Moisés levou consigo os ossos de José” (Êx 13.19). Moisés conhecia muito bem a história de José. Foi ele quem a registrou para a posteridade no livro de Gênesis. E ele sabia, como também registrou, do pedido de José havia feito aos filhos de Israel para que jurassem solenemente: “Certamente Deus vos visitará; daqui, pois, levai convosco os meus ossos” (Gn 50.25; Êx 13.19, ARA).
Moisés conhecia a história e o exemplo de fé de José, e não poderia, em respeito ao pedido, ao juramento, à fé e à vida do patriarca, abandonar os seus ossos. A promessa feita pelos filhos de Israel na época em que o patriarca ainda era vivo, o próprio Moisés, instrumento de Deus para levar os hebreus ao cumprimento da promessa divina de uma Terra Prometida, encarregou-se de cumprir.
Mas aquele gesto também tinha um significado para todo o povo, e não só para Moisés. Os ossos de José eram uma lembrança, para o povo de Israel, de que seu lugar não era ali, que havia uma Terra Prometida e que eles poderiam confiar no cumprimento das promessas de Deus, assim como o patriarca José confiou e tinha agora os seus ossos levados por Moisés, como um testemunho público do início do cumprimento da promessa divina.

A Perseguição de Faraó
O fato de estarmos sob a direção de Deus não significa que não enfrentaremos perseguições. Nem muito menos o fato de termos saído recentemente de uma grande vitória que Deus nos concedeu significa que outros desafios não surgirão logo. O povo hebreu havia conquistado, pela ação divina, a sua saída do Egito, e Deus estava com eles, guiando-os em todo esse processo e percurso; porém, quando tudo parecia em paz, Faraó se levantou para caçar o povo (Ex 14.5,6), e Deus o permitiu para a própria desgraça do tirano egípcio. Aliás, a Bíblia diz que Deus criou as condições para que Faraó revelasse mais uma vez a insinceridade e maldade do seu coração perseguindo o povo, uma vez que Deus colocou o povo hebreu em uma situação que dava a Faraó a oportunidade de atacar com êxito os judeus. Se não, vejamos.
Os hebreus, orientados por Deus, saíram de Ramsés para Sucote (Ex 12.37), onde provavelmente passaram a primeira noite. De lá, em vez de seguirem em frente, Deus os orientou a subirem “o caminho do deserto” em direção ao Mar Vermelho (Ex 13.17,18), onde não havia fortificação nenhuma dos egípcios por uma razão lógica: quem fugisse do Egito por aquele caminho ainda teria de passar pelo Mar Vermelho. Inclusive, analisando a situação pelos olhos naturais, não havia razão alguma para o povo ir por ali, porque, a não ser que tivessem muitas embarcações para atravessar o Mar Vermelho, os hebreus só poderiam prosseguir a viagem se saíssem do estreito onde se meteram. Sim, literalmente um estreito, porque Deus disse a Moisés que o povo, em vez de seguir adiante, contornando à distância o Mar Vermelho, retrocedesse e acampasse “entre Migdol e o mar, diante de Baal-Zefom, f...] junto ao mar” (Êx 14.2). Isso significa que os hebreus estavam acampados em um estreito desfiladeiro, cercados de montanhas pelos lados e tendo o mar à sua frente.

"Se e Deus quem nos guia a uma determinada situação e somos fieis a sua orientação em todo o percurso, confiemos em sua providencia em nosso favor quando a dificuldade chegar. Deus sabe o que está fazendo"

