I. Considerações iniciais
1. O livro de Apocalipse é dirigido às sete igrejas da Ásia (1.4) e está dividido em três partes, contemplando passado, presente e futuro (1.19).
a) “Escreve as coisas que tens visto” — cap.1;
b) “e as que são” — caps.2-3;
c) “e as que depois destas hão de acontecer” — caps.4-22.
2. As cartas às sete igrejas da Ásia não aludem a períodos da História da Igreja, pois nelas se mencionam lugares e pessoas que realmente existiram. Elas também não foram organizadas da melhor para a pior igreja, nem da pior para a melhor.
3. Apesar de não sermos os destinatários originais dessas cartas, boa parte do que foi dito por Jesus àquelas igrejas é extensivo a nós: “Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas” (Ap 2.7,11,17,29; 3.6,13,22; 13.9). A igreja nascente começou com os doze discípulos do Senhor Jesus, que ouviram ensinamentos que, em sua maioria, são válidos para hoje (Mt 5-7,24,25; Jo 13-17). Nós somos a continuação da igreja primitiva.
II. Visão panorâmica das sete igrejas
1. Objetivos gerais das cartas escritas pelo apóstolo João:
a) Levar as igrejas que estavam desobedecendo a Jesus ao arrependimento (Éfeso, Pérgamo, Sardo e Laodiceia).
b) Estimular as outras a manterem o seu lugar no castiçal (Esmirna, Tiatira e Filadélfia).
c) Como se vê, a maioria (57%) das igrejas era infiel.
2. Perfil de cada igreja — Cristo empregou criteriosamente os títulos com que designou a si mesmo, em harmonia com a situação reinante em cada igreja.
a) Éfeso — tinha muitas qualidades, mas faltou-lhe a principal: a manutenção do primeiro amor. Jesus se revelou a essa igreja como “aquele que tem na sua destra as sete estrelas, que anda no meio dos sete castiçais de ouro” (Ap 2.1-7).
b) Esmirna — uma igreja que foi provada e venceu; deveria ser fiel até a morte. Jesus se revelou a essa igreja como “o Primeiro e o Último, que foi morto e reviveu” (Ap 2.8-11).
c) Pérgamo — abraçara a doutrina de Balaão e dos nicolaítas; deveria se arrepender. Jesus se revelou a essa igreja como “aquele que tem a espada aguda de dois fios” (Ap 2.12-17).
d) Tiatira — suas últimas obras eram melhores que as primeiras, ao contrário de Éfeso. Jesus se revelou a essa igreja como “o Filho de Deus, que tem os olhos como chama de fogo e os pés semelhantes ao latão reluzente” (Ap 2.18-29).
e) Sardo — seu pastor estava morto; poucos, ali, agradavam a Jesus. Ele se revelou a essa igreja como “o que tem os sete Espíritos de Deus e as sete estrelas” (Ap 3.1-6).
f) Filadélfia — uma igreja fiel, a melhor de todas, que deveria guardar o que tinha, a fim de não perder a sua coroa. Jesus se revelou a essa igreja como “o que é santo, o que é verdadeiro, o que tem a chave de Davi, o que abre, e ninguém fecha, e fecha, e ninguém abre” (Ap 3.7-13).
g) Laodiceia — uma igreja infiel, cujo pastor, espiritualmente, era desgraçado, miserável, pobre, cego e nu. Jesus se revelou a essa igreja como “o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus” (Ap 3.14-22).
3. Palavras transmitidas a todas as igrejas:
a) Mensagem de encorajamento: “Eu sei as tuas obras” ou “Eu conheço as tuas obras” (Ap 2.2,9,13,19; 3.1,8,15).
b) Advertência: “Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas” (Ap 2.7,11,17,29; 3.6,13,22).
c) Promessa: “Ao que vencer”, “O que vencer” ou “A quem vencer” (Ap 2.7,11,17,26; 3.5,12,21).
III. A igreja de Éfeso
1. A cidade de Éfeso era a capital da Ásia. Nos tempos bíblicos havia três Ásias:
a) O grande continente asiático — que vai do Japão, passando pela China e Índia, até a Turquia.
b) A região conhecida como Ásia Menor — que compreende a maior parte da Turquia moderna, do mar Egeu às montanhas da fronteira com a Armênia, a leste, e o mar Negro e as montanhas Taurus, no eixo norte-sul — era formada por províncias romanas, como Cilícia, Galácia, Capadócia, Panfília, Bitínia e a própria Ásia.
c) A província da Ásia, cuja capital era Éfeso. Na sua segunda viagem missionária, Paulo estava na Galácia (na Ásia Menor), quando quis ir à província da Ásia (At 16.6). Ele avançou para Mísia e Trôade, onde recebeu direção divina para ir à Macedônia (vv.7ss).
2. Na sua terceira viagem missionária, Paulo foi a Éfeso, na província da Ásia, cidade que contava com meio milhão de habitantes, à época, e era o centro do culto à deusa Diana (At 18-20). João, que teria morrido nessa cidade, supervisionava dali as igrejas da Ásia.
