O Sonho da Mulher de Pilatos

Sermão pregado na manhã de domingo, 26 de fevereiro de 1882. Por Charles Haddon Spurgeon. No Tabernáculo Metropolitano, Newington, Londres.

“E, estando ele assentado no tribunal, sua mulher mandou-lhe dizer: Não entres na questão desse justo, porque num sonho muito sofri por causa dele.” Mateus 27:19

Eu desejava sinceramente continuar com a história dos sofrimentos de nosso Salvador antes de Sua crucificação, mas quando me sentei para estudar o tema, descobri-me absolutamente incapaz desse exercício. “Quando pensava em entender isto, foi para mim muito doloroso (Salmos 73:16).” Minhas emoções se tornaram tão fortes, e meu sentido da dor de nosso Senhor voltou-se tão extremamente vivido, que senti que deveria adiar o tema por um tempo. Mas, ainda que não pudesse vigiar com Ele outra hora, não podia também abandonar a sagrada cena.

Portanto, foi para mim um alívio encontrar-me com o episodio da mulher de Pilatos[1] e seu sonho: permite-me continuar com a linha de minha narrativa, e no caso, relaxar da extrema tensão dos sentimentos causados por uma visão próxima da dor e vergonha do Senhor.

Meu espírito curvou-se diante desse terrível espetáculo. Pareceu-me ter visto ao Senhor quando O levavam de volta da entrevista com Herodes, onde os soldados haviam menosprezado Dele. Segui-Lhe de novo ao longo das ruas, enquanto os cruéis sacerdotes abriam espaço em meio da multidão e o levavam apressadamente ao pretório[2] de Pilatos. Pareceu-me também ouvi-los nas ruas dizendo que Bárrabas, o ladrão, fosse libertado em lugar de Jesus, o Salvador, e detectei o primeiro surto daquele terrível alarido: “Crucifica, crucifica!” que lançavam por suas gargantas sedentas de sangue: e ali estava Ele, que me amou e se entregou por mim, como uma ovelha no meio dos lobos, sem ninguém que se apiedasse Dele e nem que Lhe ajudasse.

A visão me oprimiu, especialmente quando soube que a seguinte etapa seria a que Pilatos, que o havia inocentado ao declarar: “não acho nele crime algum.” (João 19: 4), o entregaria aos torturadores para que o açoitassem, e os mercenários soldados o coroariam de espinhas e o insultariam sem misericórdia, e para que fosse levado ao povo e apresentado diante deles com aquelas palavras que afligem a alma: “Eis aqui o homem!” Houve alguma vez dor como Sua dor?

Em vez de falar sobre isso hoje, sinto-me inclinado a atuar como os amigos de Jó, de quem está escrito que ao olhá-lo, “levantaram a sua voz e choraram, … e assentaram-se com ele na terra, sete dias e sete noites; e nenhum lhe dizia palavra alguma, porque viam que a dor era muito grande.” (Jó 2: 12-13)

Deixamos momentaneamente ao Senhor para considerar esse sonho da mulher de Pilatos, de quem se fala só uma vez na Escrituras, e quem o faz é Mateus. Eu não sei por que esse evangelista foi o único comissionado para registrar esse sonho – talvez ele foi o único que ouviu sobre ele – mas esse único registro basta para nossa fé, e contêm suficiente material para nos ministrar alimento para meditação. Nós recebemos a história como certificada pelo Espírito Santo.

Enquanto desempenhou seu cargo, Pilatos comportou-se extremadamente mal. Tinha sido injusto e inescrupuloso governante dos judeus. Tanto os galileus[3] como os samaritanos tinha sentido o terror de suas armas, pois não duvidou em massacrá-los diante do mais leve sinal de subversão[4] – e entre os próprios judeus, havia enviado homens com punhais em meio as multidões nas grandes reuniões, para eliminar os que lhe eram odiosos[5]. A ganância era seu objetivo, e a altivez governava seu espírito. No tempo em que Jesus de Nazaré foi levado diante dele, encaminhava-se uma queixa feita contra ele ao imperador Tibério, e temia ser chamado a render contas por suas opressões, extorsões e assassinatos[6]. Seus pecados naquele momento estavam começando a castigá-lo: como nos Salmos diz “quando me cercar a iniqüidade dos que me armam ciladas”

Uma terrível porção do castigo do pecado é seu poder para forçar a um homem cometer maiores iniquidades. As transgressões de Pilatos agora estavam uivando a sua volta como uma manada de lobos – não podia se enfrentá-las, e não contava com a graça para fugir ao único grande refugio – seu temos antes o conduziu a fugir diante delas, e não havia nenhum caminho aberto para ele, senão aquele que o conduziu as mais profundas abominações. Ele sabia que Jesus era inteiramente sem mancha. No entanto, posto que os judeus clamavam pedindo Sua morte, sentiu que deveria ceder a suas demandas, pois, do contrário levariam outra acusação contra ele, isso é, que não era leal a soberania do Cesar, tendo permitido que escapasse um que havia se declarado rei. Se ele tivesse se comportado com justiça, não teria temido os principais sacerdotes e escribas. A inocência é valente, mas a culpa é covarde. Os velhos pecados de Pilatos o encontraram e o debilitaram diante da presença da infame turba, que de outra forma teria sido deixada fora do pretório. Pilatos tinha o poder necessário para ter-lhes silenciado, mas carecia da suficiente decisão de caráter para acabar com a disputa: o poder havia abandonado sua mente porque ele sabia que sua conduta não suportaria um inquérito, e temia perder seu cargo[7], que sustentava somente olhando para seus próprios fins.

Vejam lá, lamentavelmente essa depreciativa, porem vacilante criatura, titubeando na presença de homens que eram mais perversos que ele mesmo e mais decididos em seu propósito. A feroz determinação dos malvados sacerdotes provocou que, por uma política indecisa, Pilatos se acovardasse em sua presença, e fosse levado a fazer o que satisfatoriamente teria evitado.

