Lição 03 – Instruções a Respeito da Oração (1 Tm 2.1-8) - Jovens.

Depois da saudação pessoal e da recomendação feita a Timóteo quanto aos falsos mestres, Paulo principia o aspecto prático da sua carta falando de algo que deve ser essencial na vida de todo cristão e de toda a igreja: a oração (1 Tm 2.1). O jovem pastor deveria zelar pela oração na sua vida e ensinar a igreja local e os seus líderes a fazerem o mesmo, o que incluía o culto público (2.8). A expressão “antes de tudo” revela o caráter prioritário da oração. As múltiplas formas de oração (“deprecações, orações, intercessões e ações de graças” — 2.1) indicam, por um lado, como a prática deveria estar inserida no viver individual e coletivo dos efésios; e, por outro, como deveriam ser amplas.

Acerca das formas de oração em si, podemos dizer em poucas palavras que deprecação é uma súplica por uma necessidade específica. Oração é um termo genérico e pode expressar desde petições feitas em favor de si mesmo, ou por necessidades gerais, sendo, portanto, toda e qualquer expressão verbal dirigida ao Senhor Deus. Interceder é orar em favor de outra pessoa. Ação de graças é uma expressão de gratidão.

Timóteo e toda a igreja deveriam fazer todo tipo de oração: por eles mesmos, por todos os homens e, como uma nota especial no texto, por todas as autoridades (2.2). Orar é, antes de tudo, uma recomendação que se aplica a todos nós em relação a toda e qualquer área da vida. Há nisso um aspecto temporal e prático.

Orar primeiro e orar antes de tudo significa, por exemplo, que não devemos começar o dia sem orar; que não devemos iniciar uma viagem sem orar; que precisamos orar e buscar a vontade de Deus para todas as decisões de nossa vida (Tg 4.13-16). Orar é, antes de tudo, reconhecer a soberania de Deus e dar a Ele o controle de nosso viver. Devemos orar sem cessar (1 Ts 5.17; Cl 4.2).

Oração e Relacionamento

A oração sempre fez parte do cotidiano de todos os que buscaram ter um relacionamento com Deus, o Senhor. Essa comunhão pessoal diária foi estabelecida pelo próprio Criador, que vinha ao jardim do Éden todos os dias para falar com Adão e Eva (Gn 3.8). Abel tinha o costume de oferecer sacrifícios ao Senhor (Gn 4.4). Nos dias de Sete, o terceiro filho do primeiro casal, “Sob o incentivo de [seu filho] Enos, tiveram começo as orações e o culto público ao Senhor”.37 A comunhão de Enoque com Deus foi tão intensa que ele foi trasladado, ou seja, levado diretamente ao Céu sem provar a morte (Gn 5.24). Outros heróis da fé, como Abraão, Isaque e Jacó, levantavam altares ao Senhor e lutavam em oração (Gn 18.17-33; 24.63; 32.22-30; 33.18-20).

Jesus passava longas horas em oração — às vezes, noites inteiras (Mc 1.35; Lc 5.16; 6.12; Mt 14.23; 26.36-40) — e deixou-nos uma expressa recomendação sobre a necessidade imperativa de orar (Mt 26.41). Os crentes primitivos eram perseverantes na oração (At 2.42; 3.1; 4.24-31; 12.5). Paulo escreveu seguidas vezes sobre a essencialidade da oração para a vida cristã: “Orai sem cessar” (1 Ts 5.17); “perseverai na oração” (Rm 12.12); “orando em todo o tempo” (Ef 6.18). Ele próprio vivia lutando em oração por si mesmo e em favor de todos os santos (Ef 1.16; 3.14-19; Cl 1.9; Fp 1.3,4).

A oração é simplesmente vital para um viver espiritual vitorioso. Nossa comunicação verbal com Deus todos os dias, especialmente assim que acordamos, restaura nossas forças (Sl 5.3; 88.13; 119.147). Nossa alma é fortalecida. Recebemos ânimo para encarar os desafios diários. Através da oração, podemos guardar o contacto com nosso Salvador, como diz o hino sacro 77 da Harpa Cristã. Isso nos permite “cantar nas lutas e na dor” e “ser alegre, qual bom lutador”. Quando estamos vivendo em oração, “a nuvem do mal não [nos cobre]”, e podemos, “neste mundo, todo o mal vencer”.