3. A primeira carta do Apocalipse foi dirigida à congregação que se reunia no porto de Éfeso (At 18.18; 19.41). Essa igreja, estabelecida por obreiros como Paulo e Apolo, contou com cristãos ilustres como Priscila e Áquila (At 18.27). Seus primeiros anos foram caracterizados por milagres e um grande crescimento (At 19.11-20).
IV. Análise da carta à igreja de Éfeso (Ap 2.1-7)
1. A carta foi endereçada ao anjo da igreja (v.1); ou seja, ao seu pastor. Isso mostra que o líder é o responsável perante o Senhor, que estabeleceu uma hierarquia ministerial para a sua Igreja (1 Co 12.28; At 15.6,22; Ne 8.5).
2. Jesus tem na sua destra (mão direita) as sete estrelas (v.1).
a) Os pastores e os crentes, de modo geral, são comparados a estrelas (Ap 1.20; 1 Co 15.41).
b) Todos nós estamos nas mãos do Senhor Jesus (Jo 10.27,28).
3. Jesus anda no meio dos sete castiçais de ouro (v.1).
a) Os castiçais aludem às igrejas (Ap 1.20). O castiçal, como símbolo da Igreja, salienta o dever de todos os seus membros brilharem em conjunto. Isso fala de unidade.
b) Jesus anda no meio da Igreja (Mt 18.20; 2 Co 6.14-18).
4. Jesus conhece a sua Igreja (v.2).
a) “Eu sei as tuas obras” — é Jesus quem aprova a nossa obra (1 Co 3.11-15; 2 Co 10.18);
b) “o teu trabalho” — nosso trabalho não é vão no Senhor (1 Co 15.58);
c) “a tua paciência” — necessitamos de paciência para vencer (Hb 10.36);
d) “que não podes sofrer os maus” — muitos toleram os enganadores e falsos profetas, alegando que não podemos julgar (Mt 7.1 com Jo 7.24; 1 Co 6.1-6; Ap 2.20-22);
e) “puseste à prova os que dizem ser apóstolos e o não são e tu os achaste mentirosos” — não é de hoje que obreiros fraudulentos se passam por apóstolos (Mt 7.21-23). É preciso tapar a boca dos faladores (Tt 1.10-14).
5. Virtudes da igreja de Éfeso (vv.3,6).
a) “Sofreste” — vida cristã sem sofrimento não é vida cristã (Jo 16.33; At 14.22; Rm 5.1-5; 8.18; 1 Pe 2.20,21);
b) “tens paciência” (Sl 40.1-3; Hb 6.13-15);
c) “trabalhaste pelo meu nome” — muitos trabalham pelo seu próprio nome; quem trabalha pelo nome do Senhor é perseguido, mas também é bem-aventurado (Mt 5.11,12);
d) “não te cansaste” — os que esperam no Senhor têm as forças renovadas (Is 40.28-31; Js 14.7-13);
e) “aborreces as obras dos nicolaítas, as quais eu também aborreço” — os nicolaítas eram cristãos, possivelmente discípulos de Nicolau, diácono que supostamente se desviou (At 6.5), os quais, apesar de convertidos, de alguma maneira praticavam as obras da carne. Os nicolaítas supervalorizavam a graça, faziam o trabalho do Senhor relaxadamente, acreditando que não precisavam praticar boas obras (Tg 2.14-17; Ef 2.8-10; Hb 3.12,13).
6. O grande erro da igreja de Éfeso (v.4).
a) Jesus não ignora erros por causa de acertos; Ele não “põe panos quentes” (Hb 4.13; Jo 21.15-17).
b) O grande erro dos efésios não foi um pecado moral, e sim o abandono do primeiro amor.
c) O amor é a essência da vida cristã (Mt 24.12; 1 Co 13).
d) Paulo concluiu a carta aos efésios dizendo: “A graça seja com todos os que amam a nosso Senhor Jesus Cristo em sinceridade. Amém!” (Ef 6.24).
7. Jesus tem o remédio para a perda do primeiro amor (v.5).
a) “Lembra-te de onde caíste” — o filho pródigo também refletiu sobre sua vida e se lembrou da casa do pai (Lc 15.17);
b) “arrepende-te” — arrependimento verdadeiro envolve intelecto, sentimento e vontade; o arrependimento de Judas foi apenas emocional (Mt 27.3-5);
c) “pratica as primeiras obras” — muitos pensam em estratégias de crescimento inovadoras, mas o avivamento começa com a reconquista do que foi perdido (Lm 5.21; 2 Cr 29.25-30; Jr 6.16; Pv 24.21);
d) “quando não, brevemente a ti virei e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres” — se permanecermos na condição de desobedientes a Deus, isso resultará na perda da nossa posição em Cristo.
8. Promessa aos vencedores: “Ao que vencer dar-lhe-ei a comer da árvore da vida que está no meio do paraíso de Deus” (v.7). A nossa glorificação e o nosso galardão estão condicionados à perseverança em servir ao Senhor (Mt 24.13; 1 Co 15.1,2; Hb 3.14; Ap 2.10; 3.11; Rm 8.18).
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