Lição 02: A Necessidade Universal da Salvação em Cristo (Adultos)

Romanos 1,18-22 - Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda impiedade e injustiça dos homens que detêm a verdade em injustiça; porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder como a sua divindade, se entendem e claramente se veem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem Inescusáveis; porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu, dizendo-se sábios, tornaram-se loucos.

A Revelação Natural

“Porque do céu se manifesta a ira de Deus... ” (1.18a). Parece paradoxal que um texto que é conhecido como o Evangelho da Graça comece falando sobre a ira. De fato, muitos comentaristas bíblicos ficam chocados com o tom forte com que Paulo introduz essa seção de sua carta. Fica evidente que a expressão “ira de Deus”, tradução do grego orgé, carrega um peso de significado muito forte. Esse termo ocorre 36 vezes no Novo Testamento grego.1 É o mesmo vocábulo usado por João Batista para dizer que os fariseus e saduceus não escapariam da ira (orgé) vindoura (Mt 3.7). É usado também para se referir à ira (orgé) do Cordeiro em Apocalipse 6.16. Na verdade, muitos intérpretes que foram influenciados pela teologia liberal do século XIX, de cunho fortemente humanista, não conseguiam harmonizar a imagem de um Deus amoroso com a de um Deus irado. Mas a ira divina aqui é totalmente justificável à luz do capítulo 1.18-32. O pensamento do apóstolo é claro — mostrar a situação caótica, desesperadora e corrupta na qual a humanidade se encontrava e como em meio a tudo isso Deus manifestou de forma copiosa a sua graça.

"... sobre toda impiedade e injustiça dos homens que detêm a verdade em injustiça” (1.18). As palavras gregas asébeia e adikia estão bem traduzidas aqui como “impiedade” e “injustiça”. Charles Hodge, em seu comentário da Epístola aos Romanos, destaca que a primeira palavra representa a impiedade em relação a Deus, e a segunda, a injustiça praticada contra os homens.2 O argumento de Paulo aqui forma um contraste com aquilo que ele já havia falado em Romanos 1.16,17, em que a justiça de Deus se revela pelo evangelho. E por que Deus revela a sua justiça trazendo julgamento? Porque os homens escolheram tornar a verdade prisioneira do pecado. Paulo diz que eles “detêm a verdade em injustiça” (1.18).

“Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto 0 seu eterno poder como a sua divindade, se entendem e claramente se veem pelas coisas que estão criadas... ” (1.20). Paulo mostra que as obras da criação, a revelação natural de Deus, servem de parâmetro para o julgamento de Deus. Russel P. Sheed, renomado teólogo batista, destaca esse fato: “É inadmissível a desculpa humana de que entre determinados povos e nações simplesmente nunca houve qualquer oportunidade para se conhecer a mensagem salvadora. A Palavra de Deus afirma que homens ignorantes acerca da Bíblia não ficaram sem conhecimento algum de Deus (Rm 1.19). Até aos mais distantes Ele revela seus atributos, seu eterno poder e natureza divina (Rm 1.20). Ninguém poderá sustentar alguma desculpa ao chegar diante do tribunal do Rei do universo. Todos serão julgados porque os homens, voluntariamente, encobrem a verdade para praticar a injustiça (Rm 1.18). Essa ‘revelação natural’ que todos têm de Deus (isto é, a verdade encoberta) será, portanto, a base da justa condenação de todos os que não alcançaram a graça de ouvir a Palavra de Deus (‘revelação especial’). ‘Eles não têm desculpa...’ (Rm 1.21). Todavia, Deus não é injusto. Nunca condenará um homem por este não ter crido numa mensagem que não teve oportunidade de ouvir. A justiça divina será mantida. No julgamento final, a justiça divina julgará todos de acordo com a luz que Deus lhes deu: a criação e a consciência” (grifo meu).3