O comportamento e as palavras de Jesus tinham impressionado a Pilatos. Digo o comportamento de Jesus, pois sua mansidão sem par deve ter impactado o governador como algo muito incomum em um prisioneiro. Ele havia visto em muitos judeus capturados o feroz valor do fanatismo; mas em Cristo não existia nenhum fanatismo. Pilatos tinha visto também em muitos prisioneiros a baixeza que diria qualquer coisa para escarpar da morte – mas não viu nada disso em nosso Senhor. Viu nele uma docilidade e humildade incomuns, combinadas com uma dignidade majestosa. Contemplou uma submissão misturada com a inocência. Isso fez com que Pilatos sentisse qual terrível era a bondade.

Pilatos estava impressionado – não podia evitar estar impressionado – com esse singular ser sofredor. Além disso, nosso Senhor tinha dado o testemunho de uma boa confissão diante de Pilatos – vocês lembram como a consideramos noutro dia – e ainda que Pilatos tenha desprezado esse testemunho com a petulante pergunta “o que é a verdade?”, e tenha regressado ao pretório, restou uma flecha cravada em seu interior que não podia extirpar. Poderia ter sido principalmente uma superstição – mas sentia um temor por alguém de quem suspeitava medianamente que se tratava de uma extraordinária personagem. Pilatos sentia que ele mesmo estava posto em uma incomum posição, ao pedirem que condenasse alguém a quem sabia perfeitamente que era inocente. Seu dever era muito claro – não poderia abrigar nenhuma dúvida a respeito – mas o dever não era nada para Pilatos comparado com seus próprios interesses. Ele perdoaria a vida do Justo se tivesse possibilidade de fazer sem comprometer-se, mas seus covardes temores o rebaixaram a derramar sangue inocente.

No preciso momento em que estava vacilando, quando havia proposto aos judeus que escolhessem entre Barrabás ou Jesus de Nazaré, nessa mesma hora, repito, quando tomou seu lugar no tribunal, e esperava a decisão, lhe chegou a advertência providencial da mão de Deus, uma advertência que ia deixar claro para sempre que, se condenasse a Jesus, o faria voluntariamente com suas mãos culpadas. Jesus tinha que morrer pelo determinado conselho e antecipado conhecimento de Deus[8], e, no entanto, deveria ser por mãos iníquas que ele fosse crucificado e imolado; e, por isso, Pilatos não devia pecar na ignorância. Veio a Pilatos uma advertência proveniente de sua própria esposa, relativa a um sonho matutino, uma visão de mistério e terror, advertindo-lhe que não tivesse nada que ver com esse justo; “porque” – disse ela – “hoje sofri muito em sonho por causa dele.”

Há momentos nas vidas da maioria dos homens nos quais ainda estiverem errados, se não estão demasiadamente assentados na maldade, fazem uma pausa e deliberam quanto a seu caminho – então, Deus, em Sua grande misericórdia, lhes envia um aviso, e coloca um sinal de perigo, ordenando-lhes que se detenham em sua louca disparada antes que se afundem finalmente na ruína irreparável. O tema de nossa presente mensagem explora esse aviso. Oh, que o Espírito de Deus a faça útil para muitas pessoas.

I. Primeiro, peço-lhes sua atenção À COOPERAÇÃO DA PROVIDÊNCIA COM A OBRA DE DEUS. Eu digo que é uma obra de Deus advertir os homens contra o pecado, e lhes peço que vejam à Providência trabalhando com essa obra, para induzir as mentes dos homens enxergarem as prevenções e as advertências da divina misericórdia.

Então, em primeiro lugar, observem à providência de Deus que envia esse sonho. Se algo debaixo da Lua pudesse ser considerado isento da lei, e vir a ser uma criatura do puro azar, certamente essa tal coisa seria um sonho. É certo que houve sonhos nos tempos antigos nos quais Deus falou aos homens profeticamente; porem, ordinariamente, os sonhos são o carnaval do pensamento, um labirinto de estados mentais, uma dança de desordens. Os sonhos que viriam naturalmente à esposa de um governador romano não tenderiam a conter muita ternura nem consciência, e com toda probabilidade, por si mesmos, não teriam que ver com a misericórdia.

Normalmente, os sonhos são os fenômenos mais desordenados, porem, pareceria ser que são ordenados pelo Senhor. Posso entender muito bem cada gota de espuma do mar que salta pela onda quando se choca com o farol tem sua orbita já fixa tão certamente como as estrelas do céu – porem, os pensamentos dos homens pareceriam ser completamente sem lei, especialmente quando o sono profundo cai sobre eles. É tão impossível predizer o vôo de um pássaro como o curso de um sonho. Essas extravagantes fantasias parecem ser indomáveis e ingovernáveis. Muitas coisas operam naturalmente para modelar um sonho. Os sonhos dependem frequentemente da condição do estômago, e dos alimentos e bebidas ingeridas pelo sonhador antes de se retirar ao descanso. Com frequencia devem sua forma ao estado do corpo ou da agitação da mente. Sem dúvida, os sonhos podem ser causados pelo que ar que transpira no aposento da casa: um pequeno movimento da cama provocado pelas rodas que passam, ou o ruído das pisadas de um grupo de homens, ou talvez o passo de uma empregada doméstica através do piso, ou até mesmo as corridas de um rato atrás da coluna da parede poderiam sugerir ou moldar um sonho. Qualquer leve assunto que afete os sentidos nesse momento pode fazer surgir na mente adormecida um turbilhão de idéias estranhas.

No entanto, qualquer que fosse a causa que operou no caso dessa dama, a mão da providência estava em tudo nela, e sumamente, ainda que era livre como o vento, não perambulou à deriva, mas sim justamente de acordo com à vontade de Deus, para efetuar o propósito divino. Tinha que sonhar justamente com isso, e nada mais do que isso, e esse sonho deveria ser de tal ordem, e de nenhuma outra. Inclusive, no país dos sonhos não se conhece outro deus que não Deus, e ainda mesmo os fantasmas e as sombras vem e vão segundo Suas instruções, e nem as imagens de uma visão noturna podem escapar da suprema autoridade do Altíssimo.

