quarta-feira, 26 de novembro de 2025

Narcisismo: quando o “eu” ocupa o lugar de Deus

Vivemos em uma geração em que muita gente quer aparecer, ser aplaudida, ser notada o tempo todo. Redes sociais, busca por curtidas, necessidade de aprovação… tudo isso alimenta algo que a Bíblia já denunciava há muito tempo: o amor exagerado por si mesmo.

A psicologia chama isso de Transtorno de Personalidade Narcisista (TPN), quando a pessoa vive em um padrão de grandiosidade, necessidade de admiração e falta de empatia. Em palavras simples, é aquela pessoa que se acha melhor que os outros, precisa ser o centro de tudo, tem dificuldade de reconhecer erros e não consegue enxergar a dor alheia.

Por trás dessa aparência de força, muitas vezes existe uma grande fragilidade interna. A pessoa narcisista costuma ter uma autoestima fraca, por isso vive se protegendo com orgulho, arrogância e controle. Em vez de admitir suas falhas, culpa os outros, se vitimiza e sempre encontra alguém para responsabilizar.

Na vida prática, isso aparece em atitudes muito concretas: exagerar as próprias conquistas, desmerecer o esforço dos outros, reagir com raiva ou ironia quando é corrigido, usar as pessoas como degrau para subir, sentir inveja quando alguém é honrado ou reconhecido.

A Bíblia não usa a palavra “narcisismo”, mas descreve esse tipo de comportamento. Em 2 Timóteo 3.1–2, lemos sobre pessoas que seriam “amantes de si mesmas”, orgulhosas e arrogantes. Em Provérbios 16.18, a Palavra nos lembra que “a soberba precede a ruína”. E em Filipenses 2.3-5 somos chamados a viver o oposto disso: “Nada façam por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo”. O modelo para nós é Jesus, que mesmo sendo Senhor de tudo, se fez servo.

Enquanto o narcisista vive dizendo, com atitudes: “Eu em primeiro lugar”, Jesus nos mostra o caminho do serviço, do esvaziamento e da entrega: “Quem quiser ser o maior, seja o servo” (cf. Marcos 10.43-45).

Ou seja: o narcisismo é o coração tentando ocupar um lugar que pertence somente a Deus.

Quando conviver com alguém narcisista se torna pesado

Conviver com uma pessoa assim não é simples. Muitas vezes, quem está perto vive cansado emocionalmente, pisando em “ovos”, com medo de falar algo que desagrade. É comum a pessoa narcisista:

  • Desprezar sentimentos alheios;

  • Transformar qualquer conversa em algo sobre ela;

  • Reagir mal a qualquer crítica, mesmo que seja construtiva;

  • Manipular, fazendo chantagem emocional para conseguir o que quer.

A Bíblia nos orienta a amar o próximo, mas não nos manda aceitar relacionamentos abusivos ou desrespeitosos. Amar não é ser tapete.

Ter uma atitude cristã diante de um narcisista não significa se anular, mas agir com amor, verdade e limites. Em alguns casos, será necessário dizer “não”, afastar-se de certas conversas, não entrar em discussões que só alimentam o ego do outro, e até buscar ajuda pastoral ou profissional, dependendo do nível de convivência.

É importante entender que não está errado proteger o próprio coração. Jesus nos ensinou a dar a outra face, mas não a entregar a nossa dignidade para ser destruída. Há momentos em que a atitude mais sábia é não reagir com agressividade, não entrar no jogo da provocação e simplesmente se afastar quando a conversa se torna ofensiva.

Também é importante lembrar que por trás de muita arrogância, há feridas que não foram curadas. Isso não justifica o pecado, mas nos ajuda a orar com mais misericórdia. Em vez de apenas dizer “essa pessoa não presta”, podemos clamar: “Senhor, tem misericórdia e transforma esse coração”.

E quando o problema começa a aparecer em nós?

É muito fácil apontar o dedo e dizer: “Fulano é narcisista”. Difícil é olhar para dentro e perguntar: “Será que eu também não tenho traços de narcisismo?”

A verdade é que todos nós, por natureza, lutamos com o ego. Em menor ou maior grau, podemos manifestar atitudes narcisistas quando:

  • Não suportamos ser contrariados;

  • Queremos ter razão o tempo todo;

  • Ficamos incomodados quando alguém é elogiado e nós não;

  • Usamos as pessoas para benefício próprio;

  • Gostamos de ser servidos, mas temos dificuldade em servir.

Por isso, antes de usar este tema apenas para criticar alguém, vale fazer uma oração sincera:

“Senhor, mostra-me se há em mim um coração orgulhoso.
Trata o meu ego.
Livra-me de ser amante de mim mesmo, e ensina-me a amar como Jesus amou.”

A Palavra de Deus nos convida à humildade, ao arrependimento e à transformação. O Espírito Santo quer nos convencer não só do pecado dos outros, mas do nosso. Ele quer tirar de nós o coração duro, competitivo, cheio de vaidade, e formar em nós o caráter de Cristo.

Em 1 Coríntios 13, lemos que o amor “não se vangloria, não se orgulha”. O verdadeiro amor não busca o próprio interesse. Isso é exatamente o oposto do narcisismo.

Caminhos práticos à luz da fé

Diante de tudo isso, podemos resumir algumas atitudes cristãs:

  • Se você convive com alguém narcisista, peça a Deus sabedoria para colocar limites sem perder o amor. Não devolva mal com mal. Não deixe o outro te manipular, mas também não deixe o seu coração se encher de ódio. Ore por essa pessoa, mas cuide de si.

  • Se você percebe sinais de narcisismo em você, não fuja. Traga à luz. Admita suas lutas diante de Deus. Peça ajuda ao Espírito Santo para aprender a ouvir mais, servir mais, reconhecer seus erros, valorizar as pessoas e não precisar o tempo todo de aplauso.

  • Se for necessário, não tenha medo de buscar ajuda profissional (psicólogo, terapeuta) e aconselhamento pastoral. Deus pode usar essas ferramentas para alinhar nossa mente e nosso coração com a verdade da Sua Palavra.

O evangelho nos chama para um caminho diferente:
menos “eu”, mais Cristo;
menos ego inflado, mais coração quebrantado;
menos necessidade de holofote, mais desejo de servir em segredo, sabendo que quem vê em secreto é o Pai.

No fim, o maior antídoto contra o narcisismo é viver como João Batista declarou:

“É necessário que Ele cresça e que eu diminua.” (João 3.30)

Quando Jesus cresce em nós, o “eu” perde espaço.
E quando o “eu” perde o trono, Jesus coloca tudo no lugar: nossa identidade, nossos relacionamentos e nossa maneira de enxergar o próximo.

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