“...para que eles jiquem inescusáveis;porquanto, tendo conhecido a Deus, não 0 glorificaram como Deus, nem lhe deram graças... ” (1.20,21). O homem pós-queda é um homem afetado pela corrupção do pecado, embora não seja um ser espiritualmente insensível. Nem tampouco é um ser que perdeu sua capacidade de escolha. O texto deixa claro que ele podia perceber por meio da revelação natural de Deus que a ordem das coisas tem um Criador.4 Mas não fez isso. Em seu conceituado comentário sobre Romanos, o expositor Giuseppe Barbaglio observa que “o juízo divino de condenação nada mais é que a resposta ao intencional ‘não’ por parte do homem. Paulo não se limita, porém, a esse aceno. Ao contrário, desenvolve amplamente o porquê da cólera divina (vv. 19-23). Dá por sabido que os homens não só tiveram a possibilidade de conhecer o Criador, mas de fato o conheceram. Sim, porque Ele se manifestou a eles através da criação. A obra revela o seu artífice. A inteligência, partindo do mundo, chega à sua causa. A eterna força e majestade divina, de si invisíveis, tornam-se perfeitamente visíveis aos olhos da mente. No plano do conhecimento a distância é superada, o encontro acontece. Constatação positiva, sem dúvida, mas Paulo logo a transforma em acusação contra o mundo pagão. Por isso os acusados não têm desculpas ou atenuantes. Numa palavra, são culpados. ‘Porque, embora tendo conhecimento de Deus, não lhe renderam nem louvor nem ação de graças’. O conhecimento não se converteu em reconhecimento. Teoria e práxis foram violentamente dissociadas”.5 De forma análoga, o expositor bíblico Dale Moody, in loco, sublinha esse fato, quando afirma: “o pecado distorce, mas não destrói a possibilidade da percepção. A mente de fato pode tornar-se réproba (1.28), mas também pode ser renovada (12.2). A mente torna possível a percepção”.6

A oportunidade é dada a todos.

Romanos 1.23-32

E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis. Pelo que também Deus os entregou às concupiscências do seu coração, à imundícia, para desonrarem o seu corpo entre si; pois mudaram a verdade de Deus em mentira e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém! Pelo que Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza. E, semelhantemente, também os varões, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, varão com varão, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro. E, como eles se não importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convém; estando cheios de toda iniquidade, prostituição, malícia, avareza, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade; sendo murmuradores, detratores, aborrecedores de Deus, injuriadores, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes ao pai e à mãe; néscios, infiéis nos contratos, sem afeição natural, irreconciliáveis, sem misericórdia; os quais, conhecendo a justiça de Deus (que são dignos de morte os que tais coisas praticam), não somente as fazem, mas também consentem aos que as fazem.

A Lei da Semeadura e da Colheita

‘£ mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis” (1.23). O apóstolo continua sua argumentação que justifica o julgamento de Deus. Em vez de glorificar a Deus, o homem se afastou ainda mais. Deus os entregou à idolatria (v. 23); imoralidade (v. 26) e animosidade (v. 30). Um abismo chama outro abismo. C. Marvin Pate observa que “entregar” (v. 24) aqui tem o sentido de “deixar as pessoas sofrerem as consequências de conseguirem o que desejam. Em outras palavras, nos tornamos semelhantes aquilo que adoramos”.7 Ao escolher adorar a criatura em lugar do Criador, ser o centro de si mesmos em vez de terem Deus como centro de tudo, o homem mergulhou nas profundas trevas do pecado.

‘Velo que Deus os abandonou às paixões infames... ” (1.26,27). Paulo passa então a falar de comportamentos sociais que, à luz das coisas criadas, eram considerados como antinaturais. A homossexualidade, tanto masculina como feminina, é citada como exemplo desse afastamento da ordem natural (w. 26,27). Paulo, seguindo a tradição bíblica, reprova a prática homossexual (Lv 18.22). Por outro lado, a cultura greco-romana tinha como natural o relacionamento entre pessoas do mesmo sexo. A pederastia, relacionamento de um adulto com alguém mais jovem, era vista com normalidade tanto na Grécia antiga como em Roma. A maior parte dos Césares era homossexual. E conhecida a frase do escritor romano Suetônio dizendo que o imperador Júlio César “era o homem de toda mulher e a mulher de todo homem”. Suetônio ainda fala sobre César como sendo amante de Nicomedes: “A reputação de sodomita veio-lhe unicamente de sua estada junto a Nicomedes, mas isso bastou para desonrá-lo para sempre e expô-lo aos ultrajes de todos”.8 Essa prática, considerada normal para cultura greco-romana, era vista pelos judeus como uma perversão da sexualidade.