Vejam a providencia de Deus no fato de que o sonho da mulher de Pilatos, independente de sua causa, foi de tal forma e chegou a um momento como esses. Alguns antigos escritores atribuem seu sonho ao demônio, que dessa forma, esperava prevenir a morte do Senhor e impedir nossa redenção[9]. Não estou de acordo com essa ideia – mas ainda que assim fosse admiraria mais ainda a providência, que invalida até mesmo os ardis de Satanás para cumprir os propósitos da sabedoria. Pilatos devia ser advertido para que sua sentença fosse seu próprio ato e sua própria ação, e essa advertência lhe é dada por meio do sonho de sua esposa. Assim trabalha a Providência.

Continuando, observem a providência de Deus ao dispor que com esse sonho, houvesse um grande sofrimento mental. “Padeci muito em sonhos por causa dele!” Eu não poderia saber que visão passou por diante dos olhos de sua mente, mas foi algo que lhe causou uma terrível agonia.

Um artista moderno pintou um quadro do que ele se imaginava o que era o sonho[10], mas eu não vou tentar seguir esse grande homem no exercício de sua fantasia. A mulher de Pilatos pode ter contemplado em seu sonho o terrível espetáculo da coroa de espinhas e dos açoites, ou inclusive a crucificação e a agonia da morte – e, em verdade, não conheço nada que consiga fazer sofrer ao coração muitas das coisas concernente ao Senhor Jesus, do que um olhar à sua morte. Em volta da cruz reuni-se suficiente dor para provocar várias noites de insônia, se a alma resta uma ponta de ternura.

Ou quem sabe seu sonho pode ter sido de um tipo muito diferente. Poderia ter visto em visão o Justo vindo nas nuvens do céu. Sua mente pode ter visto o Senhor sobre o grande trono branco, e tratava-se do mesmo homem a quem seu esposo estava prestes a condenar a morte. Poder ter visto seu esposo quando era levado a juízo, sendo um prisioneiro que deveria ser julgado pelo Justo que ele tinha acusado no passado. Poderia ter despertado aflita pelo grito de seu esposo quando esse submergiu no abismo que não conhece fundo.

Qualquer coisa que tenha sido, ela tinha experimentado repetidas e dolorosas emoções no sonho, e despertou aflita e atônita. O terror da noite se apoderou dela, e ameaçava converter-se em um terror para ela pelo resto de seus dias; portanto, ela se apressou em deter a mão de seu esposo.

Agora, nisso está a mão de Deus, e a simples história serve para provar que os errantes ciganos[11] dos pais dos sonhos seguem debaixo de Seu controle, e pode fazer que produzam turbação e angustia, se algum grande fim há de conseguir por eles.

É igualmente notável que ela enviasse a mensagem a seu marido: “Não tenhas nada que ver com esse justo.” Nós esquecemos a maioria dos sonhos – mencionamos como notáveis alguns, e somente de vez em quando nos grava um de tal forma que o lembramos durante anos. Dificilmente algum de vocês tenha tido algum sonho que os tivesse conduzido a enviar uma mensagem ao magistrado em seu tribunal. Esse recurso seria utilizado somente em um caso urgente. Ainda que o juiz fosse seu próprio marido, a senhor duvidaria muito antes de preocupá-lo com seus sonhos, enquanto ele estava ocupado com importantes assuntos públicos. Geralmente, um sonho pode esperar até que o trabalho termine.

Porem, a impressão era tão profunda que permanecia na mente dessa dama romana, que não espera até que seu marido regresse para casa, mas antes, lhe envia uma mensagem imediatamente. Seu conselho é urgente: “Não tenhas nada que ver com esse Justo.” Ela tem que adverti-lo agora, antes que ele dê um golpe, e com maior razão, antes que ensanguente suas mãos com Seu sangue. Não lhe enviou a dizer: “faz algo leve com Ele, e açoite-lhe e deixá-lo em liberdade”, mas sim, “Não tenhas nada a ver com Ele. Não digas nem uma só palavra áspera, nem lhe faças nenhum dano! Libertá-lo de Seus adversários! Se há de morrer ,que seja por outra mão, e não pela sua! Meu marido, esposo meu, esposo meu, lhe suplico, não tenhas nada que ver com esse justo! Deixá-lo em paz, lhe rogo!”

Ela formula sua mensagem muito enfática. “Não entres na questão desse justo, porque num sonho muito sofri por causa dele. Pense em sua mulher! Pense em você mesmo! Meus sofrimentos por causa desse Santo devem de servir de advertência para ti. Eu lhe rogo que o deixe em paz!” E, no entanto, sabem, sua mensagem soa mais bem autoritária a meus ouvidos, sendo a mensagem de uma mulher a seu marido, sendo ele um juiz! Contêm um tom que não está normalmente presente nas comunicações das esposas com seus esposos. “Não entres na questão desse justo, porque num sonho muito sofri por causa dele.”

Assim, mostra uma maravilhosa providência de Deus que essa dama tivesse sido levada a enviar uma mensagem tão forte a seu obstinado marido, para instar com ele, para impetrar com ele, para implorar-lhe, quase que exigindo dele que deixasse ir a esse justo. Oh, Providência, quão poderosamente pode trabalhar! Oh, Senhor, o serafim te obedece, porem Tu encontras um servidor igualmente disposto em uma esposa que, a Teu mandato, se interpõem entre seu esposo e um crime.

Ademais, quero que notem sobre essa providência o tempo peculiar na que chegou essa advertência Era evidentemente um sonho da manhã: “porque num sonho muito sofri.” O dia mal havia despontado: ainda era cedo de manhã. Os romanos criam na superstição de que os sonhos matutinos são verdadeiros. Suponho que ela teve esse sonho depois de que seu esposo saiu. Se me permitisse que não assinalasse um fato, mas sim só fazer uma conjectura que me parece sumamente provável, ela era uma mulher muito amada, porem enferma, pelo que precisava descansar até mais tarde que seu esposo; e quando ele abandonou seu leito, ela teve ainda outro sonho, e sendo uma pessoa sensível, e mais propensa a sonhar, despertou-se de seu sonho matutino oprimida por um terror do qual não podia se livrar.

