Vivemos em uma geração em que muita gente quer aparecer, ser aplaudida, ser notada o tempo todo. Redes sociais, busca por curtidas, necessidade de aprovação… tudo isso alimenta algo que a Bíblia já denunciava há muito tempo: o amor exagerado por si mesmo.
A psicologia chama isso de Transtorno de Personalidade Narcisista (TPN), quando a pessoa vive em um padrão de grandiosidade, necessidade de admiração e falta de empatia. Em palavras simples, é aquela pessoa que se acha melhor que os outros, precisa ser o centro de tudo, tem dificuldade de reconhecer erros e não consegue enxergar a dor alheia.
Por trás dessa aparência de força, muitas vezes existe uma grande fragilidade interna. A pessoa narcisista costuma ter uma autoestima fraca, por isso vive se protegendo com orgulho, arrogância e controle. Em vez de admitir suas falhas, culpa os outros, se vitimiza e sempre encontra alguém para responsabilizar.
Na vida prática, isso aparece em atitudes muito concretas: exagerar as próprias conquistas, desmerecer o esforço dos outros, reagir com raiva ou ironia quando é corrigido, usar as pessoas como degrau para subir, sentir inveja quando alguém é honrado ou reconhecido.
A Bíblia não usa a palavra “narcisismo”, mas descreve esse tipo de comportamento. Em 2 Timóteo 3.1–2, lemos sobre pessoas que seriam “amantes de si mesmas”, orgulhosas e arrogantes. Em Provérbios 16.18, a Palavra nos lembra que “a soberba precede a ruína”. E em Filipenses 2.3-5 somos chamados a viver o oposto disso: “Nada façam por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo”. O modelo para nós é Jesus, que mesmo sendo Senhor de tudo, se fez servo.
Enquanto o narcisista vive dizendo, com atitudes: “Eu em primeiro lugar”, Jesus nos mostra o caminho do serviço, do esvaziamento e da entrega: “Quem quiser ser o maior, seja o servo” (cf. Marcos 10.43-45).
Ou seja: o narcisismo é o coração tentando ocupar um lugar que pertence somente a Deus.
Quando conviver com alguém narcisista se torna pesado
Conviver com uma pessoa assim não é simples. Muitas vezes, quem está perto vive cansado emocionalmente, pisando em “ovos”, com medo de falar algo que desagrade. É comum a pessoa narcisista:
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Desprezar sentimentos alheios;
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Transformar qualquer conversa em algo sobre ela;
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Reagir mal a qualquer crítica, mesmo que seja construtiva;
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Manipular, fazendo chantagem emocional para conseguir o que quer.
A Bíblia nos orienta a amar o próximo, mas não nos manda aceitar relacionamentos abusivos ou desrespeitosos. Amar não é ser tapete.
Ter uma atitude cristã diante de um narcisista não significa se anular, mas agir com amor, verdade e limites. Em alguns casos, será necessário dizer “não”, afastar-se de certas conversas, não entrar em discussões que só alimentam o ego do outro, e até buscar ajuda pastoral ou profissional, dependendo do nível de convivência.
É importante entender que não está errado proteger o próprio coração. Jesus nos ensinou a dar a outra face, mas não a entregar a nossa dignidade para ser destruída. Há momentos em que a atitude mais sábia é não reagir com agressividade, não entrar no jogo da provocação e simplesmente se afastar quando a conversa se torna ofensiva.
Também é importante lembrar que por trás de muita arrogância, há feridas que não foram curadas. Isso não justifica o pecado, mas nos ajuda a orar com mais misericórdia. Em vez de apenas dizer “essa pessoa não presta”, podemos clamar: “Senhor, tem misericórdia e transforma esse coração”.
E quando o problema começa a aparecer em nós?
É muito fácil apontar o dedo e dizer: “Fulano é narcisista”. Difícil é olhar para dentro e perguntar: “Será que eu também não tenho traços de narcisismo?”
A verdade é que todos nós, por natureza, lutamos com o ego. Em menor ou maior grau, podemos manifestar atitudes narcisistas quando:
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Não suportamos ser contrariados;
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Queremos ter razão o tempo todo;
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Ficamos incomodados quando alguém é elogiado e nós não;
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Usamos as pessoas para benefício próprio;
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Gostamos de ser servidos, mas temos dificuldade em servir.
Por isso, antes de usar este tema apenas para criticar alguém, vale fazer uma oração sincera:
“Senhor, mostra-me se há em mim um coração orgulhoso.Trata o meu ego.Livra-me de ser amante de mim mesmo, e ensina-me a amar como Jesus amou.”
A Palavra de Deus nos convida à humildade, ao arrependimento e à transformação. O Espírito Santo quer nos convencer não só do pecado dos outros, mas do nosso. Ele quer tirar de nós o coração duro, competitivo, cheio de vaidade, e formar em nós o caráter de Cristo.
Em 1 Coríntios 13, lemos que o amor “não se vangloria, não se orgulha”. O verdadeiro amor não busca o próprio interesse. Isso é exatamente o oposto do narcisismo.
Caminhos práticos à luz da fé
Diante de tudo isso, podemos resumir algumas atitudes cristãs:
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Se você convive com alguém narcisista, peça a Deus sabedoria para colocar limites sem perder o amor. Não devolva mal com mal. Não deixe o outro te manipular, mas também não deixe o seu coração se encher de ódio. Ore por essa pessoa, mas cuide de si.
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Se você percebe sinais de narcisismo em você, não fuja. Traga à luz. Admita suas lutas diante de Deus. Peça ajuda ao Espírito Santo para aprender a ouvir mais, servir mais, reconhecer seus erros, valorizar as pessoas e não precisar o tempo todo de aplauso.
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Se for necessário, não tenha medo de buscar ajuda profissional (psicólogo, terapeuta) e aconselhamento pastoral. Deus pode usar essas ferramentas para alinhar nossa mente e nosso coração com a verdade da Sua Palavra.
No fim, o maior antídoto contra o narcisismo é viver como João Batista declarou:
“É necessário que Ele cresça e que eu diminua.” (João 3.30)

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