Depois da revolução sexual dos anos sessenta, o movimento em prol da homossexualidade ganhou força no mundo inteiro. Grande parte desse feito é atribuído a Alfred Charles Kinsey (1894-1956), considerado o apóstolo da perversão sexual. Kinsey popularizou seus ensinos distorcidos sobre a sexualidade humana através de seu livro 0 Comportamento Sexual do Macho. Após as pesquisas de Kinsey, que posteriormente ficou provado que foram todas manipuladas, a sexualidade ganhou outro rumo.9 Passou-se a acreditar que o homossexualismo estaria fundamentado em verdades científicas. Alguns teólogos, que creem que há pessoas que já nascem homossexuais, tentam justificar esse tipo de comportamento afirmando que a Bíblia condena as relações entre heterossexuais e homossexuais, e não a relação entre um homossexual e outro homossexual. O teólogo católico José Bortolini partilha desse entendimento: “A carta destaca algumas dessas relações pervertidas. A primeira é o homossexualismo feminino e masculino (1.26b,27). De modo geral, no mundo greco-romano daquele tempo, a prática homossexual entre pessoas heterossexuais era estimulada e inclusive vista como perfeição. Paulo certamente não tinha o conhecimento que hoje se tem a respeito de pessoas que já nascem com orientação homossexual. Ele detecta perversão entre heterossexuais que se dedicam a práticas homossexuais”.10 Tal explicação, adotada inclusive por muitos movimentos ditos evangélicos, não resiste aos fatos históricos nem tampouco a uma exegese do texto bíblico. Para Paulo, o homossexualismo era uma perversão sexual porque além de ser condenado na Escritura era também antinatural de acordo com Romanos 1.26,27.

Romanos 2.1-16

Portanto, és inescusável quando julgas, ó homem, quem quer que sejas, porque te condenas a ti mesmo naquilo que julgas a outro; pois tu, que julgas, fazes o mesmo. E bem sabemos que o juízo de Deus é segundo a verdade sobre os que tais coisas fazem. E tu, ó homem, que julgas os que fazem tais coisas, cuidas que, fazendo-as tu, escaparás ao juízo de Deus? Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência, e longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus te leva ao arrependimento? Mas, segundo a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus, o qual recompensará cada um segundo as suas obras, a saber: a vida eterna aos que, com perseverança em fazer bem, procuram glória, e honra, e incorrupção; mas indignação e ira aos que são contenciosos e desobedientes à verdade e obedientes à iniquidade; tribulação e angústia sobre toda alma do homem que faz o mal, primeiramente do judeu e também do grego; glória, porém, e honra e paz a qualquer que faz o bem, primeiramente ao judeu e também ao grego; porque, para com Deus, não há acepção de pessoas. Porque todos os que sem lei pecaram sem lei também perecerão; e todos os que sob a lei pecaram pela lei serão julgados. Porque os que ouvem a lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados. Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei, os quais mostram a obra da lei escrita no seu coração, testificando juntamente a sua consciência e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os, no dia em que Deus há de julgar os segredos dos homens, por Jesus Cristo, segundo o meu evangelho.

A Revelação Especial

“Portanto, és inescusável quando julgas, ó homem, quem qUerque sejas, porque te condenas a ti mesmo naquilo que julgas a outro; pois tu, que julgas, fa%es 0 mesmo ” (2.1). Há claramente uma mudança no pensamento do apóstolo a pardr desse ponto. O alvo agora não é mais o mundo gentílico, mas o judaico. Nessa passagem, o apóstolo mostrará que os judeus não estão diante de Deus em melhores condições do que os gentios. Douglas Moo observa que os judeus poderiam pensar que podiam pecar sem serem punidos porque possuíam uma relação pactuai com Deus. Mas de acordo com os versículos de 6 a 11, Paulo parece ir um passo mais adiante: Os judeus não têm nenhum direito de pensar que intrinsecamente o pacto lhes concede uma situação melhor que os gentios diante de Deus."

O apóstolo mostra então as razões por que os judeus não estavam em situação melhor do que os gentios.

1. Eles praticavam aquilo que consideravam errado no comportamento gentílico (v. 1). Ao agir assim, acabavam assumindo uma atitude de hipocrisia diante da lei.