Pilatos havia ido, e a ela foi dito que ele se encontrava no pretório. Ela perguntou a seus assistentes por que Pilatos tinha ido para lá tão cedo, e eles responderam que tinha ocorrido um incomum clamor no pátio[12], pois os principais sacerdotes e uma multidão de judeus tinha estado lá, e o governador havia saído a vê-los. Possivelmente também lhe disseram que Jesus de Nazaré tinha sido levado prisioneiro ali, e os sacerdotes estavam exigindo de Pilatos que O matasse, ainda que tivessem ouvido que o governador dizia que não encontrava delito algum Nele.

“Anda” – disse a sua serva – “chama a um dos guardas, e pede-lhe que vá de imediato a meu esposo, e lhe comente o que eu te lhe falarei. Pede-lhe que fale alto, para que alguns dos cruéis judeus possam ouvi-lo, e desistam de seu atroz propósito: que diga que eu lhe imploro a meu marido que não tenha nada que ver com esse justo, por que sofri muito em sonhos por causa dele.”

Vocês vêem que precisamente no momento em que se sentou no tribunal, lhe cegou a advertência. Quando houve uma pequena pausa, e Pilatos estava ansioso de absolver a seu prisioneiro, nesse preciso instante de tempo que era mais esperançoso, esse peso foi lançado no lado direito da balança, introduzido de uma maneira sumamente sábia e misericordiosa, para evitar que Pilatos cometesse esse horrível pecado. A advertência chegou ao momento exato, como dizemos, ainda que, ai, chegou em vão!

Admirem a pontualidade da Providência. Deus nunca se adiante; e nunca se atrasa. Será visto no que concerne a todo o que faz que o mesmíssimo dia estabelecido pela profecia chega o cumprimento. Minha alma teme enquanto canta a glória de seu Deus, cuja providência é sublime como as rodas de Ezequiel: porem, as rodas estão cheias de olhos, e ao girar, todos os ao redor são observados e atendidos de tal forma que não há equivocações nem inadvertências, nem acidentes nem demoras. A operação do Senhor é pontual e eficaz.

Com isso concluído em relativo à Providência, penso que todos estão de acordo em que meu ponto está demonstrado: que a Providência está sempre trabalhando conjuntamente com a graça de Deus. Um grande escritor que não sabe muito sobre as coisas divinas, nos disse, no entanto, que ele percebe um poder no mundo que trabalha para justiça. Isso é exatamente assim! Falou muito bem, pois esse é o principal dos poderes.

Quando vocês e eu saímos a advertir aos homens do pecado, não estamos sós, toda a Providência nos apóia. Quando pregamos a Cristo crucificado, somos obreiros conjuntamente com Deus; Deus está trabalhando conosco, como também por nós. Tudo o que ocorre está conduzindo até o fim para o que trabalhamos, quando buscamos convencer aos homens do pecado e de justiça.

Sim, e os assuntos doméstico, tais como a morte dos filhos, a enfermidade das esposas, os prejuízos do trabalho, a pobreza da família, e milhares de outras coisas estão trabalhando, trabalhando e trabalhando para o melhoramento dos homens; e vocês e eu, ao prestar nossa própria debilidade para cooperar com Deus, estamos marchando com todas as forças do universo. Então, recebam consolo disso. Oh, trabalhadores de Jesus que sofrem muitas coisas por Ele, tenham muito ânimo, pois as estrelas em seus cursos lutam pelos servos do Deus vivo, e as pedras do campo estão em aliança com vocês.

II. Em segundo lugar, eu deduzo dessa história A ACESSIBILIDADE DA CONSCIÊNCIA PARA COM DEUS. Como devemos de ter acesso a Pilatos? Como o advertiremos? Pilatos rejeitou a voz de Jesus e a presença de Jesus. Não poderiam ir a ele por Pedro para que contendesse com ele? Ai, Pedro negou a seu Mestre! Não poderiam então trazer João? Inclusive ele abandonou ao Senhor. Onde se poderia encontrar algum mensageiro? Será achado em um sonho. Deus chega aos corações dos homens, apesar de tão endurecidos que possam estar. Nunca os dêem por perdidos – nunca percam as esperanças de despertá-los.

Se meu ministério, seu ministério, ou o ministério do bendito Livro parecessem todos como nada, Deus pode alcançar a consciência por meio de um sonho. Se a espada não pode alcançar, então o que pareceria ser uma flecha perdida proveniente de um arco disparado ao acaso encontrará a juntura da armadura. Creremos em Deus enquanto aos homens malvados, e jamais dizer deles: “é impossível que sejam convertidos.” O Senhor pode ferir ao leviatã, pois Suas armas são muitas e adequadas contra o inimigo.

Eu não creio que um sonho teria um efeito sobre minha mente para convencer-me – porem, certas mentes estão abertas nessa direção, e para elas um sonho pode ser um grande poder. Deus pode usar até mesmo a superstição para efetuar Seus benéficos propósitos.

Melhor ainda, Pilatos era acessível através do sonho de sua mulher. Henry Melvill[13] tem um maravilhoso discurso sobre esse tópico, no qual tenta mostrar que provavelmente, se Pilatos houvesse sonhado ele mesmo esse sonho, não teria sido tão eficaz para ele como que sua mulher o houvesse sonhado. Ele toma como suposição – que ninguém pode negar – que Pilatos tinha uma mulher muito afetuosa e terna, e que era muito amada por ele. A única breve narração que possuímos dela dá certamente essa impressão; é evidente que ela amava ternamente a seu marido, e por isso queria impedir que ele atuasse injustamente com Jesus. Enviar uma advertência por meio dela era alcançar a consciência de Pilatos através de seus afetos. Se sua amada esposa estava turbada, era certo que isso pesaria grandemente em seu animo: pois ele não queria que ela se perturbasse. Pilatos ansiava proteger sua amada de qualquer brisa do vento e dá a ela perfeito consolo, e quando ela lhe pede algo, ele deleita-se em conceder-lo: não é, portanto, um pequeno problema para ele que ela esteja sofrendo, e sofrendo tanto como para enviar-lhe uma mensagem, sofrendo por causa de um que merece sua boa opinião, um que ele mesmo sabe que não há cometido nenhum delito.