Oração e Dependência de Deus

Quando nos lembramos de orar em primeiro lugar, é porque nos consideramos dependentes de Deus acima de tudo; e quanto mais nos lançamos a fazer as coisas sem antes orarmos ao Senhor, mais estamos demonstrando nossa ausência de fé, um sinal trágico dos últimos dias, do qual Jesus alertou-nos em várias ocasiões, como quando contou a parábola do juíz iníquo (Lc 18.1-8).

Na apresentação do clássico Heróis da Fé, no qual se relata a história de “vinte homens extraordinários que incendiaram o mundo”, Orlando Boyer testemunha que, após ler cuidadosamente as biografias dos maiores vultos da Igreja de Cristo, se conclui que “nunca se pode atribuir êxito de qualquer deles unicamente a seus próprios talentos e força de vontade”. Boyer cita a experiência específica que ele teve durante a pesquisa sobre a vida de Adoniran Judson:

Quando estávamos quase a concluir que houvesse alguns verdadeiros heróis da Igreja, realmente grandes em si mesmos, encontramos outra biografia dele, escrita por um de seus filhos, Eduardo Judson. Nessa preciosa obra descobre-se que esse talentoso missionário passava diariamente horas a fio, de noite e de madrugada, em íntima comunhão com Deus, em oração.

Qual foi, então, o mistério do incrível êxito dos heróis da Igreja de Cristo? Esse mistério foi a profunda comunhão com Deus que esses homens observaram.38

O Perigo do Secularismo

Tem-se tornado recorrente a refutação à prática da oração diante de inúmeras questões da vida moderna, incluindo as de ordem política, como assistimos em nosso país recentemente. Quantas vezes a exortação à oração tem sido duramente rechaçada por muitos cristãos, que insistem que a saída é “agir”, como se oração tivesse o sentido de inação ou inatividade. Isso tem a ver com o secularismo, a “doutrina que ignora os princípios espirituais na condução dos negócios humanos”.39 Conforme assinala o pastor Claudionor Corrêa de Andrade: “O secularismo, ou materialismo, tem o homem, e somente o homem, como a medida de todas as coisas”.40 Isso explica o excesso de confiança em estruturas humanas, como a política secular.

Muito longe de representar inatividade ou omissão, orar é uma das ações mais difíceis, porém mais eficazes — na verdade, a mais eficaz. Por isso, Paulo adverte Timóteo a que, “antes de tudo”, ele e a igreja efésia deveriam dedicar-se a todo tipo de oração: “deprecações, orações, intercessões e ações de graças por todos os homens, pelos reis e por todos os que estão em eminência, para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade” (1 Tm 2.1,2). Paulo não ensinou que a prioridade fosse qualquer outra atitude, nem mesmo sair às ruas e protestar.

É fundamental, portanto, que busquemos nas Escrituras a orientação correta para nossas atitudes individuais como cristãos e nossa atitude coletiva como igreja local e, por extensão, em todo o plano nacional (isso para ficarmos limitados ao nosso país). Qual o papel da igreja brasileira ante às questões públicas que nos inquietam? Esse é um assunto bastante controverso e complexo. Uma coisa sabemos de antemão: antes de qualquer outra atitude, devemos orar. Essa é a lição básica do texto de 1 Timóteo 2.1-8.

O Contexto Político de 1 Timóteo

Quando Paulo escreveu 1 Timóteo, no ano 65 d.C., o Império Romano estava em agitação por causa dos atos insanos do seu jovem imperador, Nero Cláudio César Druso Germânico, que começou a governar Roma em 54 d.C. com apenas 17 anos de idade e ficou no poder até a sua morte, em 68. Orlando Boyer resume a sua história assim:

O nome Nero não aparece nas Escrituras, mas foi a esse César que o apóstolo Paulo apelou, At 25.11. Era um monstro de crueldade. Envenenou a Britânico; mandou matar à espada a sua própria mãe, Agripina; sua mulher, Otávia, suicidou-se, abrindo as veias por ordem do marido; ele próprio matou com um pontapé sua segunda mulher, Popéia. Atribui-se-lhe o incêndio de Roma, a que assistiu declamando versos que compusera. Fez morrer nos suplícios milhares de cristãos, a quem acusou desse incêndio. Por fim o Senado declarou-o inimigo público. Vendo-se perdido, suicidou- se.41