2. Achavam que por serem os guardiões da Torá estariam isentos de qualquer julgamento (v. 3).

3. Abusavam da bondade de Deus (v. 4).

4. Possuíam um coração impenitente (v. 5).

5. Ignoravam a lei da retribuição (w. 6-10).

6. Eram exclusivistas (v.lt).

7. Não conseguiam viver as exigências da lei (w. 12-14).

‘Torque todos os que sem lei pecaram sem lei também perecerão; e todos os que sob a lei pecaram pela lei serãojulgados” (2.12). Comentando essa passagem, Charles Swindoll argumenta sobre aqueles que querem questionar sobre o que disse Paulo em Romanos 2.12. Isso não parece justo, argumentaria alguém. Seria justo punir alguém por infringir regras as quais ele não teve a oportunidade de conhecer? E exatamente isso que Paulo defende aqui. O fato é que, embora houvesse gentios que nunca estiveram na Palestina nem tampouco chegaram a entrar em contado como o povo hebreu e nem com sua lei, é bom lembrar que todo homem carrega a imagem de Deus. Swindoll então diz acertadamente que “parte dessa imagem inclui um sentido inato de que algumas ações são boas e outras são más. No entanto, incluso nesse padrão imperfeito, ninguém vive com justiça. Ninguém jamais tem obedecido com perfeição sua própria consciência. A culpa é uma reação universal por fazer algo que a ética pessoal de alguém o proíbe. No fim dos tempos, quando se ditar o veredicto final, se terá pesado as obras de toda pessoa e serão achadas faltas. A ignorância da Lei não é desculpa. Toda pessoa será julgada de acordo com seu conhecimento do bem e do mal. E por qualquer padrão, seja a lei mosaica, seja a própria consciência do gentio, toda pessoa será achada culpada”.12

Romanos 2.17-29

Eis que tu, que tens por sobrenome judeu, e repousas na lei, e te glorias em Deus; e sabes a sua vontade, e aprovas as coisas excelentes, sendo instruído por lei; e confias que és guia dos cegos, luz dos que estão em trevas, instruidor dos néscios, mestre de crianças, que tens a forma da ciência e da verdade na lei; tu, pois, que ensinas a outro, não te ensinas a ti mesmo? Tu, que pregas que não se deve furtar, furtas? Tu, que dizes que não se deve adulterar, adulteras? Tu, que abominas os ídolos, cometes sacrilégio? Tu, que te glorias na lei, desonras a Deus pela transgressão da lei? Porque, como está escrito, o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por causa de vós. Porque a circuncisão é, na verdade, proveitosa, se tu guardares a lei; mas, se tu és transgressor da lei, a tua circuncisão se torna em incircuncisão. Se, pois, a incircuncisão guardar os preceitos da lei, porventura, a incircuncisão não será reputada como circuncisão? E a incircuncisão que por natureza o é, se cumpre a lei, não te julgará, porventura, a ti, que pela letra e circuncisão és transgressor da lei? Porque não é judeu o que o é exteriormente, nem é circuncisão a que o é exteriormente na carne. Mas é judeu o que o é no interior, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não na letra, cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus.

Espiritualidade sem Verniz

Gosto da paráfrase que F. F. Bruce, erudito em Novo Testamento, fez dessa passagem. Ela atualiza o que o texto quer dizer.

Você tem o honroso nome de judeu. Sua posse da lei dá-lhe confiança, gloria- se de que é ao Deus verdadeiro que você cultua e de que conhece a vontade dEle. Você aprova o caminho mais excelente, pois o aprendeu da lei. Considera-se mais instruído do que aqueles que são inferiores por não terem a lei. Considera-se guia de cegos e instrutor de tolos. Mas por que não dar uma sincera olhada em você mesmo? Você não tem defeitos? Você conhece a lei, mas a guarda? Você diz: “Não roubarás”. Mas não rouba nunca? Você diz: “Não adulterarás”. Mas será que cumpre sempre esse mandamento? Você detesta ídolos, mas nunca rouba templos? Você se gloria na lei, mas, de fato, sua desobediência à lei dá má fama entre os pagãos, a você e ao Deus que cultua. Ser judeu aproveitará ao homem diante de Deus somente se cumprir a lei. O judeu que quebra à lei não é melhor do que o gentio. E inversamente, o gentio que cumpre as exigências da lei é tão bom à vista de Deus como qualquer judeu que permanece na lei. Na verdade, o gentio que guarda a lei de Deus condenará o judeu que a quebra, não importa quão versado nas Escrituras esse judeu seja, não importa quão canonicamente se tenha processado a sua circuncisão. Você vê, não é questão de descendência natural e de sinal externo como a circuncisão. A palavra “judeu” significa “louvor”, e o verdadeiro judeu é o homem cuja vida é digna de louvor pelos padrões de Deus, cujo coração é puro à vista de Deus, cuja circuncisão é a circuncisão interna, do coração. Este é judeu de verdade, digo eu — homem verdadeiramente digno de louvor — e seu louvor não é matéria de aplauso humano, mas da aprovação divina.13

‘Eis que tu, que tens por sobrenome judeu, e repousas na lei, e te glorias em Deus; e sabes a sua vontade, e aprovas as coisas excelentes, sendo instruído por lei” (2.17). Paulo ainda continua preparando o terreno para a exposição da doutrina da justificação pela fé da qual ele falará logo mais. Os gentios possuíam a revelação natural, bem como a lei da consciência; todavia, foram incapazes de reagir positivamente diante de Deus. Agora Paulo passará a falar dos judeus, que foram escolhidos por Deus e a quem foi dada, de forma especial, a lei. Todavia, assim como o pecado cegou os que tinham recebido a revelação natural, da mesma forma cegou os que tinham recebido a revelação especial.