Se essa dama era certamente a esposa de Pilatos desde sua juventude, terna e muito amada, e se estava enfermando gradualmente diante de seus olhos, seu pálido rosto se ergueria ante seu amoroso olhar, e as palavras suaves teriam um poder ilimitado sobre ele quando lhe disse: “Sofri muito em sonho.” Oh, Claudia Prócula, se esse era seu nome, fez bem o Senhor de misericórdia confiar Sua mensagem a seus lábios persuasivos, pois de ti brotaria com uma influência dez vezes maior.

A tradição declara que essa dama era cristã, e a igreja grega a colocou em seu calendário como uma santa. Para isso não contamos com nenhuma evidência; todo o que sabemos é que era a esposa de Pilatos, e que usou de sua influência de esposa para tratar de impedir que cometesse esse crime. Qual frequente uma terna mulher, sofrida e amorosa, exerceu um grande poder sobre um homem tosco e rude! O infinitamente Sábio está certo, e por isso frequentemente lhes fala aos pecadores mediante essa agência influente. Ele converte a uma pessoa da família para que seja Sua missionária para os demais membros. Dessa forma Ele fala com algo melhor do que as línguas dos homens e dos anjos, pois usa ao amor mesmo para que seja Seu orador. O afeto possui mais potência do que a eloquência.

Por isso, meu amigo, Deus lhe enviou durante breve tempo a essa amada menina que conversava contigo acerca do Salvador. Ela se foi ao céu agora, porem a musica de seus pequenos hinos ressoa em seu ouvido até mesmo nesse momento, e sua conversa sobre Jesus e os anjos permanece ainda contigo. Ela foi chamada para casa – porem Deus a enviou para você por uma estação de tempo para lhe chamar atenção e lhe ganhar para o reto caminho. Dessa forma Ele lhe pediu que abandonasse o pecado e viesse a Cristo.

E sua amada mãe, que agora está diante do trono, lembra o que lhe disse quando ela agonizava? Você escutou-me muitíssimas vezes, mas não tinha escutado jamais nenhum sermão de minha parte como essa mensagem que veio de seu leito de moribunda. Você não poderia esquecê-la, nem ficar livre de seu poder. Cuida que não a trate descuidadamente. Para Pilatos, a mensagem de sua mulher era o ultimato de Deus; já não voltou a advertir-lhe nunca mais, e mesmo Jesus ficou calado diante dele.

Oh meu amigo, para você poderia ser que sua filha, ou sua mãe, ou sua afetuosa esposa fora a ultimo mensageiro de Deus, o esforço final do anjo admoestador para lhe conduzir a uma mente renovada. Um amoroso parente suplicando com lagrimas é frequentemente a remota esperança da misericórdia. Um ataque planejado tão habilmente e conduzido tão sabiamente pode ser considerado o último assalto do amor sobre um espírito obstinado, e depois disso será abandonado a seus próprios artifícios.

A seleção da esposa foi feita sem dúvida pela infinita sabedoria e ternura, pois se fosse possível que Pilatos fosse detido em sua carreira de crime e fosse fortalecido para concluir um ato de justiça por meio da qual teria evitado o mais terrível dos crimes.

Assim que, então, podemos concluir com segurança que o Senhor tem Seus missionários ali onde o missionário urbano não pode entrar. Ele envia as criançinhas a cantar e orar lá onde o pregador jamais é ouvido. Ele move a piedosa mulher a proclamar o Evangelho com sua boca e com sua vida onde a Bíblia não é lida. Ele envia a uma doce menina para que cresça e ganhe a um irmão ou a um pai onde nenhuma outra voz seria permitida falar de Jesus e de Seu amor. Damos graças a Deus que assim seja – proporciona esperança para os lugares dessa cidade atéia – nos dá esperança mesmo por aqueles pelos quais o alarme do domingo toca em vão. Eles ouvirão, eles devem ouvir esses pregadores do lar, a esses mensageiros que lutam com seus corações.

Ai! E permitam-me agregar que onde Deus não usa um sonho, nem usa uma esposa, Ele pode acessar as consciências dos homens sem usar meios visíveis, antes, por pensamentos que chegam ser serem convidados e que permanecem na alma. Verdades enterradas por longo tempo subitamente se levantam, e quando o homem está no próprio ato do pecado, é detido no caminho, como Balaão foi detido quando o anjo encontrou-se com ele. Frequentemente, tem acontecido que a consciência esbarra com um homem culpado no mesmo momento em que ele tinha a intenção do prazer comprado com agravo, como Elias se encontrou com Acabe á porta das vinhas de Nabot! Que susto o rei tomou quando avistava o profeta: teria preferido ver o próprio demônio antes que Elias. Furiosamente grita: “Me achaste, meu inimigo?” Ainda que, realmente, Elias era seu melhor amigo, se o tivesse tido conhecimento. Muitas vezes a consciência bruscamente ataca a um homem quando o requintado manjar do pecado foi saboreado em sua língua e está apenas sentando-se para desfrutá-lo: a visita da consciência converte o mel roubado em amargura, e o gozo proibido em angustia. A consciência com frequência espreita na selva como um leão, e quando o pecador via passando pelo largo caminho, salta sobre ele, e durante um momento se vê em sérios apuros.

O homem mal é comparável ao leviatã, de quem lemos que a glória de seu vestido são escudos fortes, amarrados fortemente entre si – de tal forma que a espada que seja lançada sobre ele não pode resistir, nem a lança, nem o dardo nem o dardo – e, no entanto, o Senhor tem a maneira de chegar a ele e de ferir-lhe gravemente. Portanto, devemos esperar e orar em relação ao piores homens.

