Falarmos sobre um Brasil verdadeiramente feliz, dá-nos a entender que há um Brasil mentirosamente ou enganadamente feliz. O advérbio “verdadeiramente” aponta para este subentendido.
Talvez o Brasil enganosamente feliz seja o Brasil do carnaval, do samba e do futebol. Talvez seja o Brasil da oitava economia do mundo, com um PIB projetado para 2010 de U$ 1,8 trilhão. Talvez seja o Brasil do aumento do poder aquisitivo do brasileiro nestes últimos anos.
O Brasil enganosamente feliz faz vistas grossas aos Brasil dos imensos abismos sociais. Faz vistas grossas ao Brasil racista, ao Brasil da corrupção, das Pizzas. O Brasil enganosamente feliz comemora a Copa de 2014, esquecendo-se que o ingresso mais barato de abertura custa U$ 200,000 (R$ 374,00) ou U$ 80,00 (R$ 191,00) por um jogo na fase de grupos inviabiliza que a classe mais baixa da população assista. O Brasil enganosamente feliz ignora o sistema de castas invisíveis tão rígido quanto na Índia. O Brasil enganosamente feliz está repleto das carteiradas, da impunidade e da falência das micro-empresas engolidas pelos impostos abusivos e pelos privilégios concedidos às multi. Talvez precisássemos de um novo Erasmo de Roterdã para conscientizar-nos de que um Brasil enganosamente feliz é um Elogio da Loucura.
Não temos um novo Erasmo, mas temos antigos ensinamentos que são mais atuais do que nunca. Jesus encontrava-se em um contexto que apresenta alguns traços de semelhanças com o atual. A carga tributária de um judeu trabalhador, imposta pelo jugo romano, variava entre 38 a 42%. Suetônio, historiador contemporâneo, registra que Vespasiano chegou a cobrar imposto sobre a urina que também era utilizada no tingimento de tecidos.
O povo era judeu. A maneira de pensar e falar internacionalmente era grega. O império epocal que dominava era o romano. Desde 63 a. C. quando Pompeu entrou na Palestina e submeteu os judeus ao jugo romano propalava-se a política do panis et circensis por meio das políticas de distribuição de alimentos de tempos em tempos e das termas e dos teatros e construções. Em 2007, quando César novamente estava no governo e o Circo do Soleil veio ao Brasil e foi realizado o PAN, parece que revivíamos o a política do PAN e CIRCO dos césares (tenham paciência com meu trocadilho infame). Através desta política os romanos queriam maquiar o império afirmando que tudo estava em Paz. Era a chamada Pax Romana Neste contexto, Jesus afirma que não veio dar a paz como o mundo a dá, ou seja, uma paz maquiada e falseada.
Para muitos estudiosos, Lucas 4 é o marco inicial do ministério de Jesus. Após ser batizado por João Batista no Sul de Israel (Judeia), Jesus volta para o Norte (Galileia), mas precisamente em Nazaré, cidade interiorana com cerca de cinco mil habitantes. Ao chegar em uma das sinagogas locais, é-lhe franqueada a palavra como bom visitante. Cedem-lhe o rolo de Isaías 61.1-3, que Jesus lê e interpreta que aquela Escritura está cumprida.
O ano 26/27 d.C. era um ano de Jubileu. Muitos estudiosos interpretam esta passagem como que referindo-se ao Jubileu proposto por Cristo, proposto em Levítico 25. Jesus lê o rolo. Entrega ao assistente e faz a aplicação da passagem.
Que atitudes, à luz da atitude de Jesus, podemos tomar por um Brasil verdadeiramente feliz?
Em primeiro lugar, o Espírito do Senhor precisa voltar a estar no meio de nós. Para isso é necessário um evangelho mais prático. Cultos que sejam fruto de uma prática de vida justa, caso contrário, o Espírito não estará em nosso meio (Is 1.5-16). A glória de Deus é manifesta através da plenitude da manifestação da humanidade.
Em segundo lugar, a coisa principal precisa voltar a ser a coisa principal: evangelizar. Urge a necessidade de um novo irromper missionário. Há uma variedade de evangelhos: evangelho da Alice, prometendo mil maravilhas; evangelho da prosperidade, prometendo um Deus que dá casa, comida e roupa lavada, etc.