Paulo havia demonstrado que os gentios estavam debaixo das densas nuvens do pecado. Antes que algum judeu legalista pudesse se gloriar de sua posição privilegiada em relação aos gentios, o apóstolo se apressa em dizer que eles não possuíam vantagem nenhuma. Se os gentios quebraram a lei natural, os judeus se demonstraram incapazes de cumprir a revelação especial, que lhes fora dada por meio da lei no Sinai. Eram, portanto, indesculpáveis.

Essa atitude legalista, em que a religião é vivida apenas de forma exterior, conduz à hipocrisia religiosa e é duramente combatida por Paulo. Aqueles que confiavam na lei como instrumento de justificação começam a perceber que as suas posturas diante da lei não os havia melhorado em nada. Paulo quer fazer com que eles vejam que esse modelo de espiritualidade estava falido justamente pelo fato de terem eles falhado em atender as exigências do preceito legal.

O legalismo foi uma ameaça para o antigo Israel; todavia, continua sendo uma ameaça hoje. A salvação pelas obras, isto é, que depende dos feitos de quem as pratica, parece ser algo atraente para muitos. A tentativa de agradar a Deus por meio dos seus próprios méritos é um perigo do qual o cristão precisa se precaver. Nessa seção das Escrituras, observamos Paulo combatendo o modelo de espiritualidade que atua somente por fora e não por dentro. Para ele, não era um judeu quem apenas possuía as marcas da circuncisão na sua carne, isto é, externamente, todavia não se encontrava marcado internamente (Rm 2.28,29). Muitos põem um verniz na sua espiritualidade e isso é tudo que conseguem viver e mostrar. Viver de aparências parece ser algo normal diante dos homens, mas não diante de Deus. Deus não possui uma vitrine, onde adorna os seus filhos para uma simples exposição. Ele os coloca no cenário da vida, na realidade nua e crua do dia a dia, para que eles possam depender dEle e assim viver sem mascaramentos.

Romanos 3.1-20

Qual é, logo, a vantagem do judeu? Ou qual a utilidade da circuncisão? Muita, em toda maneira, porque, primeiramente, as palavras de Deus lhe foram confiadas. Pois quê? Se alguns foram incrédulos, a sua incredulidade aniquilará a fidelidade de Deus? De maneira nenhuma! Sempre seja Deus verdadeiro, e todo homem mentiroso, como está escrito: Para que sejas justificado em tuas palavras e venças quando fores julgado. E, se a nossa injustiça for a causa da justiça de Deus, que diremos? Porventura, será Deus injusto, trazendo ira sobre nós? (Falo como homem.) De maneira nenhuma! Doutro modo, como julgará Deus o mundo? Mas, se pela minha mentira abundou mais a verdade de Deus para glória sua, por que sou eu ainda julgado também como pecador? E por que não dizemos (como somos blasfemados, e como alguns dizem que dizemos): Façamos males, para que venham bens? A condenação desses é justa. Pois quê? Somos nós mais excelentes? De maneira nenhuma! Pois já dantes demonstramos que, tanto judeus como gregos, todos estão debaixo do pecado, como está escrito: Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só. A sua garganta é um sepulcro aberto; com a língua tratam enganosamente; peçonha de áspide está debaixo de seus lábios; cuja boca está cheia de maldição e amargura. Os seus pés são ligeiros para derramar sangue. Em seus caminhos há destruição e miséria; e não conheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos. Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda boca esteja fechada e todo o mundo seja condenado diante de Deus. Por isso, nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado.

Aliança Quebrada

“Qual é, logo, a vantagem do judeu? Ou qual a utilidade da circuncisão?” (3.1). Paulo encerra seu argumento mostrando que judeus, gentios e toda a humanidade estavam debaixo do pecado. Não havia sobrado nenhum justo. Tanto gentios que viviam sem lei como os judeus que viviam debaixo da lei encontravam-se na mesma situação espiritual — afastados de Deus.