Irmãos e irmãs, usem para o bem dos homens qualquer coisa que se interponha em seus caminhos. Usem não somente o sóbrio argumento e a sã doutrina, mas até mesmo se um sonho tocou seu coração, não duvidem de reparti-lo onde possa causar efeito. Qualquer arma pode ser usada nessa guerra. Porem, assegurem-se de buscar efetivamente as almas dos homens, todos vocês. Vocês que são esposas, sejam movidas especialmente a realizar essa sagrada obra. Lembrem-se da mulher de Pilatos, e pensam nela no momento que entregam afetuosamente a advertência a seu esposo, e vão e façam o mesmo. Nunca deixem de dar a um esposo ímpio a palavra que poderia convertê-lo do erro de seus caminhos. E vocês, amados filhos, vocês irmãs, vocês que são do tipo mais gentil, não duvidem, em suas própria maneira tranquila, em serem os arautos de Jesus no lugar que lhes houver correspondido.

Enquanto a todos nós, estejamos atentos para aproveitar casa ocasião para reprimir o pecado e promover a santidade. Devemos advertir os ímpios imediatamente – pois o homem também a quem somos enviados não cometeu ainda o ato fatal. Precisamos nos colocar na fresta enquanto ainda haja espaço para o arrependimento. Pilatos está agora mesmo sentado no tribunal. O tempo é precioso. Rápido! Rápido! Antes que cometa o feito de sangue! Enviem-lhe o mensageiro! Detenham-lhe antes que o ato seja consumado – ainda que ele se queixe por sua interferência! Digam a ele: “Não entres na questão desse justo, porque num sonho muito sofri por causa dele, e lhe rogo que não faças nada contra ele.”

Esse é nosso segundo ponto. Que Deus o abençoe – ainda que eu não possa pregar sobre ele como eu quisera, o Espírito Santo pode infundir-lhe poder.

III. Em terceiro lugar, temos agora a lamentável tarefa de observar O FREQUENTE FRACASSO MESMO DOS MELHORES MEIOS. Aventuro-me a dizer que, humanamente falando, o melhor instrumento para tocar a consciência de Pilatos era que sua mulher fosse conduzida a censurar-lhe. Ele somente escutaria a alguns quantos aqui e ali, porem, a ela sim escutaria com certeza – e, no entanto, mesmo a advertência de Prócula foi em vão. Qual foi a razão?

Primeiro, o interesse próprio estava envolvido no assunto, e esse é um fator poderoso. Pilatos temia perder seu cargo de governador. Os judeus se irariam se não obedecia suas cruéis exigências – poderiam se queixar com Tibério e perderia sua lucrativa posição.

Ai, coisas semelhantes a essas estão mantendo cativos a alguns de vocês nesse momento. Não podem se permitir serem sinceros ou retos, pois isso custaria muito. Conhecem a vontade do Senhor – vocês conhecem o que é reto – porem, renunciam a Cristo fazendo de desentendidos dele, e ao perseverarem nos caminhos do pecado para ganhar seu lucro. Temem que ao serem verdadeiros cristãos, implicar-lhes-ia a perda da boa vontade de um amigo, ou o patrocínio de um ímpio, ou a aprovação de um influente mundano, e isso vocês não podem tolerar. Contam o custo, e calculam que é demasiadamente alto. Resolvem ganhar ao mundo, ainda que percam suas almas! O que passa então? Irão ricos para o inferno! Esse é um triste resultado! Acaso enxergam algo desejável em um sucesso tal? Oh, que considerem seus caminhos e escutem a voz da sabedoria!

A seguinte razão que explica o porquê que a petição de sua mulher foi ineficaz foi o fato de que Pilatos era um covarde. Ele era um homem com legiões que o respaldavam, mas, no entanto, estava temente de uma turba judia, temeroso de libertar um pobre prisioneiro que ele sabia ser inocente – temeroso porque sabia que sua conduta não toleraria uma inspeção! Pilatos era, moralmente, um covarde! Multidões de pessoas vão ao inferno por que não tem o valor de lutar para abrir caminho para o céu. “Mas, quanto aos tímidos, e aos incrédulos … a sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre; o que é a segunda morte.” (Apocalipse 21:8) Assim diz a palavra de Deus. Elas têm medo de trombar com a risada do néscio, e assim se apressam ao menosprezo eterno. Não poderiam tolerar serem arrancados de seus antigos companheiros, e provocar comentários e o sarcasmo dos ímpios ingênuos, e assim conservam seus companheiros, e perecem com eles. Não possuem a firmeza de dizer “Não,” e nadar contra a corrente – são criaturas tão covardes que preferem perderem-se eternamente antes que enfrentar um pequeno escárnio.

No entanto, ainda que houvesse covardia em Pilatos, havia também presunção. Aquele que tinha medo do homem e tinha medo de fazer o que era correto, atrevia-se em incorrer na culpa de derramar sangue inocente. Oh, a covardia de Pilatos de tomar água e lavar as mãos, como se pudesse eliminar o sangue com água – e logo dizer: “Estou inocente do sangue deste justo” – o que constituía uma mentira – “Considerai isso.” Mediante essas últimas palavras colocou culpa de sangue sobre si, pois entregou seu prisioneiro às crueldades dos judeus, os quais não teriam tipo possibilidade de colocar suas mãos sobre Ele, a menos que Pilatos houvesse permitido.

Oh, que atrevimento de Pilatos cometer o assassinato aos olhos de Deus e negá-lo! Existe uma estranha mescla de covardia e valor em torno de muitos homens – têm medo de um homem, mas não temem ao Deus eterno que pode destruir a alma e o corpo no inferno. Essa é a causa de que os homens não são salvos, ainda mesmo quando os melhores meios sejam utilizados, porque são presunçosos, e se atrevem a desafiar ao Senhor.

Ainda mais disso, Pilatos era de duplo ânimo: tinha um coração e outro coração. Tinha um coração que buscava o que era reto, pois intentou soltar a Jesus – mas tinha outro coração que perseguia as ganâncias, pois não correria o risco de perder seu posto incorrendo no desfavor dos judeus. Contamos com muitas pessoas a nosso redor que são de duplo ânimo. Os tais estão presentes aqui essa manhã – mas onde estarão à noite? Vocês serão tocados pelo sermão de hoje! Como serão afetados amanhã por uma impudica conversa ou uma leviana canção? Muitos homens correm em duas direções – pareceriam ser sinceros quanto para com suas almas, mas estão muito mais ávidos da ganância ou do prazer. É estranha a perversidade do homem, que chega ao ponto de se dividir em dois.

