A situação caótica da cidade de Vitória nestes últimos dias, deflagrada pela greve dos militares, com os subsequentes desenvolvimentos de violências e assassinatos, saques a lojas, agencias e supermercados podem ser definidos como “desordem mental sociológica”. Algo muito estranho está acontecendo na Terra Brasilis.
O que vimos está próximo da barbárie, não por causa da extensão em si dos problemas, mas pela estranheza de parte da comunidade que demonstra uma disposição psicológica em usar da prerrogativa da falta de policiamento para instaurar o caos e o terror. De forma tosca seria como se uma aldeia descobrisse que o líder tribal está gravemente enfermo e a tribo resolvesse conspirar contra a unidade e a paz.
Assusta-nos a violência em si, e assusta-nos o fator psicológico com seus inerentes efeitos sociais. Sempre ouvimos falar que o Brasil é um pais pacífico, mas as estatísticas dizem o contrário. O Brasil é, ou tem se tornado, um país violento. Em 2016, foram registrados 511 mil assassinatos no mundo, 56 mil apenas no Brasil. Se o Estado de Alagoas fosse uma nação, seria a segunda nação mais violenta do mundo.
O que está levando o Brasil a este caos? Trazendo esta “desordem mental sociológica”? A esta sensação de Estado sem lei e poder paralelo? Como responder a esta angústia social que aos poucos tem transformado o tema da segurança pública na questão principal da politica, quando deveríamos estar investindo recursos e planejamento em educação e saúde?
A “teoria das janelas quebradas”, parece se aplicar ao contexto brasileiro. A lógica é a seguinte: Uma rua suja estimula outras pessoas a jogarem lixo no chão; um lote baldio cheio de entulhos, motiva o vizinho a jogar ali o seu lixo; regiões depredadas e sujas, atraem a marginalidade. O abandono do centro de São Paulo com casarões abandonados e grafitados, atrai viciados em droga e criou um lixão conhecido como Cracolândia, um inferno no meio da cidade, com todas as suas vilezas e desumanização.
Cidades limpas encorajam a ordem, a disciplina, o bem estar. Ambientes violentos geram violência. Um abismo sempre chama outro abismo.
Nos tempos bíblicos há um registro lacônico: Quando o Estado teocrático deixou de ser governado pelos profetas e ainda não havia sido estabelecido a monarquia, criou-se um vácuo de liderança, e a Bíblia registra: “Naqueles dias não havia rei em Israel, cada um fazia o que queria”. A ausência do estado, gerou uma situação de caos.
Assim acontece hoje. A falta de modelos de liderança, abuso de poder, malversação das coisas públicas, leva os cidadãos a se considerarem no direito de estabelecer sua própria lei.
O drama da cidade de Vitória reflete a liderança inescrupulosa e casuísta de um Estado sem autoridade. Mentes adoecidas reproduzem o modelo corrupto, que na sua essência é também violento, seguindo o padrão das janelas quebradas. A lógica é: Se há corrupção generalizada, então posso participar deste “ethos”. Se sou violentado, posso violentar, se a rua está suja, posso atirar minha latinha de refrigerante no chão. Para mentes deformadas, se tudo está ruim, estou pronto a colaborar para o caos. É neste contexto que surge a “desordem mental sociológica”.
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