O expositor bíblico Henry Mahan observa que “no Antigo Testamento os judeus tinham grandes vantagens sobre as nações gentias. Tinham a palavra de Deus. Este término se usa quatro vezes no Novo Testamento. Em Atos 7.38 significa lei de Moisés; em Hebreus 5.12 e 1 Pedro 4.11 abarca as verdades do Evangelho. Neste versículo estão incluídas todas as Escrituras do Antigo Testamento, especialmente as que se referem ao Messias, Jesus Cristo. Enquanto os gentios precisavam descobrir Deus como podiam através da criação, consciência e providência, os judeus tinham as profecias da vinda do Messias, as figuras e tipos de seu sacrifício e expiação nas cerimônias e a promessa de redenção e perdão através da fé nEle. Em lugar de crerem nEle e confessar sua culpabilidade revelada através da lei e descansar na fé e na misericórdia de Deus e na justiça imputada, tomaram a lei, a circuncisão e as cerimônias e a herança judia e estabeleceram sua própria justiça baseada em uma imperfeita e hipócrita obediência formal. Todas as leis, rituais, moralidade, cerimônias, Escrituras e forma externa não são de valor, mas ao contrário são devastadoras, se não conduzem à pessoa de Cristo”.14

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1 ARCO, Sor de Juana. Concordância de la Biblia Griega. Bilbao, Espanha: Edicion Espanola.

2 HODGE, Charles. Commentary on the Epistle to the Romans. Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1953.

3 SHEED, Russel P. Lei, Graça e Santificação. São Paulo: Editora Vida Nova, 2012. Há um longo debate sobre o que será feito dos que nunca ouviram o evangelho, que o espaço não nos permite discutir aqui. Todavia, há uma excelente abordagem sobre o tema na obra: Que de los que no Han Oido? — Três Perspectivas sobre el Destino de los no Evangelizados (O que Será dos que nunca Ouviram? — Três Perspectivas sobre o Destino dos não Evangelizados. SANDERS, John. Illinois: Intervasty Press). Há também uma exposição sobre o assunto no comentário de Douglas Moo (Romanos — Del Texto Bíblico a una Aplicacion Contemporânea. Editorial Vida).

4 Agostinho (354-430 d.C.) acreditava que o pecado original tornou o homem totalmente depravado ao ponto de impossibilitá-lo de reagir positivamente diante de Deus. Ele se opôs ao ensino de Pelágio (350-423), um monge britânico, “que ensinava que o homem possui a capacidade de dar os passos iniciais em direção à salvação mediante seus próprios esforços, à parte da graça especial” (Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. Vol 3). Pelágio, portanto, ensinava um tipo de salvação pelas obras. Ao contrário do que ensinava Pelágio, Jacó Armínio (1560-1609 d.C.), que também cria na depravação humana sem, contudo, negar a liberdade de escolha dos homens (livre-arbítrio), situou totalmente na graça de Deus a iniciativa da salvação. Deus oferece aos homens a sua graça, favor imerecido, cabendo a eles aceitarem ou rejeitarem (Jo 1.12; At 16.30-31).

5 BARBAGLIO, Giuseppe. As Cartas de Paulo II — Romanos. São Paulo: Edições Loyola, 1991.

6 MOODY, Dale. Comentário Bíblico Broadman, Atos — I Corindos. Rio de Janeiro: JUERP, 1987.

7 PATE, C. Marvin. Romanos — Comentário Expositivo. São Paulo: Editora Vida Nova.

8 TRANQUILO, Caio Suetônio. A Vida dos Doze Césares. Editora Gemape, 2003.

9 GALLAGHER, Steve. E Foi assim que Perdemos a Inocência. São Paulo: Editora Propósito Eterno.

10 BORTOLONI, José. Como Ler a Carta aos Romanos — O Evangelho É a Força de Deus que Salva. São Paulo: Editora Paulus, 2013.

11 MOO, Douglas. Romanos — Del Texto Bíblico a una Aplicacion Contemporânea. Editorial Vida.

12 SWINDOLL, Charles R. Romanos — Comentário Swindoll Del Nuevo Testamento. Grand Rapids, Michigan: Zondervan. (tradução livre do autor)

13 BRUCE. E E Romanos — Introdução e Comentário. São Paulo: Edições Vida Nova.

14 MAHAN, Henry. Romanos — comentário breve a las epistolas. Alcazar de San Juan, Espanha: Editorial Peregrino.

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