Esse era o cenário ideal para um ataque: o povo estava completamente encurralado.Aos olhos humanos, a situação era tão cômica que Faraó, quando soube do trajeto tomado pelo povo, foi logo tentado a voltar atrás em sua decisão e atacar os hebreus.
A Bíblia diz que Deus deu essa orientação “absurda” para o povo exatamente para que Faraó dissesse: “Estão desorientados na terra, o deserto os encerrou” (Ex 14.3, ARA) — isto é, “Estão malucos, não sabem nem para onde estão indo, ficaram encurralados sozinhos” — e, tentado pela maldade do seu próprio coração, partisse ao encalço dos judeus, quebrando a sua promessa (Ex 14.5-7) e fazendo com que Deus exaltasse o seu nome mais uma vez sobre o arrogante Faraó, e desta vez também sobre todo o seu exército com seus carros e cavaleiros (Ex 14.17,18).
Diante de si, o povo hebreu só tinha três alternativas: o mar, as montanhas ou o exército de Faraó. Ou seja, aos olhos humanos, era morte na certa para todos, seja qual fosse o caminho tomado. Porém, como fora Deus que o orientara a ficar ali, seria Ele quem daria o escape. Era tudo um plano de Deus.
Essa passagem nos ensina que devemos confiar na orientação divina, mesmo quando não a entendemos à primeira vista. Como diz Matthew Henry, comentando esse episódio,
O homem não é dono do seu próprio caminho (Jr 10.23). Ele pode delinear o seu caminho e projetá-lo, porém, apesar de tudo, é Deus quem lhe dirige os passos (Pv 16.9). O homem propõe, porém Deus dispõe, e à sua disposição devemos obedecer, preparando-nos para seguir a providência. Havia dois caminhos do Egito até Canaã. Um era um atalho do norte do Egito até o sul de Canaã, uma viagem de cerca de quatro ou cinco dias.
O outro era muito mais longo, através do deserto, e este foi o caminho é situação à orientação providência dificuldade chegar. Deus sahe o que está fazendo." pelo qual Deus decidiu conduzir o seu povo Israel (Êx 13.18). Houve muitas razões pelas quais Deus os conduziu pelo caminho do deserto do mar Vermelho. Os egípcios deveriam ser afogados no mar Vermelho. Os israelitas deveriam ser humilhados e tentados no deserto (Dt 8.2).5
Se é Deus quem nos guia a uma determinada situação e somos fiéis à sua orientação em todo o percurso, confiemos em sua providência em nosso favor quando a dificuldade chegar. Deus sabe o que está fazendo. Como disse Jesus a Pedro: “O que eu faço, não o sabes tu, agora, mas tu o saberás depois” (Jo 13.7).
O Livramento Divino
A Bíblia nos diz que logo quando o povo viu o exército de Faraó, já empalideceu de medo e clamou ao Senhor (Êx 14.10). Só que, infelizmente, o povo não ficou só no clamor: começou a murmurar também (Êx 14.11). Foi a primeira das muitas murmurações do povo em sua peregrinação rumo a Canaã, e todas revelando a mesma coisa: os hebreus haviam saído da escravidão, mas a mentalidade de escravos ainda estava dentro deles. Afinal, foram centenas de anos vivendo como escravos no Egito. Essa mentalidade já estava enraizada em seus corações. Note o que dizem os hebreus amedrontados a Moisés: “Será, por não haver sepulcros no Egito, que nos tiraste de lá, para que morramos neste deserto? Por que nos trataste assim, fazendo-nos sair do Egitol Não é isso o que te dissemos no Egito: Deixa-nos, para que sirvamos os egípcios? Pois melhor nos fora servir aos egípcios do que morrermos no deserto” (Êx 14.11 — ARA, grifo meu).
A resposta de Moisés é uma das mais belas da Bíblia (Êx 14.13,14). O servo de Deus responde dizendo, em outras palavras, que quem atende ao chamado de Deus deve confiar nEle, porque o Senhor cuida dos seus filhos. E em seguida a essa resposta, Deus diz a Moisés: “Por que clamas a mim? Dize aos filhos de Israel que marchem” (Êx 14.15). Ou seja, não basta ter uma fé meramente teórica. A verdadeira fé deve ser seguida de ação, deve nos levar a uma atitude concreta. A fé sem obras, sem atos, sem ação, sem atitude correspondente ao que se crê, é morta (Tg 2.17). “Marchem! 5 HENRY, Matthew. Comentário Bíblico do Antigo Testamento — Gênesis a Deuteronômio. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 267.
O que Deus fez foi extraordinário do começo ao fim. Primeiro, Ele enviou seu Anjo, que saiu da frente do povo para a retaguarda, sendo acompanhado pela coluna de nuvem, que produziu uma escuridão que desnorteou os egípcios, enquanto onde o povo de Israel estava permanecia a luz; e quando anoiteceu, ainda permaneceu claro onde estavam os hebreus (Êx 14.19,20).
Na sequência, a Bíblia diz que Deus enviou um vento oriental “que soprou toda aquela noite” (Êx 14.21) formando milagrosamente um largo caminho seco no meio do Mar Vermelho, com dois muros de água de ambos os lados do imenso corredor seco (Êx 14.21,22,29). Todo o povo poderia atravessar o Mar Vermelho sem embarcações: a pés enxutos.
Note: não foi um milagre de secamento do mar. Não é isso que a Bíblia diz. Ela afirma que Deus “dividiu as águas”, formando “muros” de água, milagrosamente, de ambos os lados desse imenso corredor pelo qual atravessaram milhões de pessoas — considerando homens, mulheres e crianças (Ex 14.22,29). Quando Deus permitiu que finalmente os egípcios vissem os hebreus e saíssem ao seu encalço, emperrou-lhes as rodas dos carros para que andassem dificultosamente (Ex 14.25) até que estivessem lentos, quase que estagnados, no meio do mar. Foi quando Deus falou a Moisés para tocar o mar novamente com sua vara e o mar se fechou sobre os egípcios, perecendo todo o exército naquele dia. E para que o povo não tivesse dúvidas, Deus permitiu que os hebreus vissem os corpos dos egípcios mortos boiando nas margens do Mar Vermelho (Êx 14.30).
Assim, todo o povo “temeu ao Senhor e confiou no Senhor e em Moisés, seu servo” (Êx 14.31, ARA). Esta é uma das principais funções de um milagre: produzir acréscimo de fé.