Apesar dessa dura realidade política, não encontramos Paulo fazendo qualquer referência no sentido de instigar Timóteo ou os crentes de Éfeso a envolverem-se em projetos de dominação humana. John Stott qualifica a exortação de Paulo como uma “instrução notável” e explica:

[...] naquela época, não existia nenhum governante cristão em nenhum lugar do mundo. O imperador que reinava era Nero, cuja vaidade, crueldade e hostilidade à fé cristã eram conhecidas por todos. A perseguição à igreja, a princípio intermitente, logo se tornaria sistemática, e os cristãos estavam compreensivelmente apreensivos. No entanto, recorreram à oração.42

Na verdade, a vida de Paulo desde a sua conversão havia sido posta em prova diante de perseguições dos judeus e de várias prisões pelas autoridades romanas, como durante os cinco anos que passou encarcerado, desde Jerusalém, passando por Cesareia, até os dois anos em prisão domiciliar em Roma (58–63 d.C.). Assim, todo o seu ministério foi marcado por conflitos públicos. Nem por isso vemos Paulo entregue ao ativismo político. A sua recomendação a Timóteo — para que a igreja tivesse uma vida quieta e sossegada — era, antes de tudo, a prática intensa da oração.

Para alguns dos críticos de Paulo, ele seria um conformista que deveria ter-se levantado contra as injustiças do seu tempo. Contudo, o mais importante é considerar a visão paulina da natureza espiritual do Reino de Deus, herdada do próprio Cristo, que declarou abertamente que o seu Reino não era deste mundo: “[...] se o meu Reino fosse deste mundo, lutariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus [...].” (Jo 18.36)

A maneira mais eficaz de buscar o Reino de Deus e a sua justiça continua sendo exatamente por meio da oração. Isso extraímos da própria oração modelo, ensinada por Jesus: “Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino. Seja feita a tua vontade, tanto na terra como no céu” (Mt 6.9,10).

Não ao Domínio, Sim ao Dever

A preocupação da igreja não deve ser com o domínio das estruturas políticas, mesmo que a alegação seja garantir a sua vida em piedade, facilitar ou proporcionar a expansão do evangelho. Eventual controle político não assegura isso a ninguém! O poder espiritual, acima de tudo, deve ser o alvo da igreja. A participação política da igreja pode ocorrer de forma orgânica, ou seja, como um processo natural, por intermédio dos seus membros que, tendo vocação para a vida pública, alcançam posições nas estruturas de governo. Isso pode acontecer em cargos eletivos ou não. O problema é quando isso é confundido com a participação da igreja como instituição, ou com a confusão do sagrado com o secular, isto é, o uso dos espaços do culto para a promoção de projetos de poder pessoais ou de grupos.

A exposição da boa doutrina deve ter em si mesma o poder de libertar do engano e conduzir-nos a atitudes sábias, diante de Deus e dos homens, incluindo as escolhas políticas. Já o fascínio pelo poder pode levar-nos a negligenciar o mais importante, que é a oração pelas autoridades. Quando Paulo recomenda ao jovem pastor Timóteo que ore e ensine a igreja a orar, é porque ele sabe que é mediante a busca da presença e ação divinas que serão debelados todos os levantes dos inimigos da obra de Deus — que podem estar entre os homens em geral (“todos os homens”, cf. 1.1) ou especificamente entre os “que estão em iminência”, dentre os quais estão “os reis” (1.2).

Orar pelos “reis” da terra — as autoridades constituídas em geral

— faz com que o Senhor dirija o seu coração dentro da sua vontade soberana, o que resulta em proporcionar uma vida quieta e sossegada para o seu povo. Provérbios 21.1 diz: “Como ribeiros de águas, assim é o coração do rei na mão do SENHOR; a tudo quanto quer o inclina”. Por isso, podemos crer que as atitudes das autoridades podem ser direcionadas diretamente por Deus, segundo o seu propósito, à medida que a igreja ora.

O propósito dos cristãos ao orar pelas autoridades deve ser obter condições favoráveis para adorar a Deus e viver de forma justa diante dos homens, dando bom testemunho. É isso que entendemos da expressão “em toda a piedade e honestidade” (1.2). Assim, temos: primeiro, a oração pelas autoridades; segundo, a ação divina guiando-as para que seja construído um ambiente favorável para o povo de Deus (“vida quieta e sossegada”); terceiro, uma vida de entrega à vontade de Deus, “em toda a piedade e honestidade”.

