sábado, 8 de novembro de 2025

A arte de discordar sem se afastar

Vivemos tempos em que discordar virou motivo de rompimento.
Amigos se afastam, famílias se dividem e colegas deixam de se falar por causa de opiniões diferentes — principalmente políticas.
O diálogo foi trocado por ataques, e o respeito, por silêncio ou cancelamento.
Mas será que precisa ser assim?

Existe uma frase famosa atribuída a Evelyn Beatrice Hall que diz:

“Posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até o fim o seu direito de dizer.”

Essa é uma das frases mais inteligentes que alguém já escreveu sobre convivência.
Ela separa a ideia da pessoa.
Em outras palavras: “Eu posso discordar do que você pensa, mas continuo respeitando quem você é.”
Isso é maturidade. É entender que pensar diferente não é ser inimigo.
É reconhecer que a liberdade de expressão vale mais do que o meu orgulho de estar certo.

Quando alguém consegue discordar sem desrespeitar, mostra grandeza de espírito.
Demonstra que sabe ouvir, ponderar e aceitar que o mundo é melhor quando há diferentes vozes — mesmo quando algumas desafiam as nossas certezas.
Num tempo em que tanta gente tenta calar o outro, essa frase é um chamado urgente à empatia e ao diálogo.

Concordar em discordar: o segredo da convivência

Quando dizemos “vamos concordar em discordar”, o que estamos dizendo é:
“Olha, nós pensamos diferente, mas a nossa amizade vale mais do que essa discussão.”
Isso é respeito.
É saber o momento de parar a briga e preservar o vínculo.
É admitir que a persuasão falhou, mas a consideração permanece.
É escolher a paz em vez da vaidade.

Porque, no fim, a diferença de opinião não precisa ser uma ameaça.
Ela pode ser apenas uma expressão natural da liberdade — o que mantém viva a beleza da convivência.
A diversidade de pensamento é o que nos faz crescer, aprender e olhar o mundo com outros olhos.

Quando não conseguimos discordar sem brigar

O problema começa quando alguém não aceita o direito do outro de pensar diferente.
A conversa deixa de ser diálogo e vira guerra.
A pessoa não discorda da sua ideia — passa a duvidar da sua moral, da sua fé ou da sua inteligência.
Aí não há mais troca, há desumanização.

Esse é o terreno da polarização: cada grupo fechado em sua bolha, ouvindo apenas quem pensa igual.
São as “câmaras de eco” — onde ninguém aprende nada novo e todo mundo sai mais intolerante.
Quando isso acontece, a convivência se perde.
As relações se tornam frágeis, e a amizade vira refém da concordância:
“Eu só convivo com você se você pensar como eu.”

Mas isso não é amizade, é controle.
E o resultado é previsível: ressentimento, afastamento e solidão.
Quando o problema deixa de ser a ideia e passa a ser a pessoa, a honestidade morre, e o relacionamento vira uma formalidade fria.

A sabedoria cristã da convivência

Há um princípio antigo, nascido dentro da tradição cristã, que resume tudo isso com uma sabedoria impressionante:

“In necessariis unitas, in dubiis libertas, in omnibus caritas.”
(Nas coisas essenciais, unidade; nas duvidosas, liberdade; em todas as coisas, amor.)

Essa é a chave da convivência saudável:

  • Unidade nas verdades que sustentam a fé.

  • Liberdade nas questões que são secundárias.

  • Amor em tudo o que fazemos.

Se aplicássemos esse princípio nas conversas do dia a dia — nas redes sociais, nas famílias, nas igrejas e na política — teríamos menos brigas e mais pontes.
Porque o amor não exige concordância, exige respeito.
E o respeito é o solo onde a paz cresce.

Para refletir:

Talvez a grande prova de maturidade hoje não seja vencer um debate, mas continuar amando quem pensa diferente.
Concordar em discordar é o primeiro passo para reconstruir a civilidade que o mundo perdeu.

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