O Cântico de Moisés
O cântico de Moisés é o cântico mais antigo da Bíblia. Trata-se de um hino de gratidão a Deus pelo livramento milagroso que Ele proporcionou.
É uma celebração da intervenção divina em favor do seu povo, libertando -o e derrotando aqueles que oprimiam e perseguiam o povo de Deus.
Deus é chamado por Moisés nesse cântico de “minha força”, “meu cântico” (isto é, motivo do seu louvor), “salvação”, “Deus de meu pai”, “homem de guerra” e “Senhor”, além de incomparável e único Deus e aquEle que reinará para sempre (Ex 15.2,3,11,18).
Esse cântico pode ser dividido em três partes, onde vemos Deus como o Herói do seu povo (Ex 15.1-3), o Senhor supremo sobre todos (15.4-12) e o Rei de Israel (15.13-19). A razão de ser de todo o cântico, o seu resumo, está no versículo 19.
Deus deseja que sejamos gratos a Ele e que o reconheçamos como Senhor da nossa vida, como a razão do nosso viver. O cântico de Moisés nada mais é do que um reconhecimento da graça e do amor de Deus diante de uma intervenção espetacular de sua parte, uma manifestação sincera de gratidão ao Senhor pelo seu cuidado para com o seu povo. Não é todo dia que vemos uma intervenção desse porte, fisicamente falando, mas todos os dias Deus está agindo em nosso favor, quer percebamos, quer não. Devemos agradecer a Deus pelas suas intervenções visíveis e invisíveis sobre as nossas vidas, livrando-nos do mal.
A Antífona de Miriã
Em seguida ao cântico de Moisés, temos a antífona de Miriã e das mulheres. Miriã, irmã de Arão e Moisés, era profetisa. Aliás, ela é a primeira profetisa mencionada na Bíblia.
Miriã, apesar de também irmã de Moisés, aparece na Bíblia mais associada a Arão do que a Moisés. Nessa passagem, ela aparece tocando um tamboril, ou seja, um pandeiro, e cantando e dançando com as mulheres, num momento de grande alegria pelo que Deus fizera. Obviamente, quando o texto bíblico diz que elas dançavam, não está se referindo a nenhum movimento corporal escandaloso, mas a atos e gestos alegres e solenes de louvor e adoração.
Provavelmente, quando o texto bíblico diz que Miriã “respondia” (Ex 15.21), está querendo dizer que ela cantava as palavras do seu refrão “como resposta a cada uma das partes do Cântico de Moisés”.6 Outro detalhe aqui é que vemos a profecia relacionada com a adoração, o que é comum também em outras partes do Antigo Testamento, como nos Salmos e no registro de 1 Crônicas 25.1.

Na Direção de Deus
Após essa experiência extraordinária, o povo prosseguiu sua peregrinação rumo à Terra Prometida. Não pelo caminho mais curto, e sim pelo mais longo.
O caminho mais curto, sobre o qual já falamos (do norte do Egito ao sul de Canaã), tinha aproximadamente 320 quilômetros de extensão — um percurso que poderia ser percorrido, na melhor das hipóteses, de quatro a cinco dias por uma única pessoa, como aponta Matthew Henry. Porém, como se tratava de uma multidão de cerca de 2 milhões de pessoas, com muitas mulheres e crianças entre elas, só poderia ser percorrido em pouco mais de uma semana; até, no máximo, em duas semanas.
Deus, muitas vezes, nos leva a “caminhos mais longos', que não entendemos. E Ele o faz porque quer nos levar a experiências extraordinárias com Ele.
Seja qual for o caminho pelo qual Deus o está, levando hoje, se é Ele mesmo quem está conduzindo você, então confie, creia e espere, porque, no final, vai dar tudo certo. Lembre-se: “Todas as
coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8.28, ARA). 6 LIVINGSTON, George Herbert. Comentário Bíblico Beacon, v. 1. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p. 174.

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SILAS DANIEL É pastor, jornalista, chefe de Jornalismo da CPAD e escritor. Autor dos livros Reflexão sobre a alma e o tempo, Habacuque a vitória da fé em meio ao caos, História da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil, Como vencer a frustração espiritual e A Sedução das Novas Teologias, todos títulos da CPAD, tendo este último conquistado o Prêmio Areté da Associação de Editores Cristãos (Asec) como Melhor Obra de Apologética Cristã no Brasil em 2008

ALEXANDRE COELHO GALDINO É ministro do evangelho, licenciado em Letras e Teologia. Professor universitário, ministra aula de Grego, Novo Testamento e Exegese na FAECAD. É chefe do Setor de Livros da CPAD, acadêmico em Direito e cursa MBA em Gerenciamento de Projetos na Fundação Getúlio Vargas.

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