Em terceiro lugar, precisamos exercer um ministério de cura de tanta gente marcada. Precisamos voltar ao exercício do estar, substituído, entre muitos, pela eletrônica. Precisamos voltar a parar tudo para ouvir alguém chorando. Precisamos abraçar mais. Precisamos nos preocupar em dar um bom almoço e abrir nossa casa para receber gente que precisa ser ouvida. Precisamos curar mais com abraços ao invés de curar apenas com orações. Distribuem-se óleos ungidos para curar doenças que só se curam por abraços.
Em quarto lugar, precisamos libertar os cativos. Paulo apontava para fortalezas mentais que eram construídas por intelectualóides de seu tempo (2Co 10.4-5). Verdadeiros fortes mentais são erigidos e engrossados por uma mídia diabólica e por uma academia marxista no Brasil, moldando a mentalidade brasileira. A lavagem cerebral deixou os porões da ditadura e entrou nas salas de estar das residências por meio de um click. Sábios em Deus que conduzam o Brasil à reflexão, à pensar são mais urgentes do que nunca. Mas Daniel já diziam que os sábios seriam poucos (Dn 12.3). A renovação da mente é ordem (Rm 12.2) e nós temos que ter a mente de Cristo (1Co 2.16), para chegar à raiz de toda a verdade e libertar àqueles que precisam da libertação por meio da verdade (Jo 8.32) da Palavra (Jo 17.17).
Em quinto lugar, por um Brasil verdadeiramente feliz precisamos dar vista aos cegos. Por que são mencionados apenas os cegos, e não os surdos, mudos, paralíticos, etc.? Pois o propósito de Jesus não era falar simplesmente de uma cura literal física. Isto era muito bom. Também foi efetuado em seu ministério. Mas Cristo queria dar visão aos que não viam. Lucas registra a citação de algo semelhante em At 28.27 quando Paulo menciona o texto em Isaías. Há pessoas com a vista perfeita que não enxergam e cegos que a tudo vêem. Pilatos tinha a verdade diante de si e não enxergou. O cego Bartimeu viu a verdade em meio à sua cegueira. Quando Cristo domina a nossa vida, a forma de amor mundano, que é cego, transforma-se na forma de amor cirúrgico-espiritual, que vê o que outros não vêem.
Em sexto lugar, por em liberdade os oprimidos. Uma igreja cristã, sendo igreja que acolha os desfavorecidos e oprimidos contribuirá para um Brasil melhor. Os cadeirantes sentem-se à vontade com a acessibilidade de nossas igrejas? As crianças sentem-se à vontade em nossos cultos ou eles são apenas para adultos? Quantos cegos freqüentam nossas igrejas? Acolher. Ser hospitaleira. Incluir. Verbos que fazem parte da essência de uma igreja que quer lutar por um Brasil feliz.
Em sétimo lugar, anunciar o ano aceitável do Senhor. Segundo Tozer, um novo ano pode iniciar-se a qualquer momento. A obra de Deus urge. Precisamos nos voltar para este anúncio, não publicitário, mas vívido.
Quando criança, no Colégio Pedro II, costumava entoar o hino de Villa-Lobos, o “Desfile aos heróis do Brasil”, que diz: “Glória aos homens que elevam a pátria Esta pátria querida que é o nosso Brasil [bis] Desde Pedro Cabral que a esta terra Chamou gloriosa num dia de Abril Pela voz das cascatas bravias Dos ventos e mares vibrando no azul Glória aos homens heróis desta pátria [bis] A terra feliz do Cruzeiro do Sul”. Quando eu era menino, falava, pensava e discorria como menino. Porém, crescendo em Cristo vi que enquanto o Brasil tiver como lido mais livro o de um mago, um de seus principais hinos um Humanismo e a Igreja alienar-se da plenitude de sua missão, o Brasil viverá enganosamente feliz. Porém, se, e somente se, imbuirmo-nos do senso da missão bíblica conforme Cristo nos prescreveu e efetuarmos nossa missão por um Brasil verdadeiramente feliz.
Pr. Henrique Araujo
http://teologiacontemporanea.com.br
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