Temos ouvido histórias de tiranos que atam homens a cavalos selvagens, e que esses os despedaçam, arrastando-lhes – porem existe pessoas fazem isso consigo mesmas. Possuem demasiada consciência para não descuidar do domingo, e para não deixar de ir à casa de oração – demasiada consciência para não chegar a ser completamente irreligiosas, ou para não ser honestamente infiéis – e ao mesmo tempo, não possuem a suficiente consciência para não serem hipócritas. Permitem que o “não me atrevo” seja o servente do “quisera eu.” Quiseram atuar justamente, mas isso seria muito custoso. Não se atrevem a correr riscos, entretanto, correm o terrível risco de serem deixadas fora para sempre da presença de Deus para irem ao lugar onde a esperança jamais pode alcançar.

Oh, que minhas palavras fossem disparadas como que por um canhão antigo! Oh, que lançassem uma bala contra a indecisão! Oh, que eu pudesse falar como o próprio estrondo de Deus, que faz as corças parirem e quebra as penhas: de igual maneira quisera eu advertir os homens contra esses desesperados males que frustram os esforços da misericórdia, de tal forma que, mesmo quando a própria mulher do homem, com o amor mais terno, lhe pede que escape da ira vindoura, ele ainda escolhe sua própria destruição.

IV. Por último, temos um ponto que é anda mais terrível: A ESMAGADORA CONDENAÇÃO DAQUELES QUE TRANSGRIDEM ASSIM. Pilatos era culpável mais além de toda escusa. Ele, deliberadamente e por sua própria e espontânea vontade, condenou ao justo Filho de Deus, e sabendo, tanto por seu exame, como por sua esposa, que Ele era um “justo”.

Observem que a mensagem que Pilatos recebeu era claríssima. Foi sugerida por um sonho – mas não há nada delirante nele. Contêm toda a clareza que pode ser expressa em palavras: “Não entres na questão desse justo, porque num sonho muito sofri por causa dele.” Pilatos condenou ao Senhor com seus olhos abertos, e essa é uma terrível maneira de pecar.

Oh, meus queridos amigos, estou dirigindo-me a alguns aqui que tem o propósito de fazer algo muito pecaminoso, mas ultimamente receberam uma advertência de Deus? Quisera eu agregar uma admoestação a mais. Eu lhes rogo pelo Deus bendito, e pelo sangrante Salvador que, como da forma que se amam a si mesmos, e como amam a sua companheira pela que lhes veio a advertência, que parem e detenham sua mão! Não façam essa abominável coisa! Vocês saberão. A advertência não é feita de alguma maneira misteriosa e oculta – mas antes, chega a vocês de maneira muito direta e em términos inconfundíveis. Deus enviou-lhes à consciência, e tem iluminado essa consciência, de tal maneira que fala convosco em um português bem claro. O sermão desse dia os intercepta na estrada do pecado, coloca uma pistola em seus ouvidos, e lhes exige “a bolsa ou a vida.” Se vocês se mexem um centímetro, seria por conta e risco de suas próprias almas. Estão escutando-me? Haverão de considerar essa demanda repreensiva enviada do céu? Oh, que ficassem quietos um instante e ouvissem o que Deus lhes fala enquanto pede que se entreguem a Cristo hoje.

Poderia ser agora ou nunca enquanto a vocês, como sucedeu com Pilatos naquele dia. Para Pilatos, o mal que estava a ponto de cometer foi descrito plenamente, portanto, caso seguisse adiante, sua presunção seria muito grande. Sua esposa não tinha dito: “Não entres na questão desse homem,” mas sim “ desse justo,” e essa palavra ressoou em seus ouvidos, e repetiu-se uma e outra vez até que ele mesmo também a repetiu. Leiam o versículo vinte e quatro. Quando estava lavando suas perversas mãos, disse: “Estou inocente do sangue deste justo,” o próprio nome que sua mulher tinha dado a nosso Senhor. As flechas cravaram-se nele! Não podia tirar elas de cima de si! Como uma besta selvagem, tinha o punhal cravado em suas costas, e ainda que se apressou ao bosque de seu pecado, estava evidentemente encravado nele; as palavras : “esse justo” lhe causaram obsessão.

Algumas vezes Deus faz que um homem veja o pecado como pecado, e lhe faz ver sua negridão – e se logo persevera no pecado, se volta duplamente culpado, e atrai sobre si uma intolerável condenação que passa a de Sodoma de outrora.

Alem disso, Pilatos estava pecando não só depois de uma clara advertência e uma advertência que destacava a escuridão do pecado, mas antes estava pecando depois de que sua consciência tinha sido tocada e comovida através de suas afeições. É algo terrível pecar contra a oração de uma mãe. Ela se coloca em seu caminho – ela estende seus braços e com lágrimas declara que obstruirá seu caminho à perdição. Acaso forçará seu passo até a ruína sobre seu corpo prostrado? Ela se ajoelha! Agarra-se a seus joelhos, e lhe roga que você não se perca. Por acaso você é tão brutal como para desprezar seu amor? Sua filhinha suplica a ti, não atenderá as lágrimas dela? Ai, lhe pertencia, mas a morte a arrebatou, e antes de partir suplicou a você que a seguisse ao céu, e cantou seu pequeno hino:

“Sim, nos reuniremos no rio.”

Será que lançaras de lado a seu bebê como se fosse outro Herodes que quer assassinar aos inocentes, e tudo com o objetivo de que possas condenar a ti mesmo para sempre e ser seu próprio destruidor? É duro para eu lhe falar dessa maneira. Se alguns de vocês se dão por relacionados, será duro para vocês ouvirem isso – em verdade eu espero que tão duro que ao final digam: “irei ceder ao amor que me assedia com rogos tão ternos.”

Não seria um resto de pura imaginação se concebera que no último grande dia, quando Jesus se sente no tribunal, e Pilatos esteja ali para ser julgado pelas ações feitas no corpo, que sua esposa seja uma testemunha disposta contra ele para condená-lo. Eu posso imaginar que no último grande dia haverão muitas cenas parecidas, nas que aqueles que nos amaram mais, produzirão as moas válidas evidências contra nós, se ainda estamos em nossos pecados.

Eu sei como me afetou sendo um adolescente, quando minha mãe, depois de expor diante de seus filhos o caminho de salvação, nos disse: “se rejeitarem a Cristo e perecerem, não poderia eu interceder em favor de vocês e dizer que eram ignorantes. Não, mas sim que haverei de dizer Amém a sua condenação” Eu não podia suportar isso! Haveria de minha mãe dizer “amém” para minha condenação? E, no entanto, você que é a esposa de Pilatos, que outra coisa poderia fazer? Quando todos terão que dizer a verdade, que você poderia dizer senão que seu esposo foi terna e sinceramente advertido por ti e apesar disso, entregou o Salvador a seus inimigos?

Oh, leitores ímpios, minha alma se comove por vocês; “Convertei-vos, convertei-vos… Por que razões morrerão?” Por que haveriam de pecar contra o Salvador? Que Deus lhes conceda que não rechacem sua própria salvação, mas sim que se voltem a Cristo e encontre redenção eterna nele. “Todo aquele que nele crê… têm a vida eterna.”

FONTE:

Traduzido do espanhol El Sueño de La Mujer de Pilato, tradução de Allan Román, com autorização e permissão deste para o português para o Projeto Spurgeon , de http://www.spurgeon.com.mx/

Todo direito de tradução protegido por lei internacional de domínio público

Sermão nº 1647—Volume 28 do Metropolitan Tabernacle Pulpit

THE DREAM OF PILATE WIFE

Tradução: Armando Marcos Pinto

[1] A mulher de Pilatos: segundo a tradição, chamava-se Cláudia Prócula; teria sido parenta do imperador Tibério; é citada em homilias de Origenes, no século II, é esse nome é citado nos Atos de Pilatos, documento anexo ao apócrifo Evangelho de Nicodemos, datado de IV D.C

[2] Pretório (em latim, Praetorium ), era originalmente o nome da tenda ou residência do comandante nas fortificações da Roma antiga, uma castra ou castellum. Posteriormente, praetorium passou a designar a residência do procurador romano (governador) de uma província romana, e logo, a a sala da audiência para administração da justiça. No caso, o Pretório citado era situado na Fortaleza Antônia, construção da época de Herodes o Grande, que era situada ao noroeste do Templo, usada por Pilatos como residência em Jerusalém

[3] Lucas 13:1

[4] Possível referência ao levante ocorrido na Samaria, quando uma multidão, seguindo a um profeta messiânico, se reuniram armados no monte Gezarim, e Pilatos, temendo rebelião, massacrou violentamente a turba. Spurgeon a cita como antes da crucificação de Jesus, mas provavelmente ocorreu depois, em 35.Dc

[5] Segundo Flávio Josefo, Pilatos mandou construir um aqueduto para levar água das imediações de Belém até Jerusalém. Porém, devido ao alto custo do projeto, resolveu então tomar o dinheiro do tesouro do Templo chamado Korbonan. Este fato deu origem a uma grande rebelião e, para reprimi-la, o governador usou de um cruel estratagema. Mandou que vários de seus soldados fossem à Jerusalém, disfarçados como peregrinos, sem espadas, munidos apenas de um pequeno bastão escondido por entre a roupa. E, quando já se encontravam misturados no meio do povo, todos a uma só vez começaram a golpear os revoltosos. Muitos daqueles que conseguiram escapar das mãos dos soldados, acabaram por morrer pisoteados pela multidão que fugia assustada.

[6] Segundo Josefo, “quando esse tumulto (Na Samaria) foi acalmado, o senado samaritano enviou uma embaixada a Vitélio, o qual tinha sido cônsul, e que era agora o governador da Síria, e acusou Pilatos de assassinato; pois eles não foram a Tirathaba a fim de se revoltar contra os romanos, mas para escapar da violência de Pilatos. Então, Vitélio … ordenou que Pilatos fosse a Roma, para responder perante o imperador pela acusação dos judeus. Assim, Pilatos, quando tinha completado dez anos na Judéia, apressou-se para Roma, e isso em obediência às ordens de Vitélio, que ele não ousou contradizer; mas antes que pudesse chegar a Roma, Tibério havia morrido.” (Antiquities of the Jews, livro 18, capítulo 4, artigo 2, em The Works of Josephus, Complete and Unabridged, p. 482) Com a ascensão de Calígula como imperador, Pilatos foi acusado, destituído de seu posto e exilado para Gália

[7] Como realmente ocorreu conforme citação anterior

[8] Atos 4:28

[9]Entre esses, Santo Inácio e Beda, o Venerável, (fonte: Padre. Divino Antônio Lopes FP, em http://www.filhosdapaixao.org.br/escritos/comentarios/paixao/paixao_cristo_022.htm, site não recomendado pelo Projeto Spurgeon)

[10] Spurgeon pode estar se referido a gravura “O sonho da esposa de Pilatos” (em francês, Le Rêve de la femme de Pilate), de Paul Gustave Doré (Estrasburgo, 6 de janeiro de 1832 — Paris, 23 de janeiro de 1883) que foi pintor, desenhista e o mais produtivo e bem-sucedido ilustrador francês de livros de meados do século XIX. Ilustro várias cenas Bíblicas e centenas de outras obras, como as de Dante, Edgar Allan Poe e Miguel de Cervantes; em 1869, ilustrou o livro Londres Um peregrinação, e foi um sucesso literário (fonte: Wikipédia)

[11] Spurgeon usa a expressão: wandering Zingari que se traduz como errantes zíngaros, o seja, ciganos, particularmente da Europa Central (Nota do tradutor ao espanhol Allan Román)

[12] Da Fortaleza Antônio, diante do Petrôrio, provavelmente (N .T)

[13] Henry Melvill (1798-1871) foi um sacerdote da Igreja da Inglaterra, e diretor do East India Company College 1844-1858. Posteriormente, atuou como cônego e pregador da Catedral de S.Paulo, Londres.

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