Quando li pela primeira vez sobre o liberalismo teológico, em alguns livros do Rev. Augustus Nicodemus, não dei muita importância. A ideia de cristãos que consideram a Bíblia como um livro cheio de mitos e contradições parecia algo distante e irreal, até que tive contato com ideias desse tipo em palestras e conversas com um pastor na minha cidade. Para compreender melhor essa linha de pensamento, é necessário olhar para suas origens. Após o Iluminismo, a igreja cristã sofreu forte influência do racionalismo e cientificismo, levando ao surgimento do método histórico-crítico, que buscava submeter a Bíblia a uma análise crítica e científica. A Escritura passa a ser vista não como revelação inspirada por Deus, mas como um registro de fé de seus autores, limitado aos seus aspectos históricos.

Apesar da sua grande influência em igrejas tradicionais na Europa, o Liberalismo foi fortemente contestado por Karl Barth e outros teólogos, no movimento chamado de Neo-ortodoxia, que buscava um retorno à teologia bíblica e aos temas fundamentais da fé cristã. Os neo-ortodoxos prestaram uma grande contribuição histórica ao cristianismo, ao conter o avanço da teologia liberal, de modo que o liberalismo como movimento do século XIX não existe mais hoje. Porém, ainda com a necessidade de ser relevante ao homem moderno, a neo-ortodoxia manteve alguns pressupostos do liberalismo, como a validade do método histórico-crítico (porém de forma mais moderada) e a ideia de que a Bíblia não é a Palavra de Deus revelada, mas que se torna a Palavra no momento em que Deus nos fala através dela. Por isso, muitos afirmam que a neo-ortodoxia foi na verdade uma síntese entre o liberalismo e a antiga ortodoxia.
Apesar de o movimento liberal do século XIX ter terminado, hoje ainda existem teólogos liberais, que compartilham dessas posições teológicas. Porém, ao contrário dos antigos liberais, eles não costumam assumir abertamente seus posicionamentos e seus discursos são marcados pelo relativismo. Muitos deles estão em igrejas tradicionais, seminários teológicos e outras instituições, onde encontram espaço para ensinar suas ideias, sob o pretexto de buscar uma teologia relevante e socialmente engajada, ao contrário do “fundamentalismo intolerante”, nome que usam para se referir à ortodoxia cristã. Sua cosmovisão tem o homem, e não Deus, como ponto de partida, e busca o progresso abandonando as bases sobre as quais a fé cristã está fundamentada. O liberalismo é um grande desafio para a igreja hoje, e cabe a nós ter um posicionamento firme, afirmando a verdade e confrontando o erro, não por mera discussão, mas para a edificação da Igreja.
Para mais informações sobre o tema, recomendamos o livro "O que estão fazendo com a Igreja", do Rev. Augustus Nicodemus (editora Mundo Cristão), e o blog "O Tempora, O Mores", onde o mesmo escreve: http://tempora-mores.blogspot.com.br/search?q=liberalismo
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