O desapego quanto ao domínio político é visto do começo ao fim do processo. O início é a oração, e a sua consecução é uma vida espiritual plena (“toda a piedade”), corroborada por uma vida de testemunho público que glorifique a Deus (“toda a [...] honestidade”). Esse viver glorificando a Deus pode ocorrer, inclusive, no exercício de funções públicas, ocupadas em decorrência de eleição ou concurso público, como cargos efetivos nas estruturas públicas de quaisquer níveis, instâncias ou poderes. Qualquer que seja o processo, só funciona para o cristão se for trilhado com justiça e ética.

Assim, a despeito de não ser parte de um projeto de poder institucional ou de grupo, o cristão que tem visão espiritual correta e senso de dever guiado por Deus pode desempenhar papéis relevantes em cargos executivos, no Legislativo, no Judiciário, no Ministério Público, em escolas e universidades, em hospitais, em corporações e unidades de segurança, em empresas e em muitos outros espaços públicos ou privados. Deus pode levar qualquer servo seu a ocupar posições estratégicas, mas não por um desejo de poder ou dominação, mas por nossa disposição de cumprir nossa missão como sal da terra e luz do mundo (Mt 5.13-16).

O Trágico Exemplo dos Judeus

O ensino de Paulo estava na contramão da conhecida e reiterada conduta de muitos judeus que, inconformados com o juízo de Deus sobre a nação desde o início dos exílios e da primeira Diáspora, ocorridos quando do cativeiro sob a Assíria, em 734 e 722 a.C. (2 Rs 15.29; 17.5,6),43 tentavam reconquistar pela força a independência política, a liberdade religiosa, os costumes e tradições e o domínio do território de Israel, como ocorreu na Revolta dos Macabeus e em tantos outros levantes dos judeus.

O historiador judeu Flávio Josefo detecta bem o nascimento desse sentimento de revolta dos judeus. Ele conta a história do sacerdote Matatias, que expressava o seu inconformismo aos seus filhos e incitava-os a agir pela força em defesa das leis e da religião judaica:

Esse virtuoso e nobre judeu queixava-se frequentemente a seus filhos do estado deplorável em que a nação se encontrava: da ruína de Jerusalém, da desolação do Templo e de tantos outros males que a afligiam. E acrescentava que lhes seria melhor morrer pela defesa das leis e da religião de seus pais que viver sem honra em meio a tantos sofrimentos.44

Matatias e os seus filhos lideraram uma revolta armada quando receberam enviados do rei Antíoco IV Epifânio (215–162 a.C.), da dinastia selêucida,45 que chegaram à aldeia onde moravam para obrigar os judeus a executar as suas ordens, como narra Josefo:

[...] dirigiram-se primeiramente a Matatias, por ser o principal, a fim de forçá- lo a oferecer os abomináveis sacrifícios, pois não duvidavam que os outros lhes seguiriam o exemplo. Disseram-lhe que o rei demonstraria a todos, por meio de recompensas, a gratidão de que lhes seria devedor. Ele respondeu que, mesmo que todas as outras nações obedecessem, pelo medo, a tão injuriosa determinação, nem ele nem seus filhos abandonariam jamais a religião de seus antepassados.

Como um judeu se encaminhasse para sacrificar segundo a intenção do rei, Matatias e os seus filhos, inflamados pelo justo zelo, lançaram-se sobre ele de espada em punho e não somente o mataram como também a esse oficial, de nome Apeles, e aos soldados que ele tinha levado para obrigar o povo a cometer tão grande impiedade.46

Josefo narra a continuidade dessa revolta, assim como de tantas outras perpetradas pelos judeus, o que culminaria com a destruição de Jerusalém no ano 70 d.C. e a segunda grande Diáspora dos judeus por toda a terra. Não foi diferente nos dias de Jesus. Os judeus, incluindo os discípulos, esperavam que Cristo fosse trazer- lhes libertação do jugo romano, implantando o seu governo político em Israel (Mt 16.21,22; Jo 6.15; At 1.6). Pedro lançou mão da sua espada no afã de defender Jesus (Jo 18.10-12).

Como sabemos, a restauração política de Israel ocorreu somente em 1948, e a sua restauração espiritual só acontecerá com o retorno de Jesus à terra, ao fim da Grande Tribulação, quando o Espírito Santo for derramado sobre toda a nação. Como afirma Garret, “O verdadeiro fim do exílio será quando Israel voltar-se para Jesus, o seu Messias, chorando por aquele a quem eles traspassaram (Zc 12.6-14)”.47

A lição que tiramos disso é que o povo de Deus, seja Israel, seja a Igreja, precisa entender que a sua vitória está nas mãos do Senhor e que a solução é sempre o caminho da humilhação e da busca da intervenção divina: “Se o povo meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face, e se converter dos seus maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra” (2 Cr 7.14).

Orar pelas autoridades, portanto, deve continuar sendo a prioridade da Igreja, a fim de que haja a intervenção divina necessária a assegurar-nos uma vida quieta e sossegada; um ambiente de quietude e sossego, no qual possamos estar intensamente dedicados a uma vida de piedade (comunhão e adoração a Deus) e honestidade (a prática da justiça diante dos homens). Claro, isso não nos isenta de cumprir nosso papel como cidadãos dessa terra, mas orienta-nos no propósito maior de toda a nossa existência.

A Salvação de todos os Homens

O propósito da oração da igreja por todos os homens e pelas autoridades constituídas não era, jamais, alcançar um cômodo bem- estar do cristão. Na sequência da sua exortação quanto à prática da oração, Paulo escreve: “Porque isto é bom e agradável diante de Deus, nosso Salvador, que quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade” (1 Tm 2.3,4).

O que entendemos, portanto, é que a oração leva o Senhor a trabalhar em favor da Igreja de forma geral, para que haja um ambiente favorável não apenas para o viver tranquilo dos cristãos, mas também para a fluente prática da missão primordial da Igreja, que é a pregação do evangelho. Assim, a vida de adoração dos crentes e a proclamação do evangelho, corroborada pelo testemunho cristão, contribuem para o crescimento da Igreja, com a salvação de almas. Isso é “bom e agradável diante de Deus, nosso Salvador”, cuja vontade é que “todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade”.

A finalidade de nossa oração pelas autoridades não pode, portanto, ser egoísta, mas altruísta. Nesse sentido, não é demais refletir se determinados quadros desfavoráveis vividos atualmente pelos cristãos não são reflexos de comodismo e de sentimento de dominação, com o consequente abandono de nossa verdadeira missão, o querigma, o anúncio do Evangelho.

Se Deus quer a salvação de todos os homens, isso inclui as figuras públicas que nos sejam politicamente desafetas. Pode um cristão, por motivação política, desejar a morte de quem quer que seja? É razoável que coloquemos nossas preferências partidárias ou ideológicas acima da vontade de Deus, que é a salvação de todos os homens? Há, porventura, algum limite ou exceção para esse propósito divino? A resposta, certamente, é não!

Como assinala Charles Swindoll, “temos de orar para o bem e a felicidade de nossos líderes — mesmo quando reprovamos o caráter deles e nos opomos à sua política”. Diz mais: “Embora a questão final da salvação esteja nas mãos de Deus, ele ainda assim nos chama a orar pela salvação de todas as pessoas, incluindo os que nos governam e, em especial, nossos inimigos”.48

Não ao Universalismo

Deus tem uma vontade perfeita, que é a salvação de todos os homens. A salvação, contudo, não é imposta a ninguém; antes, é oferecida mediante a graça de Deus em Cristo Jesus. Assim, a expressão paulina de que Deus “quer que todos os homens se salvem” (2.4) não importa em abono algum ao universalismo, que prega que todos os homens serão salvos no fim de tudo.

Nas palavras de Justo L. González, o universalismo é

A doutrina segundo a qual posteriormente todos serão salvos, não há condenação final, o inferno é somente um estado passageiro cuja função é purificar as almas antes que possam estar na presença de Deus. [...] Nos Estados Unidos e nas terras aonde chegaram os missionários norte- americanos, o universalismo tem relações históricas com as formas mais racionalistas do unitarismo.49

Normam Geisler (1932–2019) define e apresenta uma síntese histórica do universalismo:

O Universalismo, derivado da palavra apokatastasis (isto é, “restauração,” em At 3.21), é a ideia de que, ao final, todas as pessoas serão salvas. Ele foi inicialmente proposto por Orígenes (c. 185–c. 254), um Pai Eclesiástico parcialmente não-ortodoxo. Um dos teólogos mais famosos da era moderna a abraçar o Universalismo foi o pensador neo-ortodoxo Karl Barth (1886- 1968); o notável filósofo John Hick (nascido em 1922) também é um proponente desta posição [...]. Muitos teólogos liberais, um grande número de seitas, e várias religiões extravagantes defendem algum tipo de Universalismo ou de Aniquilacionismo. A exemplo dos universalistas, os aniquilacionistas acreditam que ninguém sofrerá o castigo eterno, já que todos os que não crerem serão aniquilados. Até mesmo alguns notáveis mestres como, por exemplo, Clark Pinnock (nascido em 1920), John Wenham (nascido em 1913), e John Stott (nascido em 1925) abraçaram certas formas de Aniquilacionismo. O Universalismo, entretanto, é herético, tendo sido condenado no Quinto Concílio Ecumênico de Constantinopla no ano de 553 d.C.50

O universalismo não tem respaldo bíblico algum. A Bíblia apresenta repetidas vezes os dois destinos distintos que serão dados aos salvos e aos perdidos (Mt 7.13,14; Hb 9.27; Ap 21.7,8). A salvação é para quem crê e permanece fiel por toda a vida, e não para os que não creem, nem para os que creem, mas não perseveram até o fim (Mc 16.16; Mt 24.13; Ap 2.10). Isso, todavia, não anula a vontade de Deus, que é a salvação de todos os homens, incluindo as autoridades hostis (1 Tm 2.4). Orar coloca-nos em sintonia com essa vontade e impede que nosso coração esteja fechado para nossa missão, que é a pregação do evangelho a toda criatura (Mc 16.15).

Sobre o Autor

Nome do Autor Silas Queiroz é pastor na Assembleia de Deus em Ji-Paraná (RO), e procurador-geral no mesmo município. Formado em Direito pela Universidade Luterana do Brasil e bacharel em Teologia pela Faculdade de Teologia Logos (FAETEL). Casado há 30 anos com Jocineide Machado de Almeida Queiróz e pai de Silas Junior, Gabriel e Ana Carolina.


33 Bíblia de Estudo Pentecostal . Rio de Janeiro: CPAD, 2009, p. 39.
34 BOYER, Orlando. Heróis da Fé . 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2014, p. iv.
35 ANDRADE, Claudionor Corrêa. Dicionário Teológico.8.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1999, p. 261.
36 Idem.
37 BOYER, Orlando. Pequena Enciclopédia Bíblica.36ª impressão. Rio de Janeiro: CPAD, 2016, p. 379.
38 STOTT, John. Lendo Timóteo e Tito com John Stott.1.ed. Viçosa: Ultimato, 2019, p. 28.
39 Duane A. Garret explica que “exílio” e “Diáspora” são conceitos relacionados, porém distintos. Conforme Garret, “Exílio é a remoção forçada da maior parte da população, em especial as pessoas mais habilidosas e de classe superior, de sua pátria para outro país”, enquanto “Diáspora é a dispersão dos judeus em todo o mundo”, processo que “começou no tempo da destruição de Samaria e continuou como resultado do exílio babilônico”. Quanto aos exílios, Garret observa que “O primeiro foi o exílio dos israelitas do reino do norte (Samaria), efetuado pelos assírios”. Esse exílio “ocorreu em duas fases, a primeira em 734 a.C. sob Tiglate- Pileser III (2 Rs 15.29) e, então, culminantemente, em 722 sob Salmaneser e seu sucessor, Sargão II, quando a cidade de Samaria foi destruída e o reino do norte deixou de existir (2 Rs 17.5-6)”. (In: Bíblia de Estudo Holman.1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2018, p. 611).
40 JOSEFO, Flávio. História dos Hebreus.1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2015, p. 563.
41 Seleuco foi um dos generais que conquistou parte do Império Grego após a morte de Alexandre (323–281 a.C.).
46 Op.cit.,p. 563,564.
47 In: Bíblia de Estudo Holman,1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2018, p. 611.
48 SWINDOLL, Charles R. Comentário Bíblico Swindoll. 1 & 2 Timóteo e Tito.1.ed. São Paulo: Hagnos, 2018, p. 49,50.
49 GONZÁLES, Justo. Breve Dicionário de Teologia.1.ed. São Paulo: Hagnos, 2009, p. 331.
50 GEISLER, Norman. Teologia Sistemática. Vol 2.4ª impressão. Rio de Janeiro, CPAD, 2017